Zé Carioca comemora 70 anos com novidades nas bancas
Quadrinista paulistano fala sobre o projeto que retoma os gibis do papagaio da Disney
Reza a lenda que, em 1941, Walt Disney conheceu o músico José do Patrocínio Oliveira quando estava de passagem pelo Rio de Janeiro. Os trejeitos e estilo do artista teriam servido de inspiração para a criação de um papagaio de terno, gravata borboleta, chapéu e guarda-chuva chamado José Carioca. A homenagem dos estúdios Disney também seria fruto de uma tentativa de aproximar o Brasil dos EUA na conhecida “política da boa vizinhança” em meio a um conflito que dividia o mundo, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Fato é que Zé Carioca (para os íntimos) é fruto de uma pesquisa que os desenhistas da Disney faziam pela América do Sul. O personagem apareceu pela primeira vez em uma produção do pai do Mickey em 1942, com Alô, Amigos. O filme (assista ao trecho abaixo) mostra o surgimento do papagaio — uma caricatura do brasileiro — na última parte, intitulada Aquarela do Brasil. Na história, a ave apresenta a cachaça, o samba e outras particularidades do país para o Pato Donald.
Em 1945, mais duas criações com inspiração latino-americana surgiram na animação Você Já Foi à Bahia?: o galo mexicano Panchito Pistoles e o menino argentino Gauchinho Voador. Mas nenhum desses “amigos” — inclusive Zé — fez muito sucesso no território americano. As tirinhas dominicais do papagaio, por exemplo, só foram publicadas em jornais dos Estados Unidos de 1942 a 1944.
Quem resgatou o desenho foi a Editora Abril, que lançou a primeira revistinha do personagem no Brasil em 1961. Uma curiosidade: até hoje colecionadores buscam a edição 1, mas o problema é que ela nunca existiu. Quando apareceu nas bancas, o gibi exibia o número 479, isso porque as publicações eram alternadas com as da revista do Pato Donald, primeiro produto da editora.
Restauradas e divididas em dois volumes, essas primeiras histórias são agora republicadas em celebração aos 70 anos do “malandro brasileiro”. “Fizemos um trabalho de campo grande para reunir todo o material com o personagem”, conta Fernando Ventura, um dos quadrinistas responsáveis pelas edições comemorativas. “Ao todo, juntei 104 páginas de três colecionadores, um americano, outro brasileiro e outro dinamarquês”, diz o paulistano que levou seis meses para organizar o projeto, que incluiu tradução e colorização. Os puristas, aliás, vão gostar do resultado: foram preservadas as cores originais — terno e bico amarelos — e até alguns “deslizes” — às vezes, os tons das roupas mudavam de um quadro para outro.
Além dos volumes especiais — o primeiro foi lançado no fim de outubro e o segundo, em novembro —, Ventura revela que Zé Carioca retorna às bancas de vez em 2013. Em fevereiro, a revista passa a figurar nas prateleiras mensalmente. “Cada edição terá histórias antigas e uma inédita, feita cada vez por um artista diferente que já trabalhou com Zé Carioca”, explica ele, que também desenvolverá uma das aventuras do papagaio.
Abaixo, confira os desenhos da tirinha inédita que estará na edição de fevereiro e outras imagens históricas: