Relembre a discografia completa do Titãs
Entre o pop acústico e o punk, a banda experimentou de tudo. Acompanhe, álbum a álbum, a trajetória de um dos maiores grupos brasileiros
De 1984 a 2009, o Titãs lançou onze discos de estúdio, seis álbuns ao vivo, uma coletânea dupla e um CD de versões. Não foi uma trajetória descrita em linha reta. Nos trinta anos de carreira, a banda experimentou do grunge ao pop, plugou-se e desplugou-se (em um bem sucedido projeto acústico da MTV), ousou e repetiu truques antigos e, por fim, escreveu algumas das canções brasileiras mais memoráveis das últimas décadas. Aos fãs, o marasmo criativo dos dois últimos álbuns pode soar desanimador. Mas, como poucas outras bandas nacionais, o quarteto sabe surpreender. Relembre na lista abaixo, disco a disco, essa história musical:
Titãs (1984)
Impulsionado pelo hit Sonífera Ilha, que vendeu 60.000 compactos, o disco de estréia do grupo tinha tudo para ser um sucesso. Mas não foi – vendeu apenas 50.000 unidades. No repertório, versões como Marvin (para Patches, de Ronald Dunbar e G.N. Johnson) e Querem Meu Sangue (para The Harder They Come, de Jimmy Cliff) foram ofuscadas por uma produção precária. Apesar das participações em programas de TV como o Cassino do Chacrinha, ainda não era o grande momento da banda.
Televisão (1985)
O conceito parecia promissor: como numa espécie de “zapping” sonoro, cada canção do disco representaria um canal de TV. Na prática, no entanto, a diversidade pop (produzida por Lulu Santos) soou confusa e fracassou nas prateleiras – vendeu 24.000 cópías. Músicas como Pra Dizer Adeus, Insensível e Não Vou Me Adaptar foram regeneradas pelo grupo nos anos 90. Mas foi a faixa de encerramento, Massacre, que apontou para a ruptura do disco seguinte.
Cabeça Dinossauro (1986)
A primeira parceria do conjunto com o produtor Liminha aparece com freqüência em listas de melhores discos brasileiros de todos os tempos. Não à toa. Influenciados por um período conturbado – Tony Bellotto e Arnaldo Antunes foram presos por porte de heroína no fim de 1985 -, os integrantes encontraram no peso sonoro e poético uma estratégia para unir canções de verve punk, como Polícia e Bichos Escrotos. No início deste ano, a banda retomou o repertório em uma série de shows.
Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas (1987)
O álbum reprisou a sonoridade pesada do anterior, que definiu uma identidade para a banda, com músicas diretas e potentes como Diversão, Desordem e Lugar Nenhum. Novamente, foram bem recebidos pela crítica.
Õ Blésq Blom (1989)
Depois de lançar o ao vivo Go Back, em 1988, o Titãs iniciou um novo ciclo com um disco menos nervoso e compacto que os dois anteriores. Com acenos tanto para a Tropicália quanto para o repente pernambucano (o disco é aberto por uma introdução cantada pela dupla Mauro e Quitéria), o disco mostrou um bom equilíbrio entre o pop (de Flores, por exemplo) e a inspiração punk (Miséria, O Pulso).
Tudo ao Mesmo Tempo Agora (1991)
Produzido pela própria banda, o disco deu meia-volta e retornou à crueza da fase Cabeça Dinossauro, com letras ainda mais agressivas, como as de Saia de Mim e Isso para Mim é Perfume, e influência do grunge americano. Recebido sem entusiasmo tanto pelo público quanto pela crítica, foi elogiado por Caetano Veloso. No ano seguinte, Arnaldo Antunes saiu da banda para dedicar-se à carreira-solo.
Titanomaquia (1993)
Com produção caprichada de Jack Endino (de Bleach, do Nirvana), o disco tornou ainda mais explícita a aproximação entre o Titãs e o grunge. As duas músicas de abertura, Será que é Disso que eu Necessito? e Nem Sempre se Pode ser Deus, foram acolhidas pela MTV, mas cresceram principalmente no palco.
Domingo (1995)
Desgastados pelo declínio da popularidade e pelo fim da onda grunge, os Titãs tiraram respiraram em projetos paralelos: Nando Reis e Paulo Miklos lançaram discos-solo e Tony Bellotto embarcou na carreira literária. De volta ao estúdio, novamente com o produtor Jack Endino, retomaram o espírito pop de Õ Blésq Blom em um álbum mais diversificado e palatável, marcado por novos hits como a faixa-título e a versão de Eu Não Aguento, da banda Tiroteio.
Acústico MTV Titãs (1997)/Volume Dois (1998)/As Dez Mais (1999)
Na segunda metade dos anos 90, a banda visitou a própria história em projetos pop que, popularíssimos, funcionaram também nos palcos. No período, canções como Os Cegos do Castelo, Nem Cinco Minutos Guardados e a versão para Aluga-se, de Raul Seixas, entraram no repertório do grupo.
A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001)
Depois de mergulhar no pop e abusar do formato acústico, o Titãs voltou à boa forma de 1995 com um disco sem tantos excessos, bem produzido (por Jack Endino, de novo) e com boas canções como Epitáfio, o último grande sucesso deles, Isso e O Mundo é Bão, Sebastião! Durante a produção, em junho de 2001, o guitarrista Marcelo Fromer foi atropelado por um motociclista e morreu. No ano seguinte, Nando Reis saiu do grupo.
Como Estão Vocês? (2003)
Produzido por Liminha, o disco soa como uma continuação do anterior, pontuado por canções de amor e arranjos pop. Enquanto Houver Sol e Provas de Amor, apesar de sob medida para as rádios, não provocaram tanto impacto.
Sacos Plásticos (2009)
Apesar de ter vencido o Grammy Latino de melhor disco de rock em 2009, trata-se do álbum menos marcante da banda. A produção de Rick Bonadio, conhecido pelo trabalho em bandas teen como NxZero e Fresno, lima a força das canções. Apenas a balada Porque eu Sei que é Amor, cantada por Paulo Miklos, fez alguma diferença. No início de 2010, Charles Gavin deixou a banda.