Espetáculo de dança “Vila Tarsila” está de volta aos palcos
Miriam Druwe, uma das responsáveis pela montagem, fala sobre a importância de apresentar artistas como Tarsila do Amaral ao público infantil
Arte para falar sobre arte. A metalinguagem é a fórmula usada para explicar às crianças a vida e a obra de Tarsila do Amaral. Por meio da dança, a Cia. Druw apresenta Vila Tarsila, que transita pela história da artista brasileira. Um dos expoentes do chamado movimento antropofágico – de valorização da cultura nacional – nas artes plásticas, a autora do quadro Abaporu (1928) é retratada desde sua infância em uma fazenda em Capivari, no interior de São Paulo. O espetáculo, que estreou em 2010, volta aos palcos da cidade, no Sesc Consolação.
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A trupe coleciona outras duas montagens que coreografam a biografia de artistas importantes, como Lúdico (sobre Wassily Kandinsky) e Girassóis (Van Gogh). “A nossa linguagem é a dança, mas também usamos texto quando necessário”, conta a diretora Miriam Druwe, que já participou das companhias Balé da Cidade e Cisne Negro. Na entrevista a seguir, ela fala sobre a montagem, que é uma parceria com Cristiane Paoli Quito, e sobre a importância de tornar a criança mais sensível à arte. Confira:
VEJASÃOPAULO.COM – Como surgiu a ideia de montar espetáculos de dança para crianças?
MIRIAM DRUWE – Nós já fazíamos espetáculos de dança contemporânea para adultos desde 1996. Em 2006, surgiu essa vontade de criar para o universo infantil, que é um desejo da minha alma. Eu dava aulas para a garotada e descobri que é possível acionar a criança para extrair elementos importantes de uma obra de arte.
Quais elementos da obra de Tarsila foram usados na montagem?
Falamos da infância e do trabalho de Tarsila. Ela foi criada em Capivari e foi uma criança muito livre. Mas ao mesmo tempo teve uma formação francesa. Fazia aulas de etiqueta e viajava muito. Para a montagem, estudamos o livro Tarsila do Amaral – A Modernista, de Nádia Battella Gotlib, e acompanhamos a exposição Tarsila – A Viajante, na Pinacoteca do Estado. E usamos ainda a figura de Abaporu, primeira obra que fez ao retornar de Paris ao Brasil, em 1928. Ali, ela retrata o que era considerado caipira. As imagens de A Negra e Floresta também foram referência.
Como as crianças entendem todos esses signos?
Ela não processam certas coisas, como o Movimento Antropofágico, que abordamos ao interpretar a arte bem brasileira. Mas acho que aguçamos a interpretação e permitimos que os pais e professores falem sobre isso depois. Após o espetáculo, também costumamos conversar com elas. O que acontece é que a garotada realmente se apropria um pouco da obra e se sente mais próxima do artista, ficando com vontade de produzir arte também. A arte faz do ser humano alguém transformador e sensível, onde estiver e mesmo que não se torne um artista de fato.
Já tem planos para um novo show? Falará da vida de algum pintor?
Não sei dizer se isso vai continuar para sempre, mas tenho esse interesse pelas artes plásticas. Estou lendo sobre Henri Matisse e Candido Portinari. Talvez retrate algum deles. Mas também ando com vontade de falar sobre o princípio das cores.