“Destruído o trabalho de uma equipe gigantesca”, diz Bia Lessa
Cenógrafa dá depoimento sensível sobre história do Museu da Língua Portuguesa, consumido pelas chamas na segunda (21)
![Bialessa](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9881_bialessa.jpeg?quality=70&strip=info&w=811&h=455&crop=1)
![Prédio em chamas na tarde desta segunda-feira (21) Prédio em chamas na tarde desta segunda-feira (21)](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9857_incendioluz.jpeg?quality=70&strip=info&w=460&w=636)
![Fachada do prédio em 2012: cartão-postal paulistano Fachada do prédio em 2012: cartão-postal paulistano](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9858_museu-da-lingua-portuguesa.jpeg?quality=70&strip=info&w=700&w=636)
![Imagem diurna do edifício, um dos mais importantes do centro Imagem diurna do edifício, um dos mais importantes do centro](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9859_museu-da-lingua-bia-parreiras-em-alta.jpeg?quality=70&strip=info&w=540&w=636)
!["Grande Sertão: Veredas", uma das principais exposições temporárias "Grande Sertão: Veredas", uma das principais exposições temporárias](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9860_grandesertao.jpeg?quality=70&strip=info&w=620&w=636)
![Praça da Língua, uma das principais atrações do espaço Praça da Língua, uma das principais atrações do espaço](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9861_pracadalingua.jpeg?quality=70&strip=info&w=400&w=636)
![Exposição "Cazuza, mostra sua cara": simulação dos pensamentos do músico por meio de luzes e sons Exposição "Cazuza, mostra sua cara": simulação dos pensamentos do músico por meio de luzes e sons](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9862_lo3d0240.jpeg?quality=70&strip=info&w=920&w=636)
![Tênis original de Cazuza vindo direto do acervo pessoal conservado por sua mãe Tênis original de Cazuza vindo direto do acervo pessoal conservado por sua mãe](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9863_lo3d0137.jpeg?quality=70&strip=info&w=920&w=636)
![O espaço: um dos museus pioneiros em uso de tecnologia no Brasil O espaço: um dos museus pioneiros em uso de tecnologia no Brasil](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/9864_museu-da-lingua-portuguesa-2-bia-parreiras.jpeg?quality=70&strip=info&w=922&w=636)
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Em 21 de março de 2006, a exposição Grande Sertão: Veredas inaugurou a ala de exposições temporárias do Museu da Língua Portuguesa, destruído pelas chamadas na tarde desta segunda-feira (21).
A mostra se propunha a traduzir a obra-prima de Guimarães Rosa para uma linguagem interativa. Com resultado espetacular e de grande apelo popular, teve concepção geral e direção pelas mãos da arquiteta, cenógrafa e diretora teatral Bia Lessa. Abaixo, a convite de VEJA SÃO PAULO, ela dá seu depoimento sobre o dia em que o museu foi consumido pelas chamas.
+ Troca de luminária pode ter causado incêndio do museu
Lutei muito para que o Museu da Língua Portuguesa tivesse em seu título “museu”. Muitas eram as ideias, ótimas todas, mas eu achava que era fundamental carregar no nome daquele trabalho tão inusitado e ousado o título de museu. Uma nova referência, onde a obra apresentada para o público não era um quadro de um grande pintor, uma escultura, um objeto que merecesse ser visto por todos – os objetos ali expostos eram abstraídos, tinham um movimento constante e carregavam dentro de si uma infinidade de movimentos culturais, históricos, etc – a língua portuguesa através de sua construção, de sua genealogia, através dos sotaques variados e da beleza e complexidade de suas infinitas formas.
Na segunda-feira, no meu primeiro dia de férias, sou surpreendida por essa notícia impactante. Destruído todo o museu, destruído o trabalho de uma equipe gigantesca, destruído um dos museus mais emblemáticos da nova leva de museus construídos nos últimos anos no Brasil. Podia se ver a potência das chamas a lamber os diferentes espaços do museu e se encaminhar para a Estação da Luz., referência da história da cidade, espaço por onde são transportados grande parte da população da capital. Um lugar especialmente rico pela diversidade de pessoas que circulam diariamente, a caminho da casa, do trabalho, do lazer. Nos meses dedicados à finalização do Museu da Língua Portuguesa, eu me encantava com aquele ambiente, e me encanta mais ainda com a escolha do Museu da Língua Portuguesa, dentro de uma estação de trem – um lugar onde os sotaques estão em permanente diálogo, onde as gerações se encontram, onde São Paulo reflete todo o país. Por essa razão a escolha da Estação da Luz para sediar o museu guardião da língua portuguesa, me parecia extraordinária. O prédio, sua importância para marcar toda aquela região, com seu relógio que contava o tempo das lojas, das pensões, dos botequins e restaurantes, das prostitutas, dos homens de negócio, dos estudantes – todos ali abraçados por aquela edificação. Esse amor pelo construção do museu se concretizou quando decidi que usaria os tijolos, as tábuas, os pregos, a terra para através deles apresentar a obra de Guimarães Rosa. Hoje esses tijolos, essas tábuas viraram cinzas.
Fogo é também luz: Estação da luz. O que terá significado tudo isso? Minha tristeza é enorme… Luz e cinzas