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Ricardo Almeida terá loja em Higienópolis

Com quarenta anos de carreira, estilista que já vestiu de Lula a Cauã Reymond renova sua marca de alfaiataria

Por Humberto Abdo
Atualizado em 13 jun 2025, 14h03 - Publicado em 13 jun 2025, 09h09
Ricardo Almeida em seu estúdio no complexo Cidade Matarazzo, com três fotos dele em tons neon, a partir da esquerda vermelho, azul e verde claro
Ricardo Almeida em seu estúdio no complexo Cidade Matarazzo (Leo Martins/Veja SP)
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Prestes a inaugurar uma loja no Shopping Pátio Higienópolis em julho, Ricardo Almeida, 70, completa quarenta anos de carreira preservando o rigor de alfaiate e a alma jovem. Com fábrica no Bom Retiro e 800 colaboradores, ele trabalha desde o ano passado em um estúdio no Aya Hub, prédio do Cidade Matarazzo, complexo onde também escolheu morar. Por lá, divide espaço com a RA2, nova marca comandada pelos filhos Arthur e Ricardinho em sociedade com Gabriel Pascolato, e recebe seus clientes apenas com hora marcada.

Foi com o estilo discreto e preciso que já vestiu o presidente Lula no primeiro mandato e celebridades como Rodrigo Santoro, Thiago Lacerda e Cauã Reymond. Assim como em seu antigo endereço na Vila Nova Conceição, o local atual tem sido um ponto de encontro com direito a mesas de pingue-pongue e sinuca e simuladores de corrida com carros de Fórmula 1 em tamanho real. A potente caixa de som Void e os provadores com luzes em todas as cores completam esse ar moderno — o mesmo clima que o estilista pretende imprimir na empresa pelos próximos anos, além de replicar o visual da nova loja em todas as unidades.

Como nasceu a ideia de criar seu novo estúdio?

Visitei aqui pela primeira vez em 2018 a convite do Jayme Monjardim. Depois de uma hora decidi que queria um apartamento aqui. No dia seguinte estava assinando o contrato sem nem ler, ainda com metade (das construções) para acabar. Quando tinha meu estúdio na Vila Nova Conceição, em uma vila de casas, eu morava em uma delas e mantive o escritório por uns vinte anos. Tinha até uma balada embaixo, cheguei a fazer festas para umas 500 pessoas (risos).

Qual foi a primeira vez que você se sentiu bem-sucedido?

Tenho um pouco de TOC, sempre acho que dá para fazer melhor, então nunca estou muito convencido de que já cheguei lá. Quando saí da sociedade na Bandeira Paulista e montei minha primeira fábrica, foi um superpasso, assim como quando parei de vender para todos os lojistas e abri uma loja no Morumbi. Aí quase quebrei, porque a estrutura era grande, mas conseguimos fazer do jeito que eu queria.

Qual foi o maior aprendizado dessa fase?

Já passei por coisa pior. Tive antes uma marca, e depois de quatro anos os sócios acharam que estava arrebentando de vender, então disseram para eu sair ou comprar a parte deles. Eu só tinha 30% e sempre me virei, meu pai nunca me deu dinheiro. Tive que sair e foi o pior acontecimento para mim porque aí ninguém te olha mais. Das pessoas que se diziam amigas e viviam me bajulando, todas vazaram.

O que você herdou do seu pai na forma de trabalhar?

Comecei a trabalhar aos 11 anos com ele e aos 18 já tinha aprendido tudo sobre a gestão de uma empresa. Por sorte, aprendi a parte chata que a pessoa da criação muita vezes não gosta. Meu pai sempre foi muito certinho. Com meus filhos, acho que sou menos; a geração nova não quer muita gente no pé. Saio muito com eles, vou junto nas baladas (risos). Vários amigos meus são DJs e no início acharam estranho, mas hoje também são os melhores amigos dos meus filhos.

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Qual é o seu envolvimento na marca deles?

Eles usam toda a minha estrutura de modelagem e pesquisam peças que fiz no passado, assim como as que trago de fora. Muitas eu nunca nem usei, mas compro porque é lindo (risos). Hoje tenho muito mais envolvimento com os meus filhos do que propriamente com a Ricardo Almeida, que tem uma equipe e uma diretora que trabalha comigo há 33 anos. Ela já sabe como eu penso, então só mexo em projetos novos. E a RA2 acaba virando um laboratório com ideias que depois também vão para a Ricardo Almeida, mas em um contexto mais enxuto.

E quais serão os próximos projetos?

Vamos montar uma fábrica de jaquetas de couro e estamos abrindo essa loja em Higienópolis com uma nova aparência, mais próxima dessa proposta do estúdio. Depois vamos renovar as outras unidades com esse estilo. Também vamos reforçar o setor feminino, que por a só fazemos no estúdio. Já tivemos lojas femininas, mas fechei porque acredito na roupa de um jeito, aí às vezes chegam na loja querendo de outro. Como fazemos sob medida também, às vezes isso tirava a cara da marca e eu não conseguia dominar esse processo, o que me perturbava muito.

Você nunca pensou em expandir internacionalmente?

Nunca. Não quero, primeiro porque tenho 70 anos. Para expandir, teria que morar lá fora, e o ramo da alfaiataria já está enraizado na Europa. E minha família está toda aqui, meus amigos todos e as baladas todas também (risos).

O que você acha da ascensão do streetwear e do sportswear no mercado de luxo?

Essas misturas são importantes, é legal poder combinar as proporções, usar um paletó com uma calça oversized ou o contrário. Mas existe um erro muito grande ao rotular as marcas diferenciadas como marcas de luxo. Essas marcas fazem arte em forma de roupa, que é como também me posiciono. Depois as fast fashion vão lá e copiam. Luxo qualquer um vai lá e compra.

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Qual é o futuro da sua marca?

Já tenho dentro da empresa uma auditoria para o caso de fazermos um rolo lá fora. Já falei para os meus filhos: “Vocês têm cinco anos para aprender tudo. Se não aprenderem, vou ver o que fazer”. Pode ser que eu pegue e venda 20% da empresa pra gente lá fora.

Você disse que tem uma espécie de TOC. Quais são as suas manias e vícios?

Quando o negócio não está bom, chego a fazer 500 camisas até chegar aonde quero. Às vezes é uma diferença de 3 milímetros. Meu luxo é poder jogar pingue-pongue e tênis ou procurar um carro antigo. E meu maior vício é música, um som mais pesado, que mexe com a minha cabeça. Já fui ao Burning Man três vezes. Eu costumava dormir com o som ligado no maior volume, porque deixava a cabeça viajando. Minha mulher queria morrer (risos).

Você também é fã de moto. Ainda pilota?

Eu só ando de moto, sou anticarro! Daqui até a fábrica consigo chegar em dez minutos. Uso bastante uma Triumph 660, que anda superbem. É uma moto de fuga.

E já precisou fugir?

Ainda não (risos)!

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Ricardo Almeida
Ricardo Almeida (Leo Martins/Veja SP)

Publicado em VEJA São Paulo de 13 de junho de 2025, edição nº 2948

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