Pinky Wainer se reinventa em nova individual focada na crítica à masculinidade
Artista mira pincel nos homens brancos, bilionários e poderosos, explorando novo formato e técnica; "descobri outra aquarela minha, demorada e mais agressiva"
Saem as mulheres, entram os homens em Pinky Wainer 23.11 a 21.12.24, nova individual da artista carioca, a partir de sábado (23), no Projeto Vênus. A galeria em Higienópolis a representa desde 2022, quando retornou ao mundo das exposições após vinte anos sem expor solo. Se o retorno foi com o mesmo foco de seus trabalhos dos anos 90 — a figura feminina —, agora, ela mira seu pincel nos homens brancos, bilionários e poderosos. “São as imagens que acho que os homens que mandam no mundo têm”, define.
No último ano, as doze telas que compõem a mostra tomaram as paredes da casa que divide com o marido, Zuca, dois cachorros e um gato. “O meu ateliê é a minha casa. Gosto de dormir com tudo pertinho de mim.” Acostumada a pintar em menor escala, misturando técnicas com a aquarela como base, foi a compra de um rolo de lona de algodão cru que levou Pinky a produzir peças maiores, com novos materiais, como o acrílico. “A escala me provocou. A partir daí não havia hipótese de pintar pequeno, todos os pedaços que pendurava na parede eram grandes, maiores que eu”, diz.
“Esse é um ponto de virada na trajetória dela, sobretudo na questão técnica, indo para as pinceladas mais vigorosas em grande escala, até chegar nessa pintura muito singular”, afirma Eder Chiodetto, curador da exposição. Parte do processo criativo incluía visitas de Eder à casa-ateliê, quando buscavam referências e conversavam sobre política. “As obras são um espelho da visão crítica que ela tem do mundo contemporâneo. A Pinky é uma das pessoas mais bem informadas que conheço”, afirma.
Uma das leituras que inspirou o tema da mostra foi A Segunda Guerra Fria, de Luiz Alberto Moniz Bandeira. “Esse livro me deu o panorama geral. Ele explica como a política interfere nas relações entre os países”, conta Pinky. Os retratos em grandes dimensões representam pessoas reais — como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e Hans Heinrich von Thyssen-Bornemisza, herdeiro da família que fornecia armas para o exército nazista — ou não. Algumas figuras personificam a postura e o olhar dessa masculinidade controladora, na visão da artista. Uma delas (abaixo) surgiu de uma experimentação com inteligência artificial, auxiliada pela neta Helena. Da imagem gerada pela máquina, veio a inspiração para o homem pálido com uma torre entre as pernas. Em uma tela, os homens dão lugar a um par de lobos. “Está muito respeitoso”, foi o que pensou antes de escrever em letras garrafais sobre algumas obras, com tinta rosa-choque. Em inglês, porque, afirma, “esses homens só falam inglês”.
Prestes a completar 70 anos, no dia 8 de dezembro, Pinky viu sua filha, Rita, seguir seus passos como artista. Mãe também do fotógrafo e cineasta João e do produtor André, avó de quatro netos, ela adotou uma nova forma de fazer arte. “Já dei tanta aula ensinando os alunos a ter coragem e desrespeitar as normas do que estão pintando. Foi uma oportunidade para eu fazer o mesmo”, conta ela, que há uma década ensina aquarela. “Enquanto fazia a exposição, descobri outra aquarela minha, demorada e mais agressiva. Quero estar cada vez mais afiada.”
Projeto Vênus. Travessa Dona Paula, 134, Higienópolis. Ter. a sex., 10h/19h. Sáb., 11h/17h. Grátis. Até 21/12. @projetovenus.sp.
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920.