Sig Bergamin lança novo livro que marca sua carreira de quase 50 anos
Arquiteto e designer de interiores paulista já atendeu personalidades como Maitê Proença e Jô Soares e assinou projetos em cidades como Nova York e Paris

“Aqui era um quintal, tinha até galinha e carro enferrujado”, começa Sig Bergamin, 71, ao apresentar seu escritório no bairro de Pinheiros. Livros e obras de arte preenchem cada espaço, com quadros de Zéh Palito, Maxwell Alexandre e OSGEMEOS por todas as paredes — que já tiveram vários tons, mas agora, totalmente brancas, traduzem o estado de espírito atual do arquiteto e designer de interiores: clean e minimalista, nas palavras da moda. “Mas prefiro chamar de ‘limpo’ e ‘essencial’ ”, rebate. É o oposto da estética pela qual ficou mais conhecido, com composições extravagantes e misturas inusitadas de cores e texturas. “Para me segurar na cor, foi difícil!”

Ocupado por ele há trinta anos, o local de trabalho sempre acompanhou suas transformações, mas as inspirações vêm de fora. “As cores e luzes são inspiradas por viagens internacionais e também pelo Brasil, porque igual a aqui não existe”, diz ele, que cita as passagens pela Ásia ao longo dos 48 anos de carreira, principalmente a Índia. Parte dessa história está estampada em seu novo livro, Eclectic, o terceiro produzido sobre ele pela Assouline, editora francesa especializada em publicações de luxo e design. Fora Sig, o único arquiteto brasileiro no catálogo da empresa foi Oscar Niemeyer.

Com um compilado de projetos dos dois últimos anos, o título ainda terá um lançamento oficial no Brasil, mas já está à venda em mais de trinta países. Em 300 páginas, é mais um exemplo da diversidade criativa que o acompanha desde a infância, vivida em Mirassol, no interior de São Paulo. “Quando era criança, meu quarto era branco e sem graça. Comecei a comprar tecido chita aos 12 anos com minhas economias e revolucionei. Ficou meio kitsch”, define. Sobre essa primeira criação, só recebeu feedback negativo. “Meu pai odiou, não deixava ninguém ver. E eu me questionava se era feio mesmo, mas não quis acreditar.”
Ao assumir com 15 anos a decoração do clube da cidade, descobriu sua vocação. “Depois ainda montei o Carnaval e fizeram um abaixo-assinado para eu entrar porque não permitiam menores de 18”, relembra. Um ano depois, mudou-se para a capital e passou quatro anos indo e voltando de ônibus até Santos, todos os dias, para estudar. “Acho que as pessoas pensam que nasci no Jardim Europa, mas vim para a cidade sozinho, sem conhecer nada.”
A primeira reviravolta nessa trajetória veio quando projetou a boate Gallery, que marcou os anos 1980 na noite paulistana. “Foi quando comecei a ficar conhecido, porque era um lugar público. Depois veio a CASACOR e pude extrapolar. Já coloquei até helicóptero, que acabou com o jardim do (paisagista) Marcelo Novaes, que quase me matou.” Desde então, ele já atendeu personalidades como Maitê Proença, Nizan Guanaes e Jô Soares e assinou projetos em cidades como Nova York, Paris, Roma, Londres e Lisboa.

“O Sig sempre foi um sonho para mim, já fiz duas casas com ele. No apartamento do Rio, falei que queria clean, mas quando vi pronto entendi que precisava ter cor”, conta a influenciadora Silvia Braz. “Ele é um ‘operário padrão’, daqueles que realmente gostam de trabalhar”, acrescenta seu amigo pessoal, o empresário Nizan Guanaes. “No escritório sempre tem cafezinho, champanhe e pão de queijo”, delicia-se a empresária Lica Melzer, uma de suas clientes. “Já tive aquele tipo de casa bem grande e colorida. Agora estou em um momento mais calmo e fizemos um apartamento em Nova York, que está no novo livro, mas sempre mantendo o borogodó e conforto típicos do Sig.”


Seu borogodó segue, sobretudo, o gosto de cada um — mas com ressalvas. “Para nossa casa na Fazenda Boa Vista, minha filha pediu várias boias em formato de sorvete e frutas para a piscina. Quando o Sig viu, quase teve um surto”, lembra Renata Queiroz de Moraes, empresária e consultora de lifestyle. “Tivemos um momento tenso até os dois sentarem juntos para fazer a curadoria certa.”

No mesmo condomínio de Renata, em Porto Feliz, interior de São Paulo, está sua próxima empreitada: o hotel de luxo Boa Vista Surf Lodge, com área de 8 000 metros quadrados, 57 acomodações e piscina de ondas. Inspirada no surfe e nos clubes de praia, a curadoria artística também será feita por Sig e Murilo Lomas, 42, seu marido e parceiro de trabalho.
“Nós nos conhecemos na escola St. Paul’s, em dia de votação para governador, e convidei ele para ir comprar tomate no mercado. Depois chamei para almoçar em casa”, diverte-se Sig. “Temos gostos muito parecidos, às vezes a gente se encontra pra sair e está com a mesma roupa por coincidência, ninguém acredita”, diz Murilo. “Estamos juntos há quinze anos. Uma das coisas que ele me ensinou é que estamos sempre mudando e a casa reflete esses momentos.”

No novo apartamento do casal, no Itaim Bibi, é tempo de despretensão, luz e nada de excessos. “Não pretendo parar de trabalhar nem me mudar para a praia, mas ao menos os fins de semana seria bom passar no campo com o Murilo e os cachorros”, planeja Sig.
Publicado em VEJA São Paulo de 7 de fevereiro de 2025, edição nº 2930.