Ruben Feffer, herdeiro da Suzano, é responsável por trilhas do cinema

O profissional se dedica há vinte anos a compor esse tipo de trabalho, como o do novo desenho 'Tito e os Pássaros'

Por Miguel Barbieri Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 fev 2019, 09h30 - Publicado em 15 fev 2019, 06h00
Ruben Feffer em Los Angeles: à procura de escritório para filial americana (PEDRO COLO/Veja SP)
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Há duas décadas, Ruben Feffer decidiu dar uma guinada na vida. Largou o bom cargo de analista de suprimentos na Suzano Papel e Celulose, empresa fundada por seu avô nos anos 30, para se dedicar à música. A família não se opôs e até o incentivou. Hoje, aos 48 anos, Ruben, apelidado de Binho, é um requisitado compositor de trilhas sonoras. A mais recente delas foi feita para a animação Tito e os Pássaros, em cartaz nos cinemas.

A história dos Feffer se confunde com a de várias outras famílias de judeus imigrantes. Leon, o patriarca, fugiu da Ucrânia em decorrência de perseguição religiosa e foi acolhido em São Paulo pela comunidade judaica. Virou industrial só aos 50 anos, depois de se casar e ter dois filhos — Max Feffer (nome dado ao túnel subterrâneo da Avenida Cidade Jardim em sua homenagem) foi quem fez a Suzano prosperar internacionalmente na década de 70, usando a fibra do eucalipto na industrialização do papel.

Os Feffer, contudo, sempre foram ligados à música. “Um violino está para um judeu assim como uma bola de futebol está para o brasileiro”, exemplifica Ruben, o caçula de quatro irmãos. Max, que morreu em 2001, foi secretário de Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo no governo de Paulo Egydio Martins, entre 1976 e 1979, realizou o primeiro festival de jazz da capital e esteve na linha de frente do Festival de Inverno de Campos do Jordão. “Astor Piazzolla ficou hospedado em casa e por lá circulavam de João Carlos Martins ao Zimbo Trio”, relembra Ruben, criado no Jardim América.

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Três gerações: Max, Leon e Ruben num encontro musical, em 1987 (Arquivo pessoal / reprodução/Veja SP)

Crescendo ao som de estrelas como Ella Fitz gerald e Billie Holiday, ele estudou na escola judaica Peretz, passou pelo Bandeirantes e pela Graded School até se formar em administração pelo Mackenzie. Durante um bom tempo, teve jornada tripla: das 7 às 11 horas estava na faculdade; seguia, então, para a Suzano, onde trabalhava até as 17 horas; e, à noite, tocava em barzinhos. “Aos 28 anos, já tinha autoestima para confiar no meu taco e me dedicar ao que eu sempre gostei de fazer.”

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Tendo em sua formação musical talentos como o pianista Caio Pagano, Binho começou compondo trilhas para peças de teatro e publicidade, fase em que conheceu Gustavo Kurlat. Juntos, eles criaram as canções dos longas de animação Garoto Cósmico (2007), O Menino e o Mundo (2013), ambos do diretor Alê Abreu, e Tito e os Pássaros. “Gustavo toca violão, e eu fico no teclado; ele entra com a melodia, eu com a harmonia”, esclarece. “A principal qualidade do Binho é a generosidade. Ele sabe ouvir o outro lado, e vem daí a riqueza do nosso trabalho”, resume Kurlat. “A pessoa mais workaholic que eu conheço”, na definição de sua mulher, Flavia, mãe de seus dois filhos (ele tem mais dois meninos de um casamento anterior), Binho tenta se multiplicar nas 24 horas do dia. Faz parte do conselho da Suzano (com duas reuniões mensais) e é sócio da Elo Company, distribuidora de filmes, e da produtora musical Ultrassom Music Ideas.

No fim de 2018, foi com a família para os Estados Unidos para um misto de férias e trabalho numa estada de cinquenta dias. Além de fazer contatos e participar da cerimônia do Annie Awards (o Oscar da animação), em que Tito e os Pássaros foi um dos concorrentes, o casal esteve à procura de um escritório em Los Angeles para abrir a filial americana da Elo e da Ultrassom. Em qualquer horinha vaga, ele tentava compor. “Gustavo e Binho são como Lennon e McCartney. Eles se completam e sabem, exatamente, o que o diretor quer”, diz Alê Abreu. Embora O Menino e o Mundo, indicado ao Oscar em 2016, tenha dado projeção internacional à dupla, o trabalho mais grandioso dos dois está em Tito e os Pássaros, com trechos de suas canções gravados no estúdio inglês Abbey Road e que chegou a ter trinta músicos executando a trilha, o que resultou numa produção orquestral de primeiríssima linha.

Momentos inesquecíveis

Três trilhas sonoras que marcaram sua carreira

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Angie
(Divulgação/Divulgação)

Angie (2013)

“Meu primeiro trabalho num filme americano, dirigido pelo ator Marcio Garcia. Tive um mês para compor e ganhei o prêmio de melhor trilha no Los Angeles Brazilian Film Festival”

“O Menino e o Mundo”
(Divulgação/Divulgação)
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O Menino e o Mundo (2013)

“A animação foi para o Oscar, e participei da cerimônia. Como é um evento feito para a TV, fica um silêncio nos intervalos e, na transmissão, pedem aplausos”

Tito e os Pássaros
(Divulgação/Divulgação)

Tito e os Pássaros (2019)

“O estúdio Abbey Road, onde os Beatles gravaram, tinha o melhor custo-benefício. Gravamos em um dia com catorze músicos da Filarmônica de Londres”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 20 de fevereiro de 2019, edição nº 2622.

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