Seleção feminina de rúgbi disputa etapa do Mundial
Time também quer fazer bonito na Olimpíada do Rio de Janeiro
A principal equipe de rúgbi da Nova Zelândia, uma das melhores do mundo, costuma realizar um antigo ritual de dança de guerra maori antes das partidas. Os All Blacks, como o time é mais conhecido, passam minutos rugindo e trincando os músculos diante dos adversários, que assistem a tudo parados, num misto de reverência e temor. Quem vê a cena tem dificuldade de imaginar como é possível que exista uma versão feminina do esporte.
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Mas as mulheres avançaram nesse campo, inclusive no Brasil. Nossa seleção reúne 34 atletas e treina desde 2000 na capital. O Estado de São Paulo é o maior celeiro de talentos da modalidade do país. Diariamente, as garotas aperfeiçoam as habilidades durante três horas e meia na Associação Atlética Banco do Brasil, no Jardim São Luís, e, duas vezes por semana, no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, na Vila Clementino, ambos os locais na Zona Sul da capital.
Os preparativos ganharam um nível maior de intensidade nas últimas semanas. O motivo é a oportunidade de disputar o circuito mundial feminino, ao lado das equipes do Canadá, da Espanha e da Holanda, entre outras. Pela primeira vez, uma das etapas da competição ocorre no Brasil. O torneio na cidade de Barueri, a 30 quilômetros de São Paulo, estava previsto para começar na última sexta e terminar neste sábado (22).
Campeãs nove vezes consecutivas na América do Sul, as brasileiras ocupam atualmente a oitava posição do ranking internacional da categoria Sevens, em que os times contam com sete integrantes (na modalidade mais conhecida do rúgbi, são quinze atletas de cada lado). “Quando comecei, só treinava com rapazes, pois não havia muitas mulheres praticando”, lembra Paula Ishibashi, de 28 anos, uma das craques da seleção. Atleta do Clube Atlético São Paulo (Spac), ela foi eleita no ano passado uma das melhores jogadoras do mundo.
Em 2009, com o objetivo de divulgar o esporte e arrecadar dinheiro para o Mundial, as atletas da seleção posaram nuas para um calendário. Quando entram em campo, porém, deixam de lado a sensualidade feminina e encarnam o papel de duronas. Munidas de protetor dental e, às vezes, de capacete, elas capricham na cara de brava e nos gritos de motivação. Não deixam a desejar também nos fortes empurrões e em outras ações violentas para retomar a posse de bola.
No lance chamado de tackle, por exemplo, a jogadora agarra ou derruba uma oponente para conseguir a bola. A prática rende cortes e lesões, mas as vitórias vêm em primeiro lugar. Desde o início do ano passado, elas são orientadas por dois profissionais estrangeiros, o treinador principal Chris Neill, da Nova Zelândia, e o auxiliar técnico Youssef Driss, da França, outro país com tradição no rúgbi.
“Enquanto os homens ficam bravos se não começam logo a jogar, as mulheres questionam tudo antes da partida, querem saber o porquê de cada detalhe”, conta Neill. Ele enfrenta barreiras com a língua para dar instruções: nem todas as jogadoras sabem inglês. O que o estrangeiro fala é traduzido simultaneamente pelas atletas que entendem. Nove jogadoras moram em uma casa no Morumbi, custeada pela Confederação Brasileira de Rugby.
A parede da sala é toda enfeitada com fotos das vitórias. Na residência, só pagam pela alimentação, indicada por uma nutricionista. Ganham, em média, salário de 2 500 reais. “Para minha vida pessoal, seria melhor ficar em São José dos Campos, de onde venho, mas para o esporte é melhor que eu viva aqui com elas”, afirma Edna Santini, de 21 anos, que divide o quarto com outras duas colegas e é a maior pontuadora do time. Depois da competição em Barueri, a grande meta dessas garotas é fazer bonito na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.