São Paulo ganha primeiro laboratório permanente de artes imersivas
Inaugurado nos Campos Elíseos por pioneiro do video mapping, Alexis Anastasiou, Visualfarm Gymnasium exibe mostra sobre Leonardo da Vinci

Transportar-se para o meio dos campos de girassóis pintados por Vicent van Gogh ou mergulhar no universo surrealista de Salvador Dalí e flutuar por suas obras. Experiências como essas são possíveis graças às exposições imersivas, que se multiplicam na cidade impulsionadas pelo encantamento do público. Mas Alexis Anastasiou, 49, pretende ir além de projetar imagens nas paredes. Ele vem pesquisando esta linguagem artística há pelo menos duas décadas com o objetivo darlhe outra dimensão.
Especializado em video mapping (técnica de projeção mapeada em objetos ou superfícies), considerado um dos primeiros VJs do Brasil, o paulistano acaba de abrir, nos Campos Elíseos, o Visualfarm Gymnasium, um laboratório permanente de artes imersivas. Nos moldes do Atelier des Lumières, em Paris, ou do teamLab Borderless, em Tóquio, o espaço de mais de 2 000 metros quadrados na Praça Olavo Bilac visa explorar as possibilidades da fusão entre arte e tecnologia digital avançada. “Há uma crítica recorrente a esse tipo de arte, por considerá- -la superficial. Mas, além de inclusiva, ela permite criar experiências que levam o espectador a outro universo. Nosso propósito é criar exposições com profundidade de conteúdo e promover conhecimento”, explica o idealizador.

Equipado com tecnologia de ponta — como 35 projetores de altíssima definição, guinchos robóticos, servidores de vídeo e óculos de realidade virtual —, o espaço permite criar ambientes narrativos que combinam projeções, sons, cenografia, inteligência artificial e até aromas para gerar experiências multissensoriais. Um planetário digital com capacidade para 500 pessoas e um salão com 1 500 metros quadrados e pé-direito de 13 metros com um palco são destaques no complexo, que vai abrigar eventos variados. Uma maneira de ver tudo isso funcionando é visitar a exposição Visualfarm Gymnasium: Leonardo da Vinci, aberta na última terça (6). A mostra, que procura materializar a genialidade do mestre renascentista, que viveu entre 1452 e 1519, foi elaborada a partir de viagens à Itália para captar imagens e mergulhar em seu universo.

O circuito de cerca de oitenta minutos pode ser dividido em três partes, a começar por salas onde se reproduzem pinturas, figurinos — além de pintor, inventor, cientista, engenheiro e botânico, Da Vinci era encenador, escrevia, dirigia, musicava e criava maquinários para suas peças e, pasmem, desenvolvia desfiles carnavalescos — e estruturas, algumas em tamanho real, movimentadas por estrutura robótica, construídas a partir de seus cadernos de anotações (os códex). Outra sala, a Câmara Secreta, desvela fatos menos conhecidos do gênio, como seu apreço pelos animais, a dieta vegetariana ou o fato de ter antecipado, em suas pinturas, debates como diversidade e gênero fluido (há 500 anos!) — ele chegou a ser preso por sodomia, aos 24 anos, mas foi posteriormente absolvido, escapando da pena de morte. “A mostra parte do olhar de Leonardo diante dos mistérios da vida, das leis da física e das criações da natureza. Por isso, a expografia foi estruturada para que o visitante acompanhe o crescimento dessa curiosidade, percebendo como ele sempre buscou ir além do visível, explorando questões hoje consideradas modernas. Por trás do gênio há alguém absolutamente fascinado pelo desconhecido e profundamente à frente do seu tempo”, explica a curadora, Patricia Secco.
Outra sala, a Câmara Secreta, desvela fatos menos conhecidos do gênio, como seu apreço pelos animais, a dieta vegetariana ou o fato de ter antecipado, em suas pinturas, debates como diversidade e gênero fluido (há 500 anos!) — ele chegou a ser preso por sodomia, aos 24 anos, mas foi posteriormente absolvido, escapando da pena de morte. “A mostra parte do olhar de Leonardo diante dos mistérios da vida, das leis da física e das criações da natureza. Por isso, a expografia foi estruturada para que o visitante acompanhe o crescimento dessa curiosidade, percebendo como ele sempre buscou ir além do visível, explorando questões hoje consideradas modernas. Por trás do gênio pelo desconhecido e profundamente à frente do seu tempo”, explica a curadora, Patricia Secco.
Mais que a simples projeção de obras, a ideia foi oferecer ao visitante a oportunidade de vivenciar a inquietação e o fascínio do mestre com os temas abordados. Em outra ala, adentra-se um domo que projeta imagens internas e externas, refazendo a infância e a adolescência do pintor, numa espécie de maquete dinâmica do seu cérebro. Por fim, uma grande sala imersiva abriga uma reconstituição em escala real do refeitório de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde está pintada a célebre A Última Ceia. “A iluminação e as proporções foram pensadas para reproduzir o ponto de vista original da pintura, algo impossível de se obter por fotografias ou livros”, ressalta Alexis, que pretende que o público aproveite o espaço da forma e no tempo que desejar. Para isso, instalou dois bares na área, onde é possível tomar uma taça de vinho entre uma obra e outra. A mostra segue em cartaz pelo menos até o fim de maio, mas este é só o início do que o videoartista pensa para o local. “A ideia é ser um centro criativo para desenvolver conteúdos autorais e propor novas formas de contar histórias. Um espaço dedicado a pesquisa e eventos”, conta Alexis.

Nascido e criado na vizinhança, morador da Santa Cecília, Alexis Anastasiou começou a explorar os recursos do video mapping ainda na década de 1990. VJ de baladas eletrônicas, muitas vezes ele voltava para casa com o equipamento alugado para devolver no dia seguinte. Assim, começou a brincar com projetores e vislumbrar novas possibilidades. Em 2004, fundou a Visualfarm, estúdio onde desenvolve linguagens visuais que vão de projeções que se tornaram famosas a espetáculos de drones coordenados — um exemplo foi a coreografia executada por 200 câmeras voadoras que encerraram o desfile da Portela em homenagem a Milton Nascimento no Carnaval carioca deste ano. Responsável pelo primeiro espetáculo de projeção mapeada do país, no Theatro Municipal de São Paulo, em 2008, também criou a icônica instalação que fez o Cristo Redentor, no Rio, dar um abraço, trabalho premiado no Festival de Cannes, no Clio Awards e no New York Festival.

Responsável pelo primeiro espetáculo de projeção mapeada do país, no Theatro Municipal de São Paulo, em 2008, também criou a icônica instalação que fez o Cristo Redentor, no Rio, dar um abraço, trabalho premiado no Festival de Cannes, no Clio Awards e no New York Festival. Alexis também é o idealizador do Festival de Luzes, realizado desde 2018 em São Paulo, Florianópolis e Rio. A nova edição do evento na capital está marcada para agosto, mas até lá haverá prévias (veja o quadro). Seu objetivo é espalhar luzes e beleza pela cidade e tornar a arte imersiva mais respeitada e acessível. A trajetória do grande Leonardo da Vinci não nega: são os sonhos que precedem os grandes feitos.
Visualfarm Gymnasium: Leonardo da Vinci. Praça Olavo Bilac, 38, Campos Elíseos, Tel: 91399-1200. →. Ter. a qui., 12h/22h. Sex. a dom., 10h/22h (fecha seg.). R$ 30,00 a R$ 90,00. Até 31/5. feverup.com.