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Marcha da Família quer “salvar Brasil do comunismo”

Cerca de 1.000 pessoas se reuniram na Praça da República e seguiram em direção à Sé, onde houve confusão. Quatro foram detidos

Por Nataly Costa
Atualizado em 1 jun 2017, 17h23 - Publicado em 22 mar 2014, 17h41

Cerca de 1 000 pessoas caminharam pelo centro, na tarde deste sábado (22), para a Marcha da Família com Deus — uma reedição do mesmo protesto que ocorreu em 19 de março 1964, dias antes do golpe militar. A manifestação começou às 15 horas na Praça da República e terminou em frente à Igreja da Sé com confusão: uma mulher portando uma lata de spray tentava pichar a faixa de um dos manifestantes e foi agredida. Houve correria e o tumulto acabou dentro de uma farmácia, onde essa mulher foi detida por “crime ambiental”. Na briga, outros três homens foram detidos e levados ao 8ª DP.

Ainda na República, a manifestação era liderada por um grupo que fazia longos discursos em cima de um ônibus preto, que seguiu o protesto tocando o hino nacional em diferentes ritmos – de forró a reggaeton. Além de gritar palavras de ordem contra o PT, a liderança do protesto enaltecia os militares e alertava os presentes contra o perigo do comunismo que estaria em plena implementação no país. O único civil festejado era o presidente do Supremo Tribunal Federal. “Poucos estão vendo o que acontece hoje. Por isso temos que homenagear homens de coragem como Joaquim Barbosa”, disse um professor, provocando o delírio dos espectadores, que explodiram em palmas. Em vários momentos do percurso, a PM também foi aplaudida. 

Aos 70 anos, a aposentada Maria Lucia Paiva sentia um misto de saudade e arrependimento. “Marchei contra os militares na ditadura e hoje estou aqui pela volta deles. Naquela época não se matava tanto”, contou, confessando depois que votou em Lula duas vezes para presidente. “Mas tenho vergonha disso.”

O analista de sistemas Adrian Poli, de 43 anos, explicou porque quer a volta dos militares ao poder. “Não adianta querer mudança pelo voto porque as urnas são fraudadas. A única saída é o extremismo”, diz. “Acompanho tudo que acontece no Brasil pelo Facebook, sou muito bem informado.” A urna eletrônica parecia uma questão latente no protesto: diversos cartazes pediam a volta do voto de papel usando o exemplo do Paraguai, onde esse tipo de equipamento foi abolido. 

Protesto na Marcha da Família
Protesto na Marcha da Família ()

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Os anseios dos manifestantes, porém, não convergiam o tempo todo. Minutos depois de relembrar com saudosismo os tempos da ditadura, um dos líderes do grupo ainda discursava quando ouviu vaias de um “opositor” que caminhava pela Praça da República. Sem titubear, atropelou a lógica. “Gente, não queremos confusão. Pode vir todo mundo, esse protesto é democrático!” Alguns também se diziam contra o militarismo, como a publicitária Camilla Borges, de 23 anos. “O que precisamos é de um governo de direita que nos livre desse mal que é comunismo gramsciano imposto no Brasil. Queremos liberdade de mercado, sem protecionismo e intervenção”. 

Durante o percurso, era comum ouvir vaias e confrontos verbais em cada esquina – a professora universitária Karine Damaz esfregou um cartaz com fotos de desaparecidos políticos na cara de uma senhora que cantava o hino enrolada na bandeira. “Estou tremendo de ódio. Ela não conhece a história do próprio país”, disse Karine. Os manifestantes se exaltavam a cada manifestação de desprezo pela causa. Um deles ameaçou bater em uma mulher que gritava “fascistas”. Outros empurraram uma jovem que os chamou de “coxinha” e “reaça” e foram agredidos de volta.

Os pesquisadores João e Pedro (que não deram sobrenome) estavam vestidos de mulher e foram agredidos por skinheads com chutes nas pernas e nas costas, aos gritos de “Vai para Cuba!”. Depois da agressão, um homem com uma camisa do Exército, que não quis se identificar, contava sem pudor que “chamou os carecas para bater no pessoal vestido de mulherzinha”. A polícia não presenciou a briga.

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