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Depoimentos: jovens procuram remédios para evitar contrair o HIV

Remédios antiAids: histórias de pessoas que usam remédios antes ou depois do sexo como forma de prevenir o HIV

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 16h45 - Publicado em 4 jul 2015, 00h00

+ Jovens formam o grupo mais exposto à aids na cidade

Depois de uma temporada no Canadá, onde estudou e trabalhou na Universidade de Toronto em um departamento de saúde com jovens soropositivos, Roberto Rubem Silva Brandão retornou ao Brasil. Em setembro, soube de um estudo no país com o Truvada, a nova droga capaz de reduzir a contaminação pelo HIV. Os responsáveis pela pesquisa estavam recrutando 250 voluntários em São Paulo e ele manifestou interesse em participar. “Tinha um uso inconsistente de camisinha, dependia do momento, do prazer e do desejo”, conta. “Daí a vontade de adotar o remédio como uma estratégia de prevenção. Estamos perto de uma nova revolução sexual.” Quando o medicamento recebeu liberação para a venda nos Estados Unidos, em 2012, os usuários passaram a ser chamados de “vadios”, pois a adesão ao tratamento parecia sinônimo de comportamento promíscuo. “Aqui no Brasil, não sinto esse estigma”, afirma Roberto. Embora tenha sofrido nos dois primeiros meses de medicação, com dores no corpo e ânsia de vômito, seu balanço da experiência, até agora, é positivo. “Nesse tratamento, eu me consulto com uma psicóloga a cada três meses e faço exames para saber se estou com alguma DST.”

HIV - Franklim
HIV – Franklim ()

Com o advento dos aplicativos de relacionamento, aumentaram a oferta e a agilidade na busca por um encontro sem compromisso. Assim, uma nova geração inicia sua vida sexual com os contatos adquiridos pela tela de smartphones. Franklim Conceição, 19 anos, é um exemplo típico. Em fevereiro, no segundo encontro com um rapaz nove anos mais velho, foi até o apartamento dele, no centro. Depois da transa, Conceição percebeu que a camisinha havia estourado. “Foi o pior dia da minha vida”, lembra. Saiu do apartamento aos prantos, completamente desesperado. “Cheguei em casa depois da meia-noite, acordei a minha mãe e disse: ‘Devo estar com HIV’.” Pela manhã, viu que havia sido bloqueado pelo garoto no WhatsApp, o que aumentou sua paranoia em relação ao encontro. Às 7 horas, começou a sua perambulação por hospitais em busca de ajuda. Acabou no Emílio Ribas, onde realizou um tratamento por quase um mês com um coquetel para evitar a infecção. “Fiz vários testes depois disso e estou limpo. Agora, consigo dormir tranquilo.”

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HIV - Personagem B
HIV – Personagem B ()

Morador da região de Santa Cecília, o engenheiro eletrônico B*, 26 anos, sempre transou sem camisinha e não costuma ficar com a mesma pessoa mais de uma vez. Adepto do sexo casual, diz relacionar-se com mais de cinco parceiros por semana. Seu comportamento de risco sempre foi consciente (“não uso drogas”), o que não o impedia de ficar com medo. Todo mês, fazia exames para saber se havia contraído o HIV. Por sorte do destino, todas as vezes o resultado deu negativo. Ele passou a tomar o Truvada, droga que reduz o risco de contaminação, em novembro do ano passado, depois de se oferecer como voluntário em um estudo sobre o remédio. Diz que tirou um peso das costas. Revela que, dois meses atrás, foi para a cama com um rapaz soropositivo sem usar camisinha. “Ele me falou de sua situação, mas não senti receio.” Como o Truvada não protege contra as demais doenças sexualmente transmissíveis, B. acabou contaminado nos últimos tempos por gonorreia (três vezes) e clamídia, entre outras. “Todas têm cura, felizmente.” * Nome preservado a pedido do entrevistado

HIV - Matéria -Leandro Goddinho
HIV – Matéria -Leandro Goddinho ()
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Até os 27 anos, o cineasta Leandro Goddinho manteve namoros longos. Depois disso, passou a ter relacionamentos variados e curtos. Foi então que começou a perceber a aids chegar cada vez mais perto. “Alguns amigos e amigos de amigos se contaminaram e fiquei preocupado. Não queria fazer parte das estatísticas”, diz o rapaz, hoje com 32 anos. Em julho do ano passado, quando soube do estudo com o remédio Truvada, decidiu tomar a droga. Após entrar nesse programa, passou a descartar com mais frequência o uso de preservativos nas relações. “A pior coisa é quando nos apaixonamos, pois passamos a confiar no parceiro e, em poucas semanas, deixamos de usar a camisinha.” Alguns de seus amigos estranharam que uma pessoa saudável como ele estivesse usando um medicamento forte relacionado à aids. “Mas isso ocorre por falta de informação”, entende. Um mês antes de iniciar a terapia, o cineasta ficou com medo de sentir efeitos colaterais. “A tensão me fez ter náusea e crise de vômitos. Mas, quando passei a usar o remédio, meu corpo não teve reação.” Goddinho viaja no mês que vem para uma temporada de dois anos na Alemanha, onde vai fazer um documentário. “Assim como aconteceu com o anticoncepcional na década de 60, essa droga vai mudar a vida das pessoas.”

HIV - Roberto Santana
HIV – Roberto Santana ()

Morador de Osasco, Roberto Santana toda semana pega o seu Corsa sedã vinho rumo a São Paulo, onde frequenta cultos de uma igreja evangélica voltada a homossexuais. Ele costuma passar os fins de semana com seu filho de 10 anos, fruto de um casamento com uma mulher. Hoje, Santana vive com o namorado, de 27 anos. Essa rotina tranquila — ele não frequenta baladas e detesta bebida alcoólica – foi interrompida há dois anos quando transou sem camisinha com um desconhecido. “Fiquei com medo de ter contraído o HIV. Em menos de 24 horas, corri para o Emílio Ribas.” Lá, pediu para tomar o coquetel de remédios que, receitado em até 72 horas após a relação, reduz o risco de contaminação em 99%. Ele é ingerido durante 28 dias. “Tive dores de cabeça e crise de vômitos.” Com dez dias de medicação, cogitou abandoná-la devido ao mal- estar. “Pedi a Deus que não me deixasse desistir dos remédios.” A fé deu certo: seguiu o tratamento. No fim, exames constataram que Santana não havia sido infectado.

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