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Eduardo Kobra ganha projeção internacional com painéis no exterior

O grafiteiro vive um paradoxo<strong> </strong>semelhante ao do artista Romero Britto. Enquanto é festejado lá fora, provoca narizes torcidos entre seus pares brasileiros

Por Fernando Masini
Atualizado em 5 dez 2016, 13h40 - Publicado em 26 dez 2014, 22h00

Com a criação de obras coloridas que imitam a arte pop e retratam figuras radiantes, Romero Britto, um pernambucano radicado em Miami, tornou-se um fenômeno de vendas, desde os anos 90, em meio a consumidores e, principalmente, celebridades. Já produziu quadros que foram comprados por Michael Jordan e Whitney Houston, entre outros. Apesar do sucesso, analistas brasileiros e estrangeiros questionam a qualidade estética do pintor, acusando-o de ser comercial em excesso, exagerando nas tintas bregas.

Algo semelhante ocorre agora com o grafiteiro Eduardo Kobra, de 39 anos. Ele vem conquistando projeção internacional depois de fazer mais de 500 muros em São Paulo. Nos últimos meses, os traços do artista nascido no bairro do Campo Limpo, na Zona Sul, estão se espalhando com velocidade por capitais fora do país. Quanto mais seu trabalho ganha mercado, mais gente torce o nariz para ele por aqui.

A convite da galeria Dorothy Circus, Kobra viajou a Roma em maio para inaugurar uma exposição composta de dez imagens de personalidades que lutaram pela paz no mundo. Como parte do projeto, ilustrou uma ativista na fachada do MAAM (Museo dell’Altro e dell’Altrove di Metropoliz). Ao longo de 2014, também marcou presença em outras nações da Europa e nos Estados Unidos. Na Suécia, prestou tributo ao químico Alfred Nobel, retratando-o com linhas e faixas coloridas. Mantendo o mesmo estilo, registrou o pianista Arthur Rubinstein na Polônia e Andy Warhol no Brooklyn, em Nova York.

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Para 2015, a ideia é expandir ainda mais as ações. Além de ter recebido convites para mostrar seu trabalho nas Ilhas Maurício, Índia, Bélgica e França, Kobra desenhou o rosto de Hillary Clinton —segundo ele, a pedido da campanha presidencial da americana, que deve concorrer à Casa Branca em 2016. O retrato, cujas cores predominantes são o vermelho e o azul, está pronto e aguarda por uma aprovação do comitê. A cooperação seria semelhante ao cartaz feito pelo grafiteiro Shepard Fairey, em 2008, em homenagem a Barack Obama.

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O entusiasmo mundo afora não se repete, porém, no cenário interno. Alguns grafiteiros renomados do país se recusam sequer a comentar a obra dele. A argumentação dos ataques começa pelos traços, que teriam problemas como falhas de perspectiva, e chegam à associação de seu nome a projetos com grandes empresas (ou seja, estaria “vendendo” a alma aos gigantes do capitalismo). Até o fato de pedir autorização às prefeituras antes de pintar algo é questionado (os artistas de rua “autênticos” agem na clandestinidade). Um dos nomes mais respeitados no meio em São Paulo, Binho Ribeiro não chega a classificar Kobra como grafiteiro.”Ele é um muralista, tem alguns acertos na carreira, mas não tem história com a pichação, usa o spray para fazer fotos.”

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Kobra rebate as críticas no mesmo tom. “Não sou hipócrita em relação ao dinheiro. Pinto uma favela ou qualquer outro local de graça, mas se alguém quiser comprar o meu trabalho eu agradeço.” Como argumento de defesa, afirma que ainda não viu nenhum colega jogando no lixo uma proposta vultosa. “A maioria dos artistas de rua atua com algum objetivo financeiro, de olho nas galerias.” Como se fosse necessário dar credibilidade a sua trajetória, Kobra costuma invocar o passado na periferia, destacando passagens como a prisão por pichação e os primeiros salários conquistados pintando brinquedos do extinto Playcenter, na década de 90.

A crescente penetração de seu nome fora do Brasil se deve em boa parte à parceria com um influente nome da arte urbana, o francês Thierry Guetta. Também conhecido como Mr. Brainwash, ele tem ajudado a impulsionar a carreira do paulistano no exterior por meio de contratos com agentes estrangeiros. Um painel encomendado a Kobra custa entre 80 000 e 100 000 reais. Nesse tipo de pedido, que exige em média de dez a trinta dias para ser realizado, o muralista conta com a ajuda de pelo menos dois auxiliares. No site pessoal, ele aumenta a receita vendendo gravuras a 3 400 reais. Fora das ruas, licenciou desenhos para marcas como a rede americana de lanchonetes McDonald’s e a francesa Perrier, elaborando estampas para os produtos.

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Quando não está no exterior, faz testes gráficos no estúdio localizado na Vila Madalena e passa a maior parte do tempo livre em seu apartamento na Avenida Paulista,com a esposa e os dois cachorros. “Estou muito feliz, pois é gratificante ver o trabalho reconhecido”, afirma ele, dando de ombros para a turma que o trata como se fosse o Romero Britto do grafite.

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