Parada Gay 2013 foi marcada pela chuva e o tom político
A cantora Daniela Mercury foi a principal atração. Ellen Oléria e Mariane de Castro encerraram a programação com shows na Praça da República
A 17ª edição da Parada LGBT foi marcada por um dia chuvoso e cheio de discursos políticos. Os participantes começaram a se reunir às 10h em frente ao Masp, na Avenida Paulista, e deram início à marcha rumo ao centro às 12h. Por volta das 16h, os dezesseis trios elétricos já desciam a Rua da Consolação. A programação terminou na Praça da República com show da cantora Ellen Oléria, vencedora do reallity The Voice, transmitido pela Rede Globo. Antes, às 19h, apresentou-se a baiana Mariene de Castro, que subiu ao palco com meia hora de atraso.
Para o presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT, Fernando Quaresma, nem a chuva espantou o publico nesta que, segundo ele, foi a melhor Parada Gay da história. “Mais uma vitória do movimento”, disse. O público, entretanto, foi menor que o do ano passado. Segundo estimativa do comandante geral da Polícia Militar, Benedito Meira, cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram do evento, pouco mais de um terço dos presentes em 2012. Já pesquisa Datafolha indica que o evento teve 220 mil participantes, contra 270 mil no ano anterior.
Diferente do que havia sido informado, 2 200 policiais fizeram a segurança do evento (leia mais AQUI). Questionado sobre um possível arrastão na Praça Roosevelt, às 16h, Meira negou a informação. “Se realmente aconteceu, nenhuma vítima comunicou a PM”. Para o comandante, a tranqüilidade da parada se deve ao perfil do próprio evento. “O público vem para se divertir.”
Até as 20h, porém, algumas ocorrências foram registradas, conforme divulgou a Polícia Militar: 2 179 pessoas abordadas pela polícia; dois flagrantes, sendo um por tentativa de furto; seis registros de pessoas urinando nas ruas; 132 pessoas conduzidas ao posto médico; 1 837 bebidas alcoólicas apreendidas e seis indivíduos levados para delegacias.
DANIELA MERCURY
Principal atração do evento, Daniela Mercury inciou o show, que estava marcado para as 13h, com duas horas de atraso. Nem a longa espera, nem o frio desanimaram o público, que vibrou ao som de O Canto da Cidade logo na abertura. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o carro da cantora foi barrado por ser maior do que o permitido — teria 4,8 metros contra os 4,5 metros aceitos. Com isso, a organização do evento precisou improvisar a apresentação de Daniela no veículo da Secretaria de Turismo da Bahia e a quantidade de trios elétricos baixou de dezessete para dezesseis.
O show terminou pouco antes da 17h com um bis de O Canto da Cidade e o Hino Nacional. Antes de se despedir, a cantora fez um discurso contra o deputado federal e pastor Marco Feliciano, que levou à Câmara o projeto de “Cura Gay”. “Se a gente não for à rua dizer que não queremos uma pessoa como essa na Comissão de Direitos Humanos, ela não vai sair de lá”, disse. “Usem o poder que vocês têm como cidadãos e saiam do armário. Por que vocês aí não se beijam na rua?”, perguntou. Em abril, a musa do carnaval baiano anunciou o casamento com a jornalista Malu Verçosa e tornou-se uma espécie de ícone da luta contra a homofobia.
MANIFESTAÇÕES POLÍTICAS
As manifestações políticas permearam todo o evento. “Nos resta marchar contra os homofóbicos que estão no poder”, disse Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho Gay, na saída do primeiro trio elétrico. Ao seu lado, estavam o deputado federal Jean Wyllys, a ministra da Cultura Marta Suplicy e do prefeito Fernando Haddad.
“Existe amor em São Paulo e no Brasil. Vamos resgatar os direitos individuais”, gritou Haddad. Marta, a mais aplaudida naquele momento, falou sobre a necessidade de ser mais forte do que o preconceito. O governador Geraldo Alckmin e a vice-prefeita Nádia Campeão ficaram no camarote do evento.
Na coletiva de imprensa antes do início da manifestação, organizadores e autoridades falaram sobre a garantia de direitos e contra a violência homofóbica. Quaresma citou a recente decição do Conselho Nacional de Justiça de regulamentar o casamento gay. “Enquanto o Judiciário faz justiça, o Congresso faz injustiça”, disse. “Numa sociedade onde o conservadorismo urra, precisamos ser fortes na nossa luta.”
Durante a coletiva, Marta lembrou a presença do deputado federal e pastor Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos. “Atingimos o ápice da falta de respeito à comunidade e aos direitos humanos. É acinte uma pessoa com discurso homofóbico assumir a Comissão de direitos Humanos.” O último carro a desfilar fará um protesto contra o Feliciano.
Para Jean Willys, a Parada é uma batalha pela estima social. “É sim uma festa e tem a nossa cara. Mas é também um movimento de reivindicação e visibilidade.” Tanto Haddad quanto Alckmin garantiram que trabalharam juntos para garantir a segurança durante o evento. “A riqueza de São Paulo é a sua diversidade”, disse o governador.