A inspiração que vem da Paralimpíada
Jogos em Tóquio terminam neste domingo (5). Paratletas adaptam a rotina de treinos
Com o término da Paralimpíada de Tóquio 2021 neste domingo, 5, a participação dos brasileiros no evento tem sido uma das fontes de inspiração para outros paratletas amadores e profissionais, que na pandemia precisaram interromper ou adaptar a rotina. Após dois anos em São Paulo, a alternativa para Roger Gross Jacintho, 22, foi retornar a Porto Alegre, sua cidade natal. “Sem ter as pernas, é difícil morar sozinho pela primeira vez, então tive de amadurecer e me sustentar com um salário mínimo”, observa. Roger nasceu com uma má-formação congênita e passou a praticar natação aos 13 anos. Seu foco mudou para o atletismo depois de ver o paraense Alan Fonteles correndo em uma das competições na Paralimpíada de 2012. “Vê-lo com as próteses chamou minha atenção e logo comecei a participar das competições.”
Jovem promessa da Associação Desportiva para Deficientes Físicos, agora ele se prepara para participar dos próximos Jogos Paralímpicos e tem o paratleta paulista Vinícius Rodrigues como uma de suas inspirações — e amizades. “Com tudo fechado e sem pista por mais de um ano, tive tempo para pensar na vida e até recuperei o ritmo”, comemora. “Mas pretendo voltar a São Paulo porque o Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro tem toda a estrutura e acompanhamento necessários… Antes eu podia treinar de segunda a sábado.”
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No tênis de mesa, Paulo Cesar de Oliveira, 40, também luta para manter o rendimento. “Como a mesa é cara, não dá para ter uma em casa e por enquanto só me preocupo em me manter ativo. No último campeonato, fui totalmente despreparado, mas me consagrei vice-campeão depois de quase dois anos sem treino”, celebra. Paulo conta que ficou paraplégico no trajeto para o trabalho. “Dei um farol alto no semáforo, o outro motorista me seguiu e acertou um tiro na minha coluna. Anos depois, me aposentei e virei atleta.” Guilherme Costa e Welder Camargo Knaf, ambos medalhistas do tênis de mesa, são alguns de seus ídolos.
Fora das disputas, encarar as calçadas acidentadas da cidade e os locais sem acesso a deficientes é outro perrengue constante. “Uma vez fui ao Terraço Itália e o espaço do bar tinha escadas… Alguns lugares não nos deixam entrar em situações como essa, dizem que não podem se responsabilizar (caso ocorram acidentes), mas em compensação me deram uma mesa no restaurante”, brinca.
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Para André de Almeida Marques, 27, que trabalha como professor de educação física no Colégio Miguel de Cervantes e acompanha os alunos de todos os anos, as dificuldades são extremamente individuais. “Nenhuma deficiência é igual. Temos alunos com síndrome de Down e autismo em diferentes graus”, diz. “O caminho é sempre ajudá-los a se adaptar à atividade e não mudar a dinâmica do esporte, para que eles se sintam incluídos. Precisa ser igual para todos.”
Um grave acidente de moto sofrido por André acabou reforçando sua paixão pelos esportes. “Eu cursava educação física na época e passei por meses de reabilitação durante os estudos”, conta. “Após ter me tornado cadeirante, foram os treinos que me ajudaram a superar essa fase e me deram independência de novo.” Dos treinos de paratriatlo praticados nos primeiros anos como cadeirante, hoje o professor concentra todo o seu tempo livre no fisiculturismo de cadeira de rodas. “Mas ainda pedalo, nado e faço musculação, o que dá cerca de quatro horas de treino”, descreve. O atleta Fernando Fernandes, conhecido por disseminar as modalidades adaptadas no Brasil, é uma de suas inspirações. “Esse é o meu hobby e amor. Como sinto que o esporte salvou minha vida, tenho uma sensação boa quando pratico e dou o meu melhor.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754
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