Casas-museu abrigam histórias de ilustres de SP
Com o contato com objetos pessoais, visitantes conseguem compreender um pouco do contexto daquele que habitou ali
Entrar na casa, conhecer a vida vivida. São várias as residências paulistanas que pertenceram a moradores ilustres e, depois, acabaram convertidas em instituições culturais. Vencidas as portas, os visitantes de hoje conseguem compreender um pouco do contexto daquele que habitou ali. “Este é o principal sentido de uma casa-museu: trata-se de um tipo particular de museu exatamente porque ele não é pensado como museu. Ao contrário, a coleção que está na própria casa foi que propiciou que fosse pensada a sua transformação em museu”, diz o escritor e publicitário Marcelo Tápia, ele próprio diretor da Casa Guilherme de Almeida, espaço cultural que funciona onde viveu o poeta, jornalista e advogado. “Essas instituição são criadas de dentro para fora. Elas se transformam em museu por sua peculiaridade e sua importância.”
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É isso mesmo. Percorrer os imponentes cômodos do sobrado de 230 metros quadrados onde viveu Guilherme de Almeida (1890-1969) é um revés no tempo. Tempo em que o som vinha da vitrola – preservada, na sala -, os textos eram datilografados – sua Remington Rand, sobre a escrivaninha, não tem pingo na letra i – e São Paulo tinha tão menos luzes que era possível brincar de ser astrônomo – o telescópio de Almeida ainda está lá, na casa em que morou por 23 anos, de 1946 até a sua morte.
Depois de ficar fechado por quase três anos, o imóvel, que pertence ao governo paulista desde os anos 1970, passou por uma série de adequações para ser reaberto, em 2010, como museu e Centro de Estudos de Tradução Literária. Tombado pelo órgão municipal de proteção (Conpresp) desde 2009, neste ano a residência ganhou proteção também do órgão estadual (Condephaat).
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Frequentar a “casa da colina” – como Guilherme de Almeida apelidou o sobrado – é respirar uma atmosfera vivida por muitos ilustres contemporâneos do poeta. Por ali, saraus eram constantes. Entre os convivas, estavam o escritor Oswald de Andrade (1890- 1954), o escultor Victor Brecheret (1894-1955) e as pintoras Tarsila do Amaral (1886-1973) e Anita Malfatti (1889-1964). Quadros e livros espalhados pela casa evocam lembranças dessa efervescência cultural.
Arquitetura
Emblemática não só pelo acervo, mas pelo prédio em si, é a “casa de vidro“, primeira obra construída da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) – que projetou, entre outros, o prédio do Masp. “A casa foi concebida e construída entre 1951 e 1952 e o casal Bardi (a arquiteta e o colecionador de arte Pietro Maria Bardi) morou lá até a morte de cada um deles – Lina em 1992, Pietro em 1999”, diz o arquiteto Renato Anelli, diretor do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi.
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O instituto foi criado em 1990 com uma doação do casal, com o objetivo de estimular e divulgar o estudo sobre arte, arquitetura e cultura brasileira. Quando Pietro morreu, a casa perdeu sua função de residência sendo adaptada para uma melhor preservação do acervo e propiciar boas condições a pesquisadores. “A casa foi restaurada e continua a ter uma manutenção cuidadosa”, diz Anelli.
“Além da casa em si, cuja inserção no exuberante bosque tropical plantado no terreno é uma atração muito especial, o acervo tem cerca de 7 mil desenhos, 15 mil fotografias, além de documentos e livros.”
Perto do Pátio do Colégio, marco fundador da capital, fica o Solar da Marquesa de Santos, onde viveu Domitila de Castro Canto e Melo (1797-1867), a mais famosa amante do imperador d. Pedro I. Ela morou ali de 1834 até a morte. O endereço hoje é a sede do Museu da Cidade de São Paulo e mantém em exposição móveis de Domitila. Ali, podem ser vistos, por exemplo, a cama da marquesa – provavelmente trazida de seu palacete no Rio.
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A Fundação Ema Klabin, onde viveu a empresária, mecenas e colecionadora Ema Gordon Klabin (1907-1994), fica no Jardim Europa, Zona Sul. Obra do engenheiro e arquiteto Ernesto Becker, a mansão de 900 metros quadrados foi inspirada no Palácio de Sans-Souci, de Potsdam, na Alemanha. “A decoração da casa foi preservada da maneira como ela deixou. São cerca de 1.590 peças, entre obras de arte e objetos”, diz o curador da fundação, o arquiteto Paulo de Freitas Costa.
Outro exemplo valioso em São Paulo é o Museu Lasar Segall – atualmente fechado para obras, com reabertura prevista para agosto. Está instalado na antiga residência e ateliê do artista – que nasceu na Lituânia em 1891 e migrou para o Brasil, onde viveu até a morte, em 1957 -, projetados em 1932 por seu concunhado, o arquiteto Gregori Warchavchik.