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Vertente do rap, trap faz sucesso entre os jovens e embala festival

Com influências eletrônicas, estilo musical transmite desejos e sensações ao público, sem o compromisso da mensagem social falada

Por Matheus Prado
Atualizado em 29 nov 2019, 15h48 - Publicado em 29 nov 2019, 06h00

O trap é um filho jovem do rap “que vive bem e gosta dos prazeres da vida”. A definição de Derek, trapper do coletivo Recayd Mob, mostra qual é a pegada do gênero musical que vem ocupando os fones de ouvido e as festas da molecada em São Paulo e Brasil afora. A música mais ouvida do grupo, Plaqtudum, tem mais de 80 milhões de acessos no YouTube. Os números são comparáveis aos de sucessos de artistas como IZA e Pabllo Vittar.

Além da Recayd, que deve fazer turnê na Europa no início do ano que vem, e de Raffa Moreira, outro expoente da capital, surgem referências de todo o Brasil no gênero, mostrando a magnitude do movimento. O mineiro Sidoka, o baiano Jovem Dex e o cearense Matuê estão entre os nomes mais relevantes da cena nacional atualmente, cada um com suas singularidades.

Isso porque não existe no trap o compromisso da mensagem social falada, como era nos tempos de Mano Brown e dos Racionais. A sacada aqui é transmitir desejos e sensações ao público, além de mostrar um novo momento dos artistas que finalmente conseguiram faturar com o seu trabalho e hoje aproveitam a vida. Talvez por isso muitas das canções versem sobre joias, roupas de marca, carros e drogas.

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“O lifestyle é um complemento da música. A gente canta sobre o que as pessoas querem ser e o que nós conseguimos alcançar”, relata Jé Santiago, outro membro da Recayd Mob. Quando toca trap, é possível perceber nos ouvidos mais batidas eletrônicas suaves e letras menos complexas acompanhadas de palavras-chave e gírias, que vão se repetindo ao longo das faixas (“Pausa o meu pulso, Rolex, tô num pique sauce…”).

Recayd Mob: MC Igu, Jé Santiago, Dfideliz e Derek (agachado). Nos próximos dois meses, os quatro devem lançar álbuns solo (João Bertholini/Veja SP)

Outro expoente do ritmo, MC Caverinha tem estilo próprio. As batidas e a ostentação do trap estão lá, mas as composições do moleque de 11 anos falam principalmente sobre seu passado humilde e a vontade de ajudar a família. Hoje, faz cerca de 25 shows por mês, já cantou com Anitta e equilibra a vida de criança com a agenda profissional. “Estamos fechando turnê em Portugal e na Suíça. Também deve vir parceria com grandes nomes do hip-hop nacional e internacional”, diz o empresário do jovem, Alexandre Cocciolito.

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Para cavar o próprio espaço e driblar o machismo do hip-hop, uma série de garotas também vem fortalecendo a cena. Luanna Exner, que começou como dançarina e produtora, agora tem carreira musical. “Descobri que poderia ser livre como mulher, como artista. Essa pluralidade está fazendo a cena ter pernas para crescer”, opina. Ela também co-dirigiu o último clipe da Recayd, Baby Hair (acima).

DJ Sophia, que toca em festivais e eventos, tratou de acrescentar o ritmo a sua setlist. “É tipo o funk. Quando solto as batidas de trap, a galera já começa a pular”, diz. Casas noturnas como Morfeus, em Santa Cecília, e Lions, na Bela Vista, têm recebido festas do gênero regularmente.

Na noite: DJ Sophia, de 18 anos, toca trap para animar a pista de dança (Isiz Aguiar/Divulgação)

A coisa anda tão grande por aqui que o Anhembi abrigará um festival dedicado ao trap e ao rap no sábado (30). O Cena 2K19, como foi batizado, terá mais de vinte artistas nacionais e um headliner americano: Quavo. O músico, membro do coletivo Migos, é um dos grandes expoentes do gênero no país que gestou o ritmo no início dos anos 2000.

Sócio da Síntese, agência que produziu o evento, Gabriel Saran explica a escolha. “Olhamos para o mercado e vimos que o sertanejo está consolidado e o funk vem crescendo. O hip-hop, que tem muitos fãs e diversos festivais lá fora, precisa receber mais atenção aqui”, resume. Com a velocidade que as novas gerações consomem cultura, Saran acredita que os eventos se tornaram o epicentro desse consumo.

Por isso, além dos dois palcos, quem for ao festival terá uma série de atividades à disposição. “Haverá pista de skate, quadra de basquete, lojas, trancista, massagem, espaço para limpeza de tênis”, afirma Saran, sem revelar quanto foi investido na festa. A estimativa é que o valor chegue a sete dígitos. Flex!

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A trapper Luanna Exner (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Dialeto trap

Inventar e ressignificar gírias é parte da cultura

Drip Tendência. Pode ser relacionado à música, aparência.

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Sauce Postura, jeito de se portar. Confiança e estilo.

Ice Joias que chamam atenção, brilham.

OG Original.

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Flex Ostentar, mostrar superioridade.

Lean Droga à base de xarope de codeína, Sprite e opioides.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 04 de dezembro de 2019, edição nº 2663.

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