Paulo Ricardo canta para garotas de programa e seus clientes no Ipiranga
Ao som de hits como <em>Loiras Geladas,</em> vocalista do RPM ganha aplausos de frequentadores cinquentões e gritos de "tira a roupa!" das profissionais de 20 e poucos anos
¨E o Paulo Ricardo que não chega nunca?¨, comentou na última quinta (18) um frequentador da Scandallo Lounge, conhecida casa noturna da capital. Com restaurante, varanda com churrasqueira e bar com muitas e boas opções, o lugar passaria facilmente por uma danceteria qualquer. Trata-se, porém, do maior concorrente do Bahamas e do Café Photo: uma casa frequentada por garotas de programa e homens em busca de seus serviços.
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Levar artistas famosos tem sido uma estratégia de divulgação da boate, que hospeda um espetáculo musical a cada mês. O site oficial da casa anuncia que já passaram por lá os pagodeiros do Raça Negra, a dupla sertaneja Fernando & Sorocaba e o rapper americano Ja Rule. “Eu sabia que ia ser bom, mas não tanto”, aprovou Paulo Ricardo, diante da plateia de cerca de cem homens – e um número um pouco maior de mulheres. Em julho é a vez do sambista Jorge Aragão.
Aos detalhes:
PREÇOS DA NOITE
Entrada para ver o show: 250 reais.
Garrafinha de água mineral: 20 reais.
Long Neck Stella Artois: 35 reais
Sexo: entre 500 e 600 reais a hora, a depender do combinado com a garota.
Quarto no hotel anexo: 150 reais
Garrafa de uísque Blue Label (3 litros): 5 200 reais
Ver Paulo Ricardo dizendo no palco “Devo confessar que nunca toquei para uma plateia tão bonita e sexy”… Não há cartão de crédito que pague.
NA PISTA
Ao contrário do que o nome faz supor, a Scandallo tem uma mecânica relativamente discreta. Quem chega até lá para ver o show ou beber algo não é abordado pelas profissionais. Apenas quando o homem faz contato é que elas se aproximam.
A maioria do público da casa tem, pelo menos, a idade de Paulo Ricardo (52 anos). Uns 30% dos frequentadores, menos de 35 anos. Todos, em geral, bem vestidos, com camisas e camisetas polo de marca, como se estivessem em uma balada comum. O mesmo para as mulheres: a profissão passaria batida em uma balada sertaneja. Usam saias curtas, decotes, barrigas de fora e têm, no geral, na casa de 20 a 25 anos. A cada cinco, uma é mais mignon e quatro têm o corpo “panicat.”
O SHOW
Carioca adotado há muitos anos por São Paulo, Paulo Ricardo iniciou ali a turnê Acoustic Live. Ao lado de Guto Marcondes (guitarra), J. Rezende (teclado), Guga Machado (percussão) e mais um contrabaixista, empolgou o público da casa – em torno de 200 pessoas – com covers e sucessos da carreira.
Era verdade, ele estava atrasado. Inicialmente divulgado para as 23h30, o show só foi começar por volta da 1h30, mas ninguém parecia ligar muito para a demora. Precedida por muitas trocas de olhares e conversas animadas e sinceras entre os frequentadores do local, a apresentação foi recebida de maneira calorosa ao som de Je T’Aime… Moi Non Plus, dos franceses Serge Gainsbourg e Jane Birkin. Puro bom gosto.
“Estou muito feliz de estar aqui hoje”, comentou o músico depois de abrir a noite com Tonight’s The Night (Gonna Be Alright), de Rod Stewart. “Fiquei ainda mais contente depois de ver que a notícia da minha vinda à Scandallo foi divulgada pela VEJA SÃO PAULO”, brincou.
Conforme a noite avança, algumas mulheres encontram seus pares. Aos poucos, se vê um ou outro derrière, ao levantar das saias pela mão boba dos clientes.
As profissionais que não arranjaram trabalho na noite se enfileram à frente do palco a fim de tietar o cantor. “Tira a roupa!”, gritavam.
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REPERTÓRIO
A seleção se mostrou cirurgicamente precisa. Afinal, o músico escolheu alguns dos intérpretes mais lascivos da história da música pop. Estiveram presentes no programa desde o já citado Stewart até James Brown, passando por INXS, George Michael, Queen e Prince, além de diversas canções dos Rolling Stones (é claro). Apenas Fire and Rain, de James Taylor, pareceu fora do lugar.
“Agora, vamos tocar uma de Mr. Robert Zimmerman, ou melhor, de Bob Dylan.” Foi a deixa para o começo da versão do clássico Like a Rolling Stone, presente no disco Highway 61 Revisited, de 1965. No momento, Paulo Ricardo exibiu um dos seus dotes menos explorados no trabalho autoral, que é o de tocar gaita com muita desenvoltura. Não houve microfonia ou playback.
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Depois de uma hora de show, a banda deixou o palco, mas não demorou muito a voltar depois dos numerosos pedidos de bis (na maioria, femininos). Foi o momento das músicas próprias. “Essa é a parte em que a gente tem que tocar Paralamas (do Sucesso)”, riu. “Digo, RPM.” O novo apresentador do SuperStar apostou em Loiras Geladas e Rádio Pirata para animar o público, faixas que tiveram as letras respectivamente alteradas para “Na madrugada/ aqui na Scandallo” e “Que está no ar… Aqui na Scandallo”.
“Estou tão feliz que vou até pedir um Jack Daniel’s, nossos aplausos para o Maia”, gracejou o cantor com o garçom. “Vamos rezar para que ele não caia.” Por fim, atendendo ao clamor da plateia, veio Olhar 43, tocada em versão mais lenta. “A gente não podia deixar vocês sem aquele olhar.” Nem precisava. A conquista ali passa por outros caminhos.
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