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Arte na estante

Um seleto grupo de editoras, que conta até com butiques próprias, disponibiliza um conteúdo visual inédito, embalado de forma inusitada e vendido em tiragens limitada

Por Tatiana Cesso, de Chicago
Atualizado em 5 dez 2016, 16h06 - Publicado em 20 abr 2013, 01h00

Na era do download, ter a discografia completa dos Beatles deixou de ser privilégio. Os fãs do quarteto inglês que sonham com algo exclusivo se embalam no livro Harry Benson: The Beatles on the Road 1964-1966. A obra traz fotos de bastidores da primeira turnê da banda nos Estados Unidos, além de shows na Europa, por meio das lentes do escocês Harry Benson, fotojornalista que trabalhou para as principais revistas do mundo. Da tiragem limitada a 1 764 exemplares, sai uma cota ainda mais seleta: 35 volumes, por 9 000 dólares cada um, apresentando seis imagens inéditas dos músicos em plena guerra de travesseiros no Hotel George V, em Paris. O livro celebra a marca de 1 000 títulos da Taschen, editora alemã especializada em arquitetura, cultura pop, história, moda e design, e o fortalecimento de um nicho que a empresa, fundada em 1980, lidera absoluta: o de livros tratados como objetos de arte. “Acredito tanto nas edições acessíveis quanto nas extraordinárias, que dão ao comprador a chance de adquirir um material com o valor de peça rara”, diz Benedikt Taschen, dono de onze lojas próprias em sete países. De fato, as fotos de Benson ganharam uma versão de 70 dólares. Entre os itens excepcionais, está The Esther Scroll, fac-símile recém-lançado de um manuscrito datado de 1746, vendido num rolo de 6,5 metros (700 dólares) — formato que é um marco da “embalagem” no mercado editorial.

Benedikt não está só. Seu conterrâneo Gerhard Steidl, detentor dos direitos do Nobel de Literatura Günther Grass, saltou das letras para se especializar, a partir de 1996, em fotografia e cinema. É o editor favorito de museus como a National Portrait Gallery, de Londres, e do estilista Karl Lagerfeld, que fez livros para a editora e os vende na sua livraria em Paris, a 7L. A razão é que Steidl cuida de todas as etapas da publicação, numa obsessão por encontrar materiais, formatos e embalagens nada convencionais e distantes da produção em massa. De 1994, a francesa Assouline trata seus livros como os “acessórios mais sofisticados do mundo” e sua assinatura como uma grife à altura de Chanel, cuja caixa com três volumes encadernada de couro matelassê acaba de reeditar. “Trabalhamos como maisons de alta-costura”, diz Martine Assouline, que, ao lado do marido, Prosper, comanda o negócio batizado com seu sobrenome. Eles projetam suas livrarias — nove em diferentes países — como templos hedonistas para o intelecto. A flagship de Las Vegas, por exemplo, é uma reprodução da biblioteca particular do casal, decorada com móveis de grife e peças de arte. Em local de destaque, está um dos projetos mais caros da editora, Gaia, com fotografias de Guy Laliberté, criador do Cirque du Soleil, feitas durante uma viagem espacial a 350 quilômetros da Terra. Com 61 centímetros de altura e 178 páginas, o livro custa 7 000 dólares. A Rizzoli, em Nova York, e a Phaidon, em Londres, também se destacam entre as editoras que reabilitaram o status das publicações ilustradas. Até a entrada desses editores interessados em estética na mesma medida da qualidade do conteúdo, elas eram tratadas como coffee table books destinados a decorar áreas sociais, com temas genéricos e superficiais.

No Brasil, a Cosac Naify foi pioneira do gênero, com títulos de arte e moda. Em 2011, foi a vez de a Toriba lançar o primeiro volume de um catálogo dedicado exclusivamente a obras de acabamentos preciosos e edição limitada. Nação Corinthians, uma homenagem ao centenário do time, poderia ser um campeão de popularidade, mas é um item para poucos: onze exemplares, apresentados em estojo de madeira e capa de couro italiano, vendidos a 15 000 reais. Esgotou-se em dois meses. “Tenho o meu exposto na sala, em um pedestal feito sob medida”, revela José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, proprietário da TV Vanguarda, afiliada à Rede Globo. Uma versão simplificada sai por 7 000 reais e pode ser adquirida, na editora ou em pontos autorizados, como a Livraria Cultura. No total, são 1 500 cópias. “Elas têm o valor de umagravura de série limitada”, compara Pedro Sirotsky, herdeiro do grupo gaúcho RBS e sócio da Toriba.

Bem cotados por nascença, volumes recém chegados ao mercado logo se transformam em patrimônio. “Em pouco tempo, uma edição numerada pode ser negociada pelo triplo”, diz Benedikt Taschen. No caso de Sumo, tributo da Taschen à obra de um dos mais influentes fotógrafos de moda, Helmut Newton, a valorização é recorde. Publicado em 1999, com 464 páginas e 30 quilos, custava 1 500 dólares. A cópia número 1 recebeu a assinatura de mais de 100 celebridades e arrecadou o equivalente a 855 000 reais num leilão em Berlim, entrando para a história como o livro mais caro do século XX. Os 10 000 exemplares remanescentes autografados por Newton, morto em 2004, saltaram para 15 000 dólares. Lançado há menos dedois anos, Life in Photographs de Linda McCartney (também da Taschen) valorizou-se 340%, segundo dados da Sotheby’s, a casa de leilão mais antiga do mundo. A edição especial (125 unidades numeradas) é negociada hoje a 8 500 dólares e traz uma foto original autografada por Paul McCartney, clicado pela mulher em 1971, em férias da famíliana Jamaica. Um recorte da vida privada que poucos fãs afortunados se dão ao luxo de colecionar.

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