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Por trás das famosas fotos da série “Os Americanos”

O curador Samuel Titan Júnior comenta o famoso trabalho de Robert Frank, em cartaz no IMS. "Não é uma peça de propaganda pró ou antiamericana", diz

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 out 2017, 19h35 - Publicado em 20 out 2017, 19h31

Como mostrar diferentes aspectos de um artista sem apelar para um dualismo fácil? O alemão Gerard Steidl e os brasileiros Sergio Brugi e Samuel Titan Júnior, curadores da exposição sobre Robert Frank no Instituto Moreira Salles, têm um caminho. Na mostra, em cartaz até 30 de dezembro, eles conseguiram fazer um retrato multifacetado do fotógrafo suíço.

Na primeira parte da mostra, está a figura de uma celebridade consagrada pela série Os Americanos, um retrato dos Estados Unidos feito por um estrangeiro. Na segunda, o eterno underground que não se curva ao sucesso e foi descrito pelo escritor Jack Kerouak, como “suíço, discreto e simpático”.

Em conversa por telefone, Samuel Titan Júnior, um dos curadores, explicou algumas características do trabalho de Frank, considerado o pai da fotografia de rua. Confira abaixo alguns trechos da entrevista.

 

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Ranch market – Hollywood, uma das fotos da série Os Americanos (Créditos: © Robert Frank) (© Robert Frank/Veja SP)

 

Como é o retrato dos Estados Unidos feito por Robert Frank  em Os Americanos?

O livro Os Americanos não pode ser entendido como peça de propaganda pró ou antiamericana. Em primeiro lugar, diria que é a tentativa de um sujeito suíço de entender o país em que ele chegou. Isso, pelos meios próprios da fotografia.  Ele investiga, assim, quais são as configurações de raça, beleza, ambição, miséria, euforia e frustração nos Estados Unidos.

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O lugar é estranho ao fotógrafo, o Frank que faz essa série é um jovem que está tentando se ambientar,  entender esse país que, ao mesmo tempo, é muito vasto e muito provinciano. Um país que está na vanguarda de tantas coisas e na retaguarda de tantas outras mais. Nesse sentido, não tem dicotomia, do mesmo jeito que não tem propaganda, nem tese.

Um exemplo é a foto maravilhosa da babá negra com a criança branca. Ali, você nota intimidade, calor humano, entrega, mas também sente a separação de raças, a opressão e o preconceito.

 

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Parade – Hoboken, New Jerse, série Os Americanos (Créditos: © Robert Frank) (© Robert Frank/Veja SP)

 

A exposição pode ser dividida em eixos?

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Temos dois grandes eixos. A primeira parte se refere à exibição da série Os Americanos. Uma ocasião rara de ver o conjunto completo. Há três séries completas no mundo, a que exibimos pertence ao Maison Européenne de la Photographie de Paris. É um convite a uma atitude de imersão, já que é preciso se deixar aprofundar, levar pelas imagens. A segunda parte são os livros e filmes, onde você passa por uma retrospectiva da vida do Frank.

São duas facetas diferentes do Frank?

O Frank é um clássico que não se deixa capturar pelo conforto de ser um clássico. Ele é incomodado com sua condição. Considerando isso, outra maneira interessante de tentar juntar as duas metades da exposição é notar que, ao longo de toda carreira, desde quando ele estava fazendo Os Americanos, ele promovia constantes quebras, ia contra toda e qualquer ortodoxia que se apresentasse. Os Americanos é uma tentativa de ir na contramão da foto bem feita, bem enquadrada. Ela é uma quebra dele com o fotojornalismo, com a fotografia de moda e a  fotografia precedente. Esse gosto iconoclástico vai persistir ao longo da obra dele. É o clássico que tem horror ao se repetir.

 

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Funeral em Santa Helena, Carolina do Sul (Créditos: © Robert Frank) (© Robert Frank/Veja SP)
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Em alguns pontos há a justaposição das imagens, por que?

Um pouquinho é para quebrar a monotonia. Se você enfileira, a coisa vai ficando um pouco repetitiva. Outro motivo é porque, em alguns casos, as imagens fazem um eco muito forte entre si. Vou dar um exemplo, há um momento em que há em cima um jovem negro com roupas fúnebres. Ele está com a mão apoiada no queixo.  Logo abaixo, tem um casal branco assistindo a um rodeio. Se você reparar, o rapaz branco está com a mão no queixo também, mas em posição invertida.

Tanto no livro, quanto na mostra, não há uma linha narrativa por trás das fotos. De que formas elas se sustentam sem isso?

Elas se sustentam pela força visual, tem composições inesperadas. Tem muito uma tentativa de capturar uma cena antes que as pessoas comecem posar. Tem uma coisa meio visceral, de capturar aquele instante. No fundo, o que ele quis fazer foi o retrato de um país, de um povo, sem linha narrativa e sem uma descrição ancorada em uma tese.

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Na edição americana do livro, de 1959, Jack Kerouac escreve o prefácio. De que forma isso impacta o trabalho?

Kerouac ajuda a chamar atenção de um público mais amplo para esse fotógrafo que está nos Estados Unidos há mais de dez anos. Frank já figura entre os beatniks, já está meios fotográficos de Nova York,  mas é, em larga medida, desconhecido. A escolha tem a ver afinidade artística, mas, de alguma maneira, contribui para que o livro tenha repercussão também e Frank se torne um nome familiar para o maior número das pessoas.

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