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O nome e o perfume

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 15h19 - Publicado em 17 jan 2014, 17h26

Tive três namoradas com o nome de Terezinha, assim, no diminutivo. Coincidência? Claro. Destino, superstições, bruxas e fadas são matérias de ficção. Admito, porém, que tenho uma, vamos dizer, história com esse nome, e com o que lhe deu origem, Teresa.

O bairro onde morei primeiro e por muitos anos chama-se Santa Teresa, em Belo Horizonte. Fui batizado e fiz a primeira comunhão na Igreja de Santa Teresa. O bonde que me dava um destino na cidade chamava-se Santa Teresa, e o time que arrancou meus primeiros gritos de “gol!” foi o… adivinharam. Em São Paulo, meu primeiro casamento aconteceu na Igreja de Santa Terezinha, em Higienópolis. Na viagem de núpcias, um dos melhores lugares foi a ilha grega de Santorini, no Mar Egeu, que os antigos chamavam de Thera, ou Thira.

Que significa um nome, pergunta o Romeu de Shakespeare a Julieta, se aquela que chamamos rosa teria igual perfume com qualquer outro nome? Alguém pode não saber: Teresa tem origem grega, quer dizer “a que vem da ilha de Thera”. Na forma arcaica, Therasia, era o nome da mulher do bispo São Paulino de Nola, no século V; também arcaica é a grafia Tareja, o nome da mãe do primeiro rei de Portugal; já com escrita moderna temos a santa espanhola Teresa de Ávila, do século XVI, e depois dela o nome ganhou o mundo; Thérèse de Lisieux, francesa do século XIX, veio a ser a Teresa do Menino Jesus, que, em Portugal, onde mais?, virou Terezinha. Chegamos aonde eu queria.

Minha primeira Terezinha era moça difícil de beijar. Eu fazia estágio como aspirante a oficial da reserva no 10º Regimento de Infantaria, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Um drama aguentar quartel, marchas a pé e motorizadas, acampamentos, exercícios de reconhecimento e medição de terreno, uma tolice em tempos de paz, amenizada pela doce Terezinha. O estágio durou três meses, o namoro menos. Moça, como disse, difícil de beijar. Mesmo depois de conseguir, era difícil recomeçar no dia seguinte, partíamos praticamente do zero. Ela trabalhava na tecelagem, onde se faziam meias, camisetas, roupas de malha. Cabelos pretos, pele muito clara e secreta, vislumbres de brancuras à luz da lua. Dei a ela, no fim do estágio, em despedida chorosa de parte a parte, um anel de pedra verde, esperança de voltar. Não voltei, querendo voltar. Juiz de Fora não fazia sentido no meu futuro.

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Ah! Antes tive alguma coisa com uma perturbadora Teresa, até escrevi um conto a respeito, Meio Covarde. Salto essa. Sem diminutivo, era fera devoradora, e estou falando aqui das suaves Terezinhas.

A segunda trabalhava com um amigo na área cultural de BH. Preta, delicada, suavíssima de voz, de pele, de intenções. Levou-me a conhecer a família, em casa gostosa de mangueiras. “Minha filha quer casar”, a mãe dela me disse quando surgiu o momento, como a prevenir ousadias, fraquezas. Eu já tinha um Fusca azul. Passeios à praia em remanso do Rio das Velhas, de antes da poluição, na vizinha Santa Luzia. “Aí não”, ela pedia. O luar pintava um cenário de obviedades acadêmicas.

A terceira, conheci na redação do jornal. Tinha namorado, e eu, mulher e filhas — um caso que não podia dar certo. Estamos juntos há 23 anos.

E-mail: ivan@abril.com.br

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