Ministério Público abre inquérito para apurar racismo em balada
Criada no último sábado (1º), a página do Facebook Boicote ao Villa Mix denuncia casos de discriminação na casa noturna e já tem mais de 13 000 curtidas
“Você pode conseguir cinco cinco entradas VIP?”
“As garotas são bonitas?”
“Que diferença faz?”
“Toda. Se não for, não ganha VIP”
Este é um dos exemplos de diálogo que aparecem na página do Facebook Boicote ao Villa Mix, supostamente ocorrida entre uma cliente e um dos promoters da badalada casa noturna da Vila Olímpia. Criado no sábado (1º), o perfil já tem mais de 13 000 curtidas e compila relatos de frequentadores que teriam sido discriminados na entrada da balada sertaneja.
“Resolvemos abrir este espaço após nos depararmos com dezenas de denúncias de pessoas próximas”, diz a estudante Luísa Manzin, de 18 anos, uma das dez administradoras do perfil. “Em pouco tempo levantamos mais de 500 casos.”
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Entre os depoimentos mais graves estão alguns relacionados a discriminação pela aparência ou cor da pele. Este tipo de situação ocorreria de forma velada, com os funcionários da portaria barrando pessoas que estariam com o nome na lista VIP, e justificando com motivos variados.
A página também reúne reproduções de supostas mensagens enviadas por funcionários da casa pelo WhatsApp. Nelas, eles revelam que a administração da casa teria como regra barrar a entrada de negros ou pessoas mal vestidas. Em outra conversa, há denúncia sobre uma hipotética cota para “pessoas feias” que o estabelecimento estipularia a cada noite.
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No perfil também há relatos de casos de violência física, como o de uma garota que teria sido agredida por seguranças dentro do banheiro da casa noturna.
A exposição do episódio levou o Villa Mix a entrar na mira do Ministério Público de São Paulo. Na terça (4), a promotora Beatriz Helena Bundin Fonseca, da 2º Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital, abriu inquérito civil para apurar a prática de discriminação racial, social e estética pelos sócios e funcionários da casa.
Segundo a representação, não é a primeira vez que a Promotoria recebe uma denúncia relacionada à balada na Zona Sul, daí a decisão de iniciar uma investigação mais profunda.
Por meio de nota, o Villa Mix diz considerar a iniciativa difamatória. “A casa afirma que é contra qualquer tipo de discriminação e não compactua, de forma alguma, com o que tem sido exposto na página.”
Em entrevista a VEJA SÃO PAULO.COM, o advogado Maurício Ozi defende que o tipo de abordagem citado nos relatos é calunioso. “O que costuma ocorrer é o estabelecimento lotar muito rápido e os promteres acabam sendo obrigados a barrar os clientes”, diz Ozi.
Ele ainda afirma que a diversidade étnica faz parte do próprio quadro de funcionários do espaço. “Eu conheço a maioria deles e nunca presenciei este tipo de comportamento”, explica.
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Denúncias relacionadas à Villa Mix são frequentes desde 2012 no site Reclame Aqui, plataforma que abre espaço para clientes avaliarem o serviço de empresas. São pelo menos 110 da filial da capital – existem outra em Brasília.
Delas, mais de 100 são referentes às situações em que uma pessoa é barrada na porta mesmo com o nome na lista VIP. Apenas 55 declarações tiveram respostas da casa, como “Lamentamos profundamente pelas situações e constrangimentos que passaram e nos comprometemos a analisar o ocorrido para não se repita.”
Essa frase vem sendo repetida pela administração do negócio há pelo menos três anos.