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Quadrinista que ilustrou capas dos Ratos de Porão lança assinatura de gibi

Francisco Marcatti conta que dedica até 14 horas por dia em suas obras, as quais descreve como "desaconselháveis a todas as idades”; banda celebra 40 anos

Por Guilherme Queiroz
19 nov 2021, 06h00

Antes eu tinha um profundo ódio da raça humana e hoje me agrada a nossa estupidez. Ela é hilária”, resume Francisco Marcatti, 59. O artista do icônico encarte do álbum Brasil (1989) da banda de punk rock Ratos de Porão já desenhou, roteirizou e imprimiu mais de 3 000 páginas de quadrinhos de forma independente desde 1981.

Seus desenhos rondam temáticas do estágio mais puro da natureza humana: as necessidades fisiológicas. Não por acaso, suas publicações têm um “+18” estampado na capa, por iniciativa do próprio autor. “O meu humor é extremamente agressivo, desconfortável, mas não agrido ninguém. Eu atinjo todas as pessoas”, explica. Frauzio, sua principal série de publicações desde 2001, conta as aventuras de um rapaz masturbador compulsivo, desempregado e, nas palavras do autor, “folgado para c…”

Morador do Tatuapé desde criança, Marcatti não muda o tom de voz calmo entre os palavrões que solta durante a entrevista. É uma prévia de sua própria obra. Entre ereções, ejaculações, vômitos e defecações, os desenhos grotescos são sua principal fonte de renda. De uma impressora que fica na casa onde ele mora com a esposa saem os cerca de setenta exemplares que vão para os assinantes, mensalmente, todos autografados e com histórias inéditas.

“Eu trabalho até catorze horas por dia para dar conta de tudo. Minha esposa me ajuda com o acabamento final”, conta o paulistano. O projeto, iniciado há poucas semanas, é financiado pela plataforma Catarse: cada leitor contribui com no mínimo 15 reais, recebendo o gibi de 16 páginas em casa. “São entre 108 e 110 quadrinhos por edição”, diz o artista.

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Marcatti ainda é encontrado por novos leitores pelos traços presentes em quatro álbuns dos Ratos, que completam quarenta anos de carreira com uma sequência de shows em Pinheiros. O CD Brasil alavancou seu trabalho. “O disco tem uma importância tão grande que anos depois ainda desperta atenção. Junto com ele meu trabalho saiu do porão”, brinca.

A imagem mostra uma ilustração de um menino caricatural, sem dentes, em um campo de futebol. No entorno, caos: um cemitério, um grupo de três pessoas fazendo outra de refém com uma arma, policiais batendo em outros garotos, um palhaço com expressão assustadora segurando duas crianças.
Encarte do álbum Brasil: trabalho alavancado (Divulgação/Divulgação)

Pai de quatro filhos, o quadrinista diz que seus leitores não têm um perfil definido. “Tem gente de 18 anos, 60, mulheres, homens, casais. Até gente que assina e não deixa que os filhos leiam”, conta. “O meu tipo de humor me segregou do mercado. Ninguém vai publicar com a frequência e o volume que eu faço.”

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O paulistano mantém um site onde vende todas as suas obras, desde as primeiras. Mas nem só sexo e fezes habitam seu universo. Enquanto publica Frauzio, finaliza um livro de quadrinhos sobre a relação de Inês de Castro com dom Pedro I de Portugal. Logo depois, vai continuar uma adaptação ilustrada de Os Miseráveis, de Victor Hugo.

O escatológico nem sempre fez parte da ponta do lápis. O começo de carreira, em 1977, foi na revista Papagaio, iniciativa dos alunos do Colégio Equipe, quando o apresentador Serginho Groisman era o coordenador das atividades culturais da instituição. No início, as histórias eram sobre política, “comportamento, crítica social. Eram quase panfletárias”, lembra.

A prevalência dos “quadrinhos nojentos e desaconselháveis a todas as idades”, como ele mesmo definia nos encartes das obras, começou em 1986. “Era algo natural para mim, mas que ainda estava escondido.”

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Fora das páginas, é do blues. Durante mais de uma década foi também luthier, construindo guitarras. Depois de um infarto há alguns anos, diminuiu o ritmo. “Agora fico mais em casa, saio pouco”, diz. A agitação dos tempos em que festivais punk rolavam no Sesc Pompeia, no entanto, ainda ferve: a inspiração transborda quando Marcatti abre um dos velhos DVDs e assiste a um show ao vivo dos Ratos. “Amizade legal para…”, resume, sobre sua relação com João Gordo e Jão, membros da banda.

Quarenta anos dos Ratos de Porão

A foto mostra os quatro integrantes, em pé e sérios, da banda Rato do Porão
A banda Ratos de Porão: tocando as mais famosas em Pinheiros (Clayton Clemente/Divulgação)

Fundada em novembro de 1981, a banda de punk, hardcore e metal comemora as bodas de esmeralda com uma sequência de shows na La Iglesia Borratxeria, em Pinheiros. Em cada conjunto de apresentações será tocado um dos cinco primeiros álbuns do conjunto. Os shows começaram na sexta (19) e seguem até 18 de dezembro, sempre às sextas e aos sábados, com ingressos na casa dos 90 reais, vendidos pelo site Clube do Ingresso.

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Confira a programação:
19 e 20 de novembro — Crucificados pelo Sistema
26 e 27 de novembro — Descanse em Paz
3 e 4 de dezembro — Cada Dia Mais Sujo e Agressivo
10 e 11 de dezembro — Brasil
17 e 18 de dezembro — Anarkophobia
La Iglesia Borratxeria. Rua João Moura, 515, Pinheiros

+Assine a Vejinha a partir de 6,90.

Publicado em VEJA São Paulo de 24 de novembro de 2021, edição nº 2765

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