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Cantareira pode secar em dezembro, alerta especialista

Pesquisadores da USP e da Unicamp falam sobre os cenários possíveis para o futuro do principal sistema de abastecimento da cidade de São Paulo

Por Fábio Lemos Lopes
Atualizado em 5 dez 2016, 14h28 - Publicado em 7 Maio 2014, 19h29

Responsável por abastecer 61% da região metropolitana, o Sistema Cantareira chegou ao nível de 9,2% nesta sexta-feira (9). Com a baixa captação de água nos meses tradicionalmente chuvosos, a alternativa rápida encontrada pelo governo para não secar as torneiras de boa parte da cidade é utilizar o chamado volume morto, que antes não estava acessível para bombeamento. Entretanto, a solução é apenas paliativa. Se no final do ano as preciptações continuarem escassas, São Paulo pode passar por um uma situação ainda mais grave.

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A reportagem entrevistou, separadamente, quatro especialistas sobre o assunto. As opiniões são divergentes em alguns pontos, mas todos concordam que a cidade vive uma seca sem precedentes e não existe solução rápida. Confira as análises de Pedro Cortês, professor de Gestão Ambiental da USP; Rubem Porto, especialista da Escola Politécnica; Antonio Carlos Zuffo, professor do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp; e Stela Goldenstein, ambientalista e diretora-executiva da ONG Águas Claras do Rio Pinheiros. 

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ATÉ QUANDO DURA A ÁGUA DA CANTAREIRA

Antonio Carlos Zuffo: Com o que temos hoje e mais o volume morto total (o que estará acessível para bombeamento a partir de agora e o restante, que pode vir a ser usado) teremos água suficiente até dezembro. Isso, porém, se não chovesse nada até lá, o que é quase impossível. Se levarmos em consideração a mesma quantidade de chuva deste ano para o próximo verão, chegaremos a zero em maio de 2015, entrando assim em um período de desabastecimento.

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DIFICULDADES PARA A RECUPERAÇÃO DO SISTEMA

Antonio Carlos Zuffo: Em condições normais, o Sistema Cantareira consegue se recuperar de 10% a 20% ao ano. Assim, levaria de cinco a dez anos para ficar cheio novamente.

Rubem Porto: A população precisa entender que 2015 e, possivelmente, 2016 serão anos de vacas magras, com pouca água disponível. Em condições normais, em menos de dois anos é impossível encher o Sistema Cantareira.

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Pedro Cortês: Os reservatórios não funcionam como uma piscina impermeável, que acumula água assim que chove. Como o solo dos reservatórios está ressecado, como é possível ver as rachaduras nas fotos, a água primeiramente vai acumular no subsolo para depois voltar a aflorar na superfície, no que podemos chamar de efeito esponja. Mesmo se chegar a zero, o sistema vai se recompor com as chuvas.

RISCOS PARA O AMBIENTE

Antonio Carlos Zuffo: A vegetação do sistema é formada basicamente por eucaliptos, usados para fazer carvão para pizzarias, e pasto. Não teríamos problemas, pois ela não depende da Cantareira. Alguns peixes, porém, podem morrer. Já as encostas preocupam, por causa de um possível assoreamento.

Pedro Cortês: sempre existe prejuízo. Se o nível do sistema baixar totalmente, quando encher de novo, algumas espécies aquáticas terão se perdido.

A QUALIDADE DO VOLUME MORTO

Pedro Cortês: Sim, a qualidade da água será igual. A Sabesp tem estrutura para isso.

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Rubem Porto: Engana-se quem diz que essa água é do fundo do reservatório e com qualidade inferior. O volume morto tem uma lâmina de 25 metros de profundidade e a Sabesp utilizará uma porção superior de 5 a 6 metros. Mesmo se fosse a água do fundo, não teríamos problema.

ALTERNATIVAS À CANTAREIRA

Rubem Porto: Sim, mas não são rápidas, são de médio prazo. Obras demoram e passam por liberações ambientais e negociações políticas, situações comuns que acontecem no mundo todo. A água da represa Jaguari, formada por um afluente do Rio Paraíba do Sul, que abastece parte do Rio de Janeiro, poderia dar um aporte de 160 milhões de metros cúbicos para o Sistema Cantareira, o que representa, ao ano, aproximadamente 16% da capacidade da Cantareira. Só com isso seria possível deixar o Cantareira em boas condições em quatro anos. Com um pouco de economia esse prazo pode cair. Mas ressalto que são hipóteses, pois existem muitas variáveis.

Pedro Cortês: a obra para captar água do Rio Paraíba do Sul depende de licenciamento ambiental e de acordos e isso leva tempo. A população também precisa fazer sua parte, com um consumo racional.

Stela Goldenstein: Não podemos falar só do Sistema Cantareira isoladamente. É preciso ver a gestão da água como um todo. Temos pouca água na região metropolitana. Por outro lado, a usamos mal. A questão é muito complexa, pois há um conflito imenso entre duas finalidades de uso, que são geração de energia e abastecimento. O sistema brasileiro de energia é unificado, o de abastecimento não. Não existe solução a curto prazo. É preciso colocar em prática várias estratégias. Uma seria aproveitar a represa Billings para a capital. Outra é construir novas represas na cabeceira do Rio Tietê, Reformar os piscinões com tratamento adequado também é uma alternativa. Na demanda, devemos explorar melhor a utilizado da água de reuso. Tem muito para ser feito.

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RACIONAMENTO

Rubem Porto: Usar o termo racionamento é errado. O correto é gestão de demanda. O ideal seria cada setor da cidade ter uma válvula. Mas a nossa rede é muito complexa. Até porque não podemos fechar completamente e esvaziar a rede, acabando com a pressão e correndo o risco de infiltração da água do solo e de esgoto. A diminuição da pressão ocorre, por isso a água não chega às vezes em pontos mais elevados.

Pedro Cortês: Mesmo sem o governo utilizar esse termo, algumas regiões da cidade sofrem um racionamento, por causa da diminuição da pressão, o que não permite a água chegar em locais mais elevados. A população precisa também se conscientizar, não podemos continuar consumindo como estamos, é fundamental uma mudança de comportamento.

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