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Juliana Rojas: ela bate ponto em Cannes

Cineasta tem seu quarto filme exibido no festival. Em entrevista, ela fala sobre novo filme, “O Duplo”, e a polêmica de Paulínia

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 17h10 - Publicado em 14 Maio 2012, 16h59

É a quarta vez que a paulistana Juliana Rojas exibe um filme no Festival de Cannes, cuja 65ª edição começa nesta na quarta-feira (16). Depois de “O Lençol Branco” (2004), “Um Ramo” (2007), e “Trabalhar Cansa” (2011), co-dirigido com Marco Dutra, com quem trabalha desde os tempos da faculdade de cinema na Escola de Comunicações e Artes da USP, é a vez de “O Duplo”, curta-metragem estrelado por Sabrina Greve e Gilda Nomacce, também colaboradora de longa data de Juliana.

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De Paris, onde trabalha em um roteiro dentro de um programa de residência de Cannes, Juliana falou à VEJINHA.COM sobre seu novo filme, projetos futuros e a decepção com o cancelamento do Festival de Paulínia.

VEJA SÃO PAULO — “O Duplo” será seu quarto filme a ser exibido no Festival de Cannes. De onde vem tanto reconhecimento?
Juliana Rojas
— Não saberia avaliar o motivo desses filmes terem sido selecionados. Percebo que todos eles têm em comum as protagonistas femininas num universo de classe média urbana, mas que se desenvolvem de maneira muito diferente em cada gênero. Eles também têm elementos de cinema de gênero muito fortes na narrativa. O mais interessante é que os filmes foram para  mostras diferentes (Cinéfoundation, Um Certo Olhar e Semana da Crítica).

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VEJA SÃO PAULO — Quais são as suas inspirações na hora de escrever um roteiro e dirigir um filme?

Juliana Rojas — A faísca para criar o roteiro geralmente parte de observações do cotidiano: um relato, a conversa de algum desconhecido, uma notícia de jornal… A vida é cheia de contradições e, se você a observar com o devido distanciamento, vai perceber que é repleta de ironia. E, na hora de filmar, acho que a maior empolgação vem do trabalho com os atores. O trabalho deles revela outros aspectos do roteiro que permitem aprofundar as cenas.

VEJA SÃO PAULO — Qual é o tema de “O Duplo”? Ele segue por uma vertente de crítica social como “Trabalhar Cansa” ou é um filme intimista?
Juliana Rojas —
“O Duplo” é inspirado no mito de Doppelganger, um ser sobrenatural que representa a parte negativa de uma pessoa. O filme narra a história de uma professora do ensino fundamental que, certo dia, avista seu duplo em frente à escola onde trabalha. Ao se deparar com esse acontecimento perturbador, ela vê aflorar instintos de violência e sexualidade.

VEJA SÃO PAULO — A atriz Gilda Nomacce é uma colaboradora frequente de seus filmes e também está em “O Duplo”. Como é a relação entre vocês duas?
Juliana Rojas —
Esta é a quinta vez que Gilda atua em um filme meu. Eu a conheço desde 2007, quando ela fez “Um Ramo”. A cada filme que fazemos, me surpreendo mais com sua força criativa. É uma atriz que se entrega de um jeito muito livre a um papel e que tem uma capacidade de improvisação impressionante. Ela me apresentou a Sabrina Greve e foi através das duas que conheci a Majeca Angelucci, que faz o papel da diretora da escola. Acredito que a intimidade entre as três atrizes foi muito importante para o filme.

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VEJA SÃO PAULO — Você se alterna entre trabalhos solo e colaborações com Marco Dutra. Como é trabalhar com ele?
Juliana Rojas —
Conheço o Marco há mais de 13 anos, na faculdade, e, desde aquela época, intercalo projetos sozinha com parcerias com ele. Este é o quinto filme em que faço o roteiro e a direção sozinha. Isso acontece porque alguns projetos temos vontade de fazer juntos, outros não. Tanto ele quanto o Caetano Gotardo são muito presentes na minha vida, são interlocutores muito importantes no meu trabalho. Mesmo quando não fazem parte da equipe, os dois são sempre os primeiros a ler o roteiro ou ver a montagem do filme.

VEJA SÃO PAULO — Você já recebeu convites para dirigir filmes em outros países?
Juliana Rojas —
Nunca recebi um convite para dirigir um filme, mesmo no Brasil. Todos os projetos que fiz partiram de roteiros próprios. Como projeto pessoal, ainda prefiro filmar no Brasil. O tipo de história que penso está muito relacionada com minha vivência no país, sobretudo em São Paulo. Se fosse convidada para um projeto no exterior e achasse possível realizá-lo com sinceridade, certamente aceitaria.


VEJA SÃO PAULO  — Quais são seus próximos projetos no cinema?
Juliana Rojas —
Uma outra parceria com o Marco Dutra, na direção e no roteiro. Chama-se “As Boas Maneiras” e é uma produção da Dezenove Som e Imagens, a mesma de “Trabalhar Cansa”. O projeto foi escolhido para ter o roteiro desenvolvido dentro do programa de residência do Festival de Cannes. Estamos em fase de captação, aguardando o resultado dos editais para poder dar início à produção. Também tenho dois projetos de baixo orçamento em fase desenvolvimento. Um se chama “Cidade; Campo” e conta duas histórias de migração. O outro tem o título provisório de “Wild Track”, é mais experimental e fala da minha relação com as atrizes com que eu trabalho.

VEJA SÃO PAULO — Como você encarou o recente cancelamento do Festival de Paulínia?
Juliana Rojas —
Considero o cancelamento um ato precipitado e irresponsável. Tanto no Festival quanto no projeto do Pólo Cinematográfico, é possível apontar contradições e excessos, mas interromper bruscamente esse trabalho me parece um desperdício de todo o investimento que foi feito. O Festival de Paulínia estava se consolidando como um dos eventos mais importantes de cinema no Brasil. A última edição teve uma presença maciça de público. O Pólo de Cinema também incentivou a produção de filmes que tiveram destaque no cinema nacional recente — tanto sucessos comerciais como “O Palhaço” e “Chico Xavier” quanto filmes que tiveram uma boa repercussão em festivais, como o “É Proibido Fumar”, de Anna Muylaert. Também incentivou filmes pequenos, de diretores estreantes, como o próprio “Trabalhar Cansa”.

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