Grupo se mobiliza contra ‘Woodstock’ na Vila Madalena
Moradores e comerciantes tentam encontrar uma solução para os problemas causados pela grande concentração de pessoas no bairro; vídeos mostram a situação
Depois de virar o quartel-general de paulistanos e turistas que estão na cidade para comemorar durante a Copa, as festas diárias que lotam as ruas Vila Madalena antes e depois dos jogos se tornaram uma dor de cabeça para comerciantes e moradores do bairro. Mesmo tendo investido em promoções, cartazes e telão virado para a rua, donos de bares reclamam do prejuízo e da falta de estrutura. Por causa dos problemas, os empresários se reuniram nesta quarta-feira (18) para pedir mais apoio logístico à prefeitura e a instalação de 150 banheiros químicos nas ruas do bairro até o fim do Mundial. Já as associações de bairro têm um encontro na Subprefeitura de Pinheiros nesta quinta-feira (19) para discutir a situação.
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“Não tem comércio para a gente. As pessoas compram bebida dos ambulantes e fazem o bar só de banheiro público”, desabafa Vanderley Romano, gerente dos bares Posto 6, Patriarca e Salve Jorge. “Isso aqui está over control. Fechamos ontem (terça-feira) às 22h30 porque não dava para trabalhar”. Questionada, a administração municipal afirmou que não colocou banheiros químicos no jogo de terça-feira (17) entre Brasil e México porque “não autorizou a realização de nenhum evento em vias públicas na região”. Com o pedido dos empresários, porém, estuda alternativas para os próximos jogos.
Os problemas de segurança também se acumulam. “Temos que baixar as portas meia hora depois do jogo e colocar todo mundo para fora, senão tem invasão. Já quebraram os vidros do meu bar (o Seu Domingos) com tanta confusão”, diz Flávio Pires, dono dos bares Quitandinha, Seu Domingos e Vila Nina. Ele agora distribui pulseirinhas para os clientes, os únicos autorizados a usar os banheiros.
‘Woodstock’ da Vila
Revoltada, a vizinhança reclama que as ruas não comportam tanta gente – diferente de qualquer aglomeração de fim de semana, os torcedores da Copa preferem ficar nas vias. “A Vila não tem condições de receber um evento desse porte. Isso aqui virou o Woodstock”, diz o presidente da Sociedade de Amigos da Vila Madalena (Savima), Cássio Calazans.
Organizador do movimento SOSsego Vila Madalena, o inglês Tom Green culpa os bares e as distribuidoras de cerveja que promoveram a festa na região. “Está sendo pior que o Carnaval em termos de transtorno para os moradores, porque é todo dia. Ninguém pensa na gente”. O grupo conta atualmente com 300 participantes.
Problemas
Desde o dia 12, estreia do Brasil contra a Croácia no Itaquerão, o cenário se repete diariamente. As ruas Aspicuelta, Fidalga, Inácio Pereira da Rocha, Mourato Coelho e Fradique Coutinho ficam intransitáveis e a sujeira se prolifera. Responsável pela área, a Subprefeitura de Pinheiros afirma que já recolheu 40 toneladas de lixo na última semana.
Micareta sem banheiro
Na terça-feira (17), durante a partida entre Brasil e México, o clima era de micareta, com empurra-empurra, carro de som e camelôs vendendo bebida nas vias. Às 15h, a Vila Madalena já estava lotada. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) fechou as ruas Mourato Coelho e Aspicuelta. Às 16h, enquanto o hino nacional tocava na Arena Castelão, em Fortaleza, torcedores se acotovelavam e ambulantes tentavam proteger seus isopores. A situação piorou quando vans de comida estacionaram no meio das ruas. Na multidão, um homem brincava: “Próxima estação: Sé. Desembarque pelo lado esquerdo do trem”.
Sem conseguir sair do lugar, muita gente acabou desistindo de assistir ao jogo ou arrumou uma alternativa. Em um canto, dois amigos acompanhavam o confronto pela tela do celular. Outras pessoas tentavam ver parte das televisões dos bares pelo lado de fora, amontoando-se ou pedindo para os seguranças abaixarem a cabeça. A falta de banheiros foi um problema. Quem estava na rua tentava a todo custo entrar na fila dos toaletes dos bares.