Primeira Bienal do Lixo discutirá consciência ambiental por meio da arte
Intervenções artísticas, oficinas, mostra de cinema, palestras e painéis sobre o tema também fazem parte da programação no Parque Villa Lobos
Inspirada em uma corrente artística mundial impulsionada pelos problemas ambientais, a primeira edição da Bienal do Lixo de São Paulo ocupará o Parque Villa Lobos com o propósito de discutir as relações do homem com o meio ambiente por meio da arte. O evento, gratuito, começa em 26 de maio, ocupa 3 000 metros quadrados e reúne obras feitas a partir de material de descarte. Intervenções artísticas, oficinas, mostra de cinema, palestras e painéis sobre o tema também fazem parte da programação.
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Segundo Rita Reis, diretora-executiva da Bienal do Lixo, a ideia é promover, por meio da arte e da cultura, novos olhares e abordagens sobre os principais desafios para a preservação ambiental (de água limpa a mudanças climáticas), ampliando os diálogos junto à sociedade e todos os setores: público, privado e instituições não governamentais envolvidas, criando uma “responsabilidade compartilhada”.
Nem mesmo a escolha do lugar foi feita ao acaso. A área em que está instalado hoje o Parque Villa Lobos já foi um lixão clandestino. O projeto de recuperação ambiental resultou na inauguração do parque, em 1994, depois de amplo projeto urbanístico. Rita enfatiza, assim, que o Parque Villa Lobos é um “exemplo de transformação”. “Queremos que os visitantes vejam isso nas obras de arte também”, diz.
Sobre o processo de curadoria e construção da exposição das obras feitas a partir de resíduos materiais, Ca Cau, multiartista e curador da Bienal do Lixo, optou por artistas que não tivessem somente conhecimentos técnicos, mas que pudessem contribuir também com um discurso que chamasse atenção para a questão da consciência ambiental por meio das obras de arte. Entre os selecionados estão Bordalo II, Jota Azevedo, Carmem Seibert, Jorge Solyano, Rafael Zaca, Leo Piló, Afonso Campos, Ubiratan Fernandes e Luê Andradde.
O próprio Ca Cau, que trabalha com diversos tipos de material e formatos de arte, também terá peças expostas na Bienal. Em seu trabalho, ele explica que preza muito pelo diálogo social. “Eu trago tanto o tema ambiental como a ação educativa e também dou visibilidade para instituições sociais que não têm. A arte também é um grito, um despertar, é crítica.”
Outro artista que contribui com a exposição é Valter Nu, que trabalha há trinta anos com peças feitas de material reaproveitado. Uma de suas obras para a Bienal é A Química do Amor, que ainda está sendo finalizada e é composta de blisters de medicamentos. Ele reparou, durante a pandemia, na enorme quantidade de cartelas de antidepressivos que estava sendo descartada e partiu dessa ideia para sua criação em forma de coração. Muitas pessoas o ajudaram na coleta desse material e, por isso, Valter considera que se trata de uma escultura coletiva. “É uma orquestra”, compara.
Ele explica que a peça surge a partir do momento em que se voltou a um lugar em que nunca tinha estado, “esse lugar dos amores, da necessidade do afeto”, exposta no momento de isolamento ocasionado pela pandemia, quando se viu sozinho. O amor, que não fazia parte de seu roteiro, invade seu repertório, a partir daí.
Na programação, empresas e organizações apresentarão ao público como elas vêm investindo em novos processos e modelos de negócios sustentáveis para reduzir o impacto ambiental. Projeto com apoio de lei de incentivo à cultura, a Bienal do Lixo também terá uma contrapartida social, um ciclo de oficinas e palestras de “Arte pela Consciência” em escolas públicas da capital paulista, para estudantes e professores.
Bienal do Lixo. Meu Impacto, Minha Responsabilidade. De 26 de maio a 5 de junho de 2022. Parque Villa Lobos (esplanada e biblioteca, Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1365, Alto de Pinheiros). Grátis (é preciso retirar ingressos em https://www.bienaldolixo.com.br). ♿
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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de maio de 2022, edição nº 2790