Aos 98 anos, Ugo di Pace lança livro que celebra sua carreira: “é como se tivesse 30”
Arquiteto e designer de interiores ressalta a assinatura inconfundível de seus ambientes, construídos como cenografias

“Estou com 98 anos e não paro. A minha cabeça funciona como se tivesse 30”, diz o espirituoso Ugo di Pace. Nascido em Nápoles, na Itália, e radicado no Brasil há 77 anos, o signore acaba de lançar seu quinto livro, Ugo di Pace: Obra de Arte — Protagonista da Minha Vida e dos Meus Trabalhos (Equipe Comunicações, 137 págs., R$ 520,00), que joga luz em sua longeva carreira na arquitetura e no design de interiores. “É um resumo da minha trajetória de trabalho e de amizades. Escolhi as fotos e as obras que me causam mais emoção. E são inéditas. Tem projetos que eu acho que estão entre os melhores que fiz até hoje”, resume.
A seleção, feita pelo próprio Di Pace, ressalta a assinatura inconfundível de seus ambientes, construídos como cenografias. “O objeto da decoração como verdadeira arquitetura de interiores é a obra de arte. Qualquer que seja seu estilo ou período, se for de alta qualidade artística, ela não apenas fala por si, mas emanta o espaço ao seu redor”, diz ele no texto de abertura do livro. À Vejinha, Ugo define como “simbiose” o que ocorre entre ele e as peças artísticas. “O meu trabalho e a minha vida sem a arte não existem.”

Em meio aos almoços diários com a ex-esposa, Vera Andraus, e a filha, Maria di Pace, na casa no Jardim Guedala onde mora há cerca de dez anos, ele participou de todo o processo de elaboração da publicação. Além da escolha das fotos, supervisionou legendas, textos e diagramação. “Agora que lançou, já começo a pensar em qual será meu próximo projeto”, diz, incansável.

O compêndio permite ao leitor conhecer mais sobre alguns dos principais momentos de sua carreira e “visitar” algumas das casas onde morou — decoradas por ele. Outro destaque é sua proximidade com Pietro Maria Bardi, criador do Masp. Os dois mantinham uma relação de “amizade, trabalho e sociedade”, como descreve Ugo. Juntos, na década de 60, abriram a galeria Arte Hispânica, em São Paulo, e o Studio A, em Roma, onde trabalharam obras de artistas como Picasso, Modigliani e Renoir e que recebeu visitantes ilustres, como o então presidente da Itália, Giovanni Gronchi, visto em foto no livro. A colaboração estendeu-se até os anos 1980, quando Bardi cedeu peças para Ugo usar na decoração das vitrines do The Gallery, lendária boate dos anos 80, na Rua Haddock Lobo, da qual foi sócio. No livro, há uma carta carinhosa de Bardi a Ugo, datada de 1983.

Ugo foi o primeiro arquiteto a abrir um escritório na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, em Pinheiros, ainda na década de 1970. Mais tarde, o misto de galeria e antiquário, Studio 689, tornou-se seu segundo endereço na mesma rua, onde passou muitos anos trabalhando e apresentando seu acervo. Após um tempo alugado, o imóvel retornou para Ugo em 2018 e rendeu uma ótima leva de exposições de nomes como Tunga, Frans Krajcberg, Wesley Duke Lee e Portinari, até ser fechado novamente em 2022, quando o arquiteto decidiu leiloar parte de sua coleção. “Quis simplificar a vida, pois me mudei para o Jardim Guedala, onde moro, para ficar perto da família e ter um estilo de vida mais tranquilo”, explica. “Ultimamente não tenho feito leilões, mas estou sempre procurando um projeto novo para me envolver, seja exposição, conhecer um artista novo… Terminando este quero começar outro.” Ugo di Pace: Obra de Arte — Protagonista da Minha Vida e dos Meus Trabalhos está à venda exclusivamente na Casa Mazé, café de sua filha, Maria, no bairro onde mora.
Publicado em VEJA São Paulo de 13 de junho de 2025, edição nº 2948.