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“Eu agora me sinto uma menina, com muita energia”, diz Vera Fischer

Atriz de 70 anos volta à cidade para temporada de peça em que interpreta um papel bem diferente do qual está acostumada, o de uma matriarca septuagenária

Por Clayton Freitas
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h34 - Publicado em 8 set 2022, 21h00
Vera Fischer, atriz branca, magra e loira, posa sorrindo em um fundo preto. Usa uma blusa preta que mostra os ombros, brinco grande e batom vermelho. Tem os braços cruzados.
Acelerada: levar a peça para o exterior, produzir mais para o streaming e exibir suas telas estão nos planos da sempre diva (@callanga/Divulgação)
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Em cartaz no teatro Raul Cortez depois de um hiato de quatro anos longe dos palcos paulistanos, a atriz Vera Fischer voltou trazendo um trabalho diferente. Ela interpreta Dulce Carmona no espetáculo Quando For Mãe Eu Quero Amar Desse Jeito. Trata-se de uma matriarca septuagenária obcecada pelo filho, vivido por Mouhamed Harfouch.

No palco, Vera, 70, parece se divertir e muito com as turras que trava com a nora (Larissa Maciel). E esse não será o seu único papel de matriarca, já que estará no filme Um Natal Cheio de Graça, coestrelado por Gkay para a Netflix. No streaming, a ex-Miss Brasil diz que se despojará completamente da imagem de musa que ainda pulsa firme na memória de todos que a viram nas telas da TV durante anos. Apesar de suas visitas a São Paulo se darem geralmente a trabalho, ela diz que sempre que possível vai até a feira da Praça Benedito Calixto. Ressalta ainda a boa gastronomia da cidade, o Masp e teatros.

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Na entrevista a seguir, ela diz admirar a ocupação da Avenida Paulista aos domingos, quando a via é fechada para veículos, comenta sobre o seu lado instagrammer, explica por qual motivo só comprou o primeiro celular da vida há dois anos, seu gosto pela cultura geek, a volta ou não à TV aberta e a vernissage das suas telas em Portugal.

Como é voltar para os palcos paulistanos?

Eu estou muito feliz de poder fazer uma peça dessa dimensão. É uma comédia, mas com muita qualidade. São Paulo sempre foi um divisor de águas em todos os trabalhos que eu fiz, e a gente sabe muito bem que o público é muito exigente e tem muitos espetáculos em cartaz.

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Qual é a sua relação com a cidade?

Quando eu fui casada com o Perry Salles (morto em 2009), nós tínhamos um apartamento aqui e trabalhávamos muito. Ultimamente eu tenho vindo muito pouco. Venho, faço um trabalho rápido e volto. Mas tem sempre uma coisa muito nova e revolucionária. A minha filha mora aqui e ela me conta coisas incríveis. Adoro o Masp e todos os domingos a Avenida Paulista tem atrações. E frequento a feira da Benedito Calixto.

A Miss Brasil de 1969 imaginou que passaria dos cinquenta anos de carreira e faria muito mais sucesso?

Não. Você, quando tem 20 anos, não se imagina aos 70. Eu sabia que eu ia chegar, sempre, todos os dias a algum lugar. Eu sempre fui uma pessoa que queria muito trabalhar. Porque os meus pais me deram o exemplo. Eles trabalhavam juntos em uma loja que era do meu pai. Então eu via isso e era meu grande exemplo. Trabalhar e ser bem-sucedida na vida. Eu agora me sinto uma menina, com muita energia e alegria, fazendo exatamente o que eu amo fazer e sentindo que o público ama o que eu amo fazer. Isso é maravilhoso.

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Por qual motivo só comprou o primeiro celular em 2020?

Eu sempre fui contra porque eu via as pessoas grudadas no celular. E eu falava: “Meu Deus, isso é uma escravidão e eu não quero isso para mim”. Mas um pouco antes da pandemia eu fui para Nova York, e meu filho, que ainda morava comigo, falou: “Mãe, eu não quero mais essa história de você ligar dos hotéis para mim, quero saber onde você está”. Aí comprei o celular, mas eu não sabia mexer quase nada. E aí veio a pandemia, foi um tal de ficar em casa, e meu filho aos poucos foi me ensinando a mexer, sou muito curiosa e fui fuçando.Eu já tinha Instagram, mas era uma coisa que não tinha noção de como responder às pessoas e interagir. E agora eu aprendi. Faço umas selfies maravilhosas e meus fã-clubes cresceram enormemente com isso. É claro que às vezes é uma escravidão, ainda mais se você não se desliga dele.

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Você disse já ter sofrido a ditadura da política e do assédio. Se existissem as redes sociais, teria sido diferente?

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O machismo sempre existiu e vai existir. Acho que depois do Me Too as pessoas se libertaram e começaram a falar, e grandes nomes foram presos por causa de assédio. E isso tem de ser dito mesmo. Uma pessoa que sofre um abuso ou um assédio tem de falar e botar a boca no mundo sim. Todas essas coisas precisam ser denunciadas e as redes existem para ajudar nesse sentido.

Você foi até a Câmara dos Deputados defender as leis de cultura. Pretende se posicionar mais politicamente?

Em favor da cultura, sempre, com certeza. É uma luta constante, e a gente não pode fazer nada sem uma lei que nos proteja. Fazer teatro ou qualquer outra coisa com dinheiro do bolso é muito sacrificante. Então nós precisamos ter leis que nos garantam isso, e vamos lutar. O ser humano por si só é um ser político. Porém não vou falar nada para que não entendam “A” ou “B”. Mas em favor da cultura, sempre.

Você posta em seu Instagram referências ao universo geek. Como isso surgiu?

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O meu filho é aficionado por gibis, mangás, e eu acabei lendo essas coisas. E jogava Pokémon com ele. Adoro quadrinhos, coisas de Marvel, Disney, e sou completamente apaixonada por esse universo, desde os Vingadores, os Guardiões da Galáxia. O Sandman, por exemplo, que eu acabei de ver na Netflix, é um trabalho que eu adoro. E eu já conhecia os quadrinhos.

Como será seu papel no filme Um Natal Cheio de Graça, da Netflix?

Será muito engraçado. Faço uma matriarca dessas bem tradicionais, e eu não queria ser a Vera Fischer. Daí colocaram uma peruca curta em mim, e logo no início do filme eu levo um tombo e meu nariz fica machucado (personagem) e é véspera de Natal. Então eu passo o filme inteiro com um enorme esparadrapo no nariz. É uma visão dos infernos!

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Pretende voltar à TV aberta?

Eu fiz novelas lindas, e duas delas foram reprisadas há pouco (Laços de Família e O Clone). São personagens opostos ao da peça. Como não estou mais sob contrato (com a Globo), não preciso fazer qualquer coisa que exigem. Se a TV me chamar para fazer um bom personagem, vou aceitar. Se não, tenho muitas outras coisas para fazer. Vamos girar mais com a peça, estão pedindo meus quadros para uma exposição em Portugal no ano que vem e temos planos para fazer uma série (streaming) bem bacana. Será também um papel que nunca fiz.

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Publicado em VEJA São Paulo de 14  de setembro de 2022, edição nº 2806

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