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Da comédia bagaceira ao filme de arte

Confira um perfil do crítico de cinema da Vejinha Miguel Barbieri Jr.

Por Isabela Boscov
Atualizado em 5 dez 2016, 12h03 - Publicado em 18 set 2015, 21h30
Miguel Barbieri Jr.
Miguel Barbieri Jr. ( Attílio/)
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Não foi com muita convicção que, aos 17 anos, Miguel Barbieri começou a cursar jornalismo na PUC-SP. Miguel queria ser publicitário — ou talvez arquiteto, ou quem sabe cineasta, ou de repente até ator. Tentou transferência para o curso de publicidade no 1º ano de básico, mas não conseguiu vaga. Fez curtas-metragens com grandes amigos, como a futura jornalista Iara Martinez e o estilista iniciante Conrado Segreto (que logo se revelaria um talento extraordinário da moda, além de um mentor para Miguel), mas a coisa não foi adiante. Da arquitetura, acabou esquecendo. Ator também não virou, embora tenha feito o inevitável curso de teatro (na década de 80, ele era, sim, inevitável). Um currículo resumidíssimo, já que em versão integral ele ocuparia mais páginas que o roteiro de cinema da VEJA SÃO PAULO: Miguel terminou a faculdade — de jornalismo —, morou um ano em Paris, abriu uma locadora em sociedade com Iara, a Overvideo, começou a escrever uma coluna de vídeo para o Diário Popular. Sua primeira resenha: Matou a Família e Foi ao Cinema, de Júlio Bressane. Por mais voltas que Miguel tenha dado na vida, foi sempre assim: o cinema — e o jornalismo — dava um jeito de encontrá-lo na próxima esquina, e de trazê-lo sempre para mais perto.

Miguel estava na equipe do Diário Popular, cobrindo cultura e cinema, quando mais uma dessas voltas no caminho o trouxe à equipe da Vejinha, em janeiro de 2000.

Tentamos, nós dois, calcular quantos filmes ele viu nesses quase dezesseis anos na redação de VEJA SÃO PAULO. É impossível cravar — mas foram mais de 5 000, isso é certeza. Pelo menos nove em cada dez desses ganharam resenha nas páginas da revista. Mas o que é realmente notável, no caso de Miguel, não são os números. É o poder de síntese, a qualidade — a atenção, o conhecimento, o critério que ele aplica a cada um dos filmes a que assiste, e a cada frase que publica sobre eles. Como crítico, como colega, como amigo, Miguel é incapaz de dizer o que não pensa. Nem para fazer graça, nem para agradar, muito menos para ferir. É de uma honestidade congênita, incontornável. Honestidade que nele, coisa rara, vem aliada a uma gentileza e a uma consideração inatas.

Fiquei amiga das críticas do Miguel antes de ficar amiga do próprio Miguel, no tempo em que eu editava a revista SET e ele colaborava com resenhas. Uma das coisas que mais me entusiasmaram — e me entusiasmam — no trabalho dele é que ele não tem preconceitos. Nem contra nem a favor. Se adora uma comédia bagaceira, vai dizer que gosta, com todas as letras. Se aquele filme de arte de que todo mundo falou em Cannesnão lhe agradou, ele não vai fingir que gostou só para ficar “bem”. Miguel adora terror, musical, drama, romance, comédia, suspense, ação e filme de super-herói. E Miguel às vezes detesta terror, ou musical, ou drama, ou romance, ou comédia, ou suspense, ou ação, ou filme de super-herói. É o maior elogio que eu posso fazer a um crítico: Miguel nunca tem opinião formada na entrada da sessão de cinema. Só na saída. E divide essa opinião com o leitor com toda a franqueza.

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Acredito que o leitor sabe sempre, instintivamente, identificar o valor verdadeiro, e por isso tem acompanhado Miguel com tanta fidelidade, acolhendo suas opiniões e respeitando suas argumentações. Acompanha-o, aliás, com intensidade cada vez maior: Miguel agora se multiplica emseu blog em vejasp.com, no Facebook, no Twitter e até no Periscope. É um caso pioneiro no mundo, e talvez único, de um crítico associado a um grande veículo impresso que se desdobra também em múltiplas plataformas digitais e ganha em velocidade sem perder em qualidade. Eu já nemdeveria me surpreender, mas o fato é que me surpreendo sempre: a capacidade de trabalho de Miguel parece não ter fim. Ainda bem. Leal, constante, dedicado, presente, sincero por caráter e por princípio, Miguel é o que de melhor se pode imaginar em um crítico — e em um amigo.

Isabela Boscov, jornalista, a principal crítica de cinema da revista VEJA desde 1999 e autora do blog isabelaboscov.com, sobre Miguel BarbieriJr., crítico de cinema da Vejinha desde 2000, com mais de 5 000 filmes no currículo desde então

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