Após a Copa, crise afeta o mercado de hostels em São Paulo
Passada a euforia do Mundial, cidade perde mais de vinte albergues. Os que ficam tentam diversificar a operação
Nos meses que antecederam a Copa de 2014, muitos empreendedores apostaram na construção ou na reforma de hostels na metrópole. Era um tipo de acomodação que vinha crescendo ano a ano, mas de repente explodiu. Em 2006, havia apenas cinco na cidade. Sete anos depois, o número aumentara para sessenta. Às vésperas da Copa, em junho do ano passado, a rede de hostels atingiu a marca de 100 estabelecimentos. A curtíssimo prazo, tudo parecia valer a pena: essas opções mais baratas chegaram a ter 100% de ocupação nos dias de partidas sediadas na capital. Esperavam-se por aqui cercade 390 000 turistas. Esse número acabou sendo 40% maior.
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Passada a empolgação inicial, porém, os donos de albergues enfrentam um jogo duríssimo, ao estilo da peleja histórica que terminou com o placar de 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal do torneio. Segundo a Associação de Hostels de São Paulo, 28 endereços tiraram o time de campo desde então, entre eles o Gol Backpackers, na Bela Vista, o Traipu, em Perdizes, e o Nahu, no Butantã. O aumento repentino da concorrência, somado à inexperiência de empresários em alguns casos, revelou-se fatal para o mercado. “Quando começamos, em 2012, tínhamos 70% dos leitos ocupados.
Neste último trimestre, passamos semanas com apenas cinco clientes”, diz Luciana França, sócia do Nahu, que fechou as portas em maio. Em um e-mail para anunciar a colegas do ramo que colocaria parte do mobiliário e enxoval à venda, ela se surpreendeu com as mensagens de resposta: muitos informaram que também estavam naquela situação, prestes a decretar falência. “Todo mundo teve a ideia de abrir um albergue ao mesmo tempo. A demanda não acompanhou”, lamenta Andréa Gattoni, dona do Traipu Eco Hostel.
Para Wilson Poit, presidente da SPTuris, a crise indica uma fase de amadurecimento. “Vejo grande semelhança com o boom na construção de hotéis no começo dos anos 2000 em São Paulo”, compara. “Os melhores sobrevivem no mercado.” Com o objetivo de evitar muitas novas baixas na área, a entidade pretende dedicar uma atenção especial aos hostels, com foco na profissionalização. O programa inclui cursos de capacitação dos administradores, oficinas, orientações e reuniões mensais com a categoria.
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De fato, a onda de fechamentos tem todo o jeito de seleção natural. Casarões com cara de república de estudantes tendem a dar lugar a ambientes com arquitetura arrojada, serviço mais atencioso e um cuidado maior na limpeza e na conservação. “Quem pensa que é só colocar uns beliches e vender as reservas está enganado”, afirma Guilherme Perez, dono do We Hostel, na Vila Mariana, e presidente da entidade que reúne os estabelecimentos do gênero na cidade.
Além disso, é preciso atender melhor um consumidor que mudou de perfil: se antes eram maioriaos estrangeiros de mochila nas costas, hoje 60% dos ocupantes dos quartos são brasileiros — uma boa parte, público típico de acomodações tradicionais que topa encarar um pouco menos de conforto para pagar menos. Por aqui, os albergues cobram uma diária média de 55 reais, contra 171 reais de um hotel econômico.
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Diversificar a operação parece ser outra regra em voga, sobretudo entre os empreendimentos recém-chegados. Aberto há seis meses na Vila Mariana, o Nômade in Arte e Hostel investe em apresentações de comédia stand-up e noites de jazz para atrair não-hóspedes. O Aki, no Paraíso, tem restaurante com cardápio de cervejas especiais e hambúrguer gourmet.