Tadeu Chiarelli fala sobre mostra do 7º andar da nova sede do MAC
O curador selecionou 85 obras do acervo que vão do Modernismo à contemporaneidade, de Tarsila do Amaral a Pablo Picasso
O processo de ocupação da nova sede do MAC-USP, no edifício onde funcionava o Detran, é lento: a previsão de inauguração do espaço desenhado por Niemeyer era de junho de 2009. Até fevereiro, somente o térreo e o mezanino, onde funciona a administração do museu, haviam sido abertos.
Em março, o anexo da nova sede foi inaugurado com a instigante mostra Sala de Espera, de Carlito Carvalhosa, junto às imagens do fotógrafo Mauro Restiffe, que tratam sobre a reforma do espaço.
+ Veja vídeo dos postes horizontais de Carlito Carvalhosa no anexo do MAC-USP
Agora, um novo pavimento do prédio ganha vida: o 7º andar, ocupado por duas mostras – O Agora, O Antes: uma Síntese do Acervo do MAC-USP e Di Humanista. A primeira, sob curadoria de Tadeu Chiarelli e Cristina Freire, reúne 85 obras do acervo de quase dez mil obras. A segunda diz respeito a um dos maiores nomes do movimento modernista, Di Cavalcanti: a curadora Katia Canton selecionou 67 de 500 trabalhos no acervo do museu. E a vista lá de cima, de 360º, realmente vale a pena.
Em O Agora, O Antes, Tadeu procurou promover alguns “encontros” entre artistas do fim do século 19 e início dos 20 com outros contemporâneos, dando novos significados aos trabalhos de ambas as épocas.
“Na primeira sala são mostrados retratos: o eu, o outro e o eu como o outro”, diz Tadeu. Estão ali autorretratos da fotógrafa americana Cindy Sherman e da pintora e desenhista brasileira Anitta Malfatti, assim como do italiano Modigliani e do paulistano Albano Afonso. “Enquanto Modigliani se retrata no centro do quadro como um herói, Afonso se mostra esfacelado no meio da própria arte”, reflete o curador. “Inclusive, fotografando a si próprio e colando atrás de uma reprodução do mesmo autorretrato de Modigliani.”
As próximas salas tratam sobre a questão da morte e a religiosidade, do lugar (e do objeto do lugar), da fotografia como documento e fonte de estudos, e as alegorias do Brasil. Não há indicação nelas. “É importante deixar os espectadores à vontade para fazer as suas próprias corelações”, afirma Tadeu.
Entre os destaques estão as ferramentas de trabalho artesanal, que também podem ganhar um significado de armas de fogo e remeter à morte, do jovem artista Thiago Honório, e logo ao lado, as igrejinhas retratadas por Alfredo Volpi, fazendo um contraponto à religião. Também é interessante notar a figura da mulher sob o ponto de vista de Pablo Picasso e de um autor não identificado do século 19, que produziu uma série de nus femininos.
Na seção da alegorias do Brasil está a famosa pintura A Negra (1923), de Tarsila do Amaral, “que poderia nos representar”, nas palavras de Tadeu. Para fechar a mostra, uma obra metalinguística: 19 fechaduras, sendo que uma delas reflete a imagem de um espelho. “A ideia é justamente a de fazer refletir a instituição MAC-USP, que está completando 50 anos, e o público, que é quem dá vida ao museu.”