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“Destruído o trabalho de uma equipe gigantesca”, diz Bia Lessa

Cenógrafa dá depoimento sensível sobre história do Museu da Língua Portuguesa, consumido pelas chamas na segunda (21)

Por Veja São Paulo
Atualizado em 5 dez 2016, 11h47 - Publicado em 22 dez 2015, 14h32
Bialessa
Bialessa (Maurício Melo/Contigo/)
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Em 21 de março de 2006, a exposição Grande Sertão: Veredas inaugurou a ala de exposições temporárias do Museu da Língua Portuguesa, destruído pelas chamadas na tarde desta segunda-feira (21).

A mostra se propunha a traduzir a obra-prima de Guimarães Rosa para uma linguagem interativa. Com resultado espetacular e de grande apelo popular, teve concepção geral e direção pelas mãos da arquiteta, cenógrafa e diretora teatral Bia Lessa. Abaixo, a convite de VEJA SÃO PAULO, ela dá seu depoimento sobre o dia em que o museu foi consumido pelas chamas.

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Lutei muito para que o Museu da Língua Portuguesa tivesse em seu título “museu”. Muitas eram as ideias, ótimas todas, mas eu achava que era fundamental carregar no nome daquele trabalho tão inusitado e ousado o título de museu. Uma nova referência, onde a obra apresentada para o público não era um quadro de um grande pintor, uma escultura, um objeto que merecesse ser visto por todos – os objetos ali expostos eram abstraídos, tinham um movimento constante e carregavam dentro de si uma infinidade de movimentos culturais, históricos, etc – a língua portuguesa através de sua construção, de sua genealogia, através dos sotaques variados e da beleza e complexidade de suas infinitas formas.

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Na segunda-feira, no meu primeiro dia de férias, sou surpreendida por essa notícia impactante. Destruído todo o museu, destruído o trabalho de uma equipe gigantesca, destruído um dos museus mais emblemáticos da nova leva de museus construídos nos últimos anos no Brasil. Podia se ver a potência das chamas a lamber os diferentes espaços do museu e se encaminhar para a Estação da Luz., referência da história da cidade, espaço por onde são transportados grande parte da população da capital. Um lugar especialmente rico pela diversidade de pessoas que circulam diariamente, a caminho da casa, do trabalho, do lazer. Nos meses dedicados à finalização do Museu da Língua Portuguesa, eu me encantava com aquele ambiente, e me encanta mais ainda com a escolha do Museu da Língua Portuguesa, dentro de uma estação de trem – um lugar onde os sotaques estão em permanente diálogo, onde as gerações se encontram, onde São Paulo reflete todo o país. Por essa razão a escolha da Estação da Luz para sediar o museu guardião da língua portuguesa, me parecia extraordinária. O prédio, sua importância para marcar toda aquela região, com seu relógio que contava o tempo das lojas, das pensões, dos botequins e restaurantes, das prostitutas, dos homens de negócio, dos estudantes – todos ali abraçados por aquela edificação. Esse amor pelo construção do museu se concretizou quando decidi que usaria os tijolos, as tábuas, os pregos, a terra para através deles apresentar a obra de Guimarães Rosa. Hoje esses tijolos, essas tábuas viraram cinzas.

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