Estrangeiros ensinam inglês a alunos de favelas e bairros da periferia
Eles lecionam a língua pela escola 4YOU2, que cobra preços populares

Há cinco meses, o engenheiro Wesley Ford, de 22 anos, trocou o Tennessee, nos Estados Unidos, pelo andar superior de uma casa de família na região do Capão Redondo, na Zona Sul. Curte funk, música sertaneja e arrisca gírias como “tá ligado”. “Sempre simpatizei com o Brasil e surgiu uma oportunidade bacana de ficar mais tempo por aqui”, diz.
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Ele veio ao país por meio de um intercâmbio da 4YOU2. Os participantes do programa dão aulas de inglês em bairros carentes na periferia da cidade. Em troca, recebem uma bolsa-auxílio de cerca de 1 200 reais por mês. Não é necessário ser um docente com experiência. Os voluntários só precisam estar dispostos a passar por treinamento e cumprir uma jornada de 26 horas semanais. “É uma espécie de estágio”, compara o carioca Gustavo Fuga, 23, fundador da escola, pioneira em São Paulo nesse tipo de negócio.
A 4YOU2 existe desde 2012, mas teve um boom na procura no último ano. “Quase dobramos o número de matriculados”, diz Fuga, que contabiliza hoje 1 600 estudantes. A empresa vive das mensalidades (no caso, 79 reais, menos de um quarto do valor cobrado por uma escola convencional de idiomas). Um dos principais motivos do aumento é o mercado cada vez mais competitivo devido à crise.
“Saber inglês é um diferencial para conseguir emprego”, lembra Fuga. Para atender à demanda, ele acabou de abrir uma nova unidade no Jardim Trussardi, na Zona Oeste, e deve inaugurar outra em agosto no Jardim Pantanal, na Zona Leste. Assim, serão seis endereços — os demais funcionam em Heliópolis, Jardim Ângela, Campo Limpo e Capão Redondo, na Zona Sul. Em 2017, outras quatro devem entrar em operação.
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Cerca de 200 estrangeiros já vieram para cá desde o lançamento do projeto, provenientes de países como Estados Unidos, França e Rússia. Mais de vinte intercambistas encontram-se atualmente na metrópole, entre eles a americana Allie Cunningham, de 20 anos. Vinda da Universidade Harvard, ela começou a atuar no Jardim Trussardi, na Zona Oeste, onde ficará por dois meses. “É uma troca de experiências”, diz. “Eu ensino e também aprendo.”

Em seu primeiro dia de trabalho, ela descobriu como se pronuncia sobrancelha. “A gente acaba se forçando a entender para se comunicar com os professores, que não falam bem nosso idioma”, conta a estudante de direito Stephanie Dias, 18, moradora do Capão Redondo, que fez o curso do 4YOU2. “Agora que domino melhor a língua deles, tenho vontade de conhecer o mundo”, afirma Larissa Dias, 15, do Jardim São Luís, na Zona Sul. Filha de uma manicure e um vendedor, está há três anos no curso e teve aulas com viajantes indonésios e sírios.