O que vem por aí na noite paulistana
Proprietários de casas noturnas e organizadores de festas elegem as tendências das pistas em 2013
A noite paulistana mostrou em 2012 que está em constante busca de renovação. As festas itinerantes pegaram de vez, coletivos transformaram espaços públicos em pistas de dança, o boom do sertanejo universitário movimentou o mercado, o eletrônico voltou mais encorpado e experimental do que nunca.
Apesar desse fôlego, o cenário atravessa o ano ainda estagnado, com o status de “insustentável”, na avaliação de Facundo Guerra, dono dos clubes Lions e Yatch e da casa indie Cine Joia. A culpa, diz ele, foi dos numerosos shows internacionais, que geraram mais prejuízo do que lucro ao mercado. “A questão do Vale Cultura [benefício aprovado pelo governo federal que destinará R$ 50,00 a quem ganha até cinco salários mínimos] e a queda da carteirinha de estudante podem ajudar a melhorar”, acredita.
O empresário prepara para junho a reabertura do antigo bar Riviera, em parceria com o chef Alex Atala, do premiado D.O.M., num endereço emblemático da cidade: a esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação. A programação? Jazz.
“Por aqui, não há uma casa de jazz ao vivo, um lugar amplo onde se consiga ouvir música de boa qualidade e com um serviço de gastronomia, como em Nova York ou em Chicago”, observa Facundo. “Eu procuro buracos pela cidade e esse é um deles.”
Enquanto os agitadores culturais procuram por novas fórmulas, Ale Youssef, das casas Studio SP e Studio RJ, busca renovação no passado. “Quero retomar a valorização da cena local e da música autoral, como acontecia nos primórdios do Studio SP”, explica o empresário, que vai abrir mais espaço para artistas do subúrbio. “A música da periferia representa bem a união de arte com ativismo.”
Bonde da ocupação
O grande trunfo de 2012, segundo Michel Saad, sócio da Disco, foram as festas itinerantes, “que chegaram de vez”. Ele cita o Baile da Favorita, noite carioca que teve duas edições paulistanas. “No ano que vem, faremos quatro. Foi um sucesso e o funk está pesado em São Paulo.”
Apesar do entusiasmo em relação aos eventos sem pista fixa, alfineta: “Mas só quem sabe fazer é que vai continuar”.
Facundo Guerra também acredita na continuidade deste tipo de evento, mas critica a falta de estrutura. “Eu espero que os organizadores comecem a pensar mais no público. Fazer festa em qualquer lugar é um risco. Em uma casa, você tem estrutura de seguranças, aval dos bombeiros, paga todos os impostos. Eu acho que essas festas vão continuar, mas espero que se profissionalizem.”
Levar as baladas sem-teto para lugares menores, como o Caos e a Mono, ambos na Rua Augusta, é a sugestão de Emmanuel Souto Vilar, que também é fã da ocupação de espaços públicos.
Depois do fim da Sem Loção, festa de enorme sucesso criada em 2008 por um trio de amigos de Olinda, o foco do empresário voltou-se para a Javali. A ideia, segundo ele, é que ela aconteça com mais frequência em endereços “inusitados” da cidade.
“A cidade tem muitos lugares bacanas e eu busco descentralizar um pouco de Moema, Vila Madalena, Vila Olímpia, Jardins. Com a entrada do Haddad [na Prefeitura de São Paulo], acredito que vamos poder usar mais a cidade”, avalia, enaltecendo a nova Praça Roosevelt. “Atualmente, a gente não pode tocar em nada na cidade. É insuportável.”
Ale Youssef, do Studio SP, também planeja voltar para as ruas com o bloco do Baixo Augusta. “Quero conseguir espaço para que o Carnaval de rua seja valorizado, como acontece em diversas outras cidades brasileiras”, explica.
Rei da noite
Onipresente, o sertanejo universitário deve continuar a reinar nas pistas. Rafael Setrak, proprietário da Wood’s, começou a abrir filiais da casa em outras cidades, como o Guarujá, no litoral. A meta agora é atravessar a fronteira paulista e fincar a bandeira também em Belo Horizonte.
Porém, segundo ele, uma nova tendência deve se alastrar pela noite paulistana em breve: o samba pop. “Trio Ternura, Sambô, Monobloco, Samba de Santa Clara. Essas são as quatro bandas que estão puxando essa tendência do samba pop, que começou lá atrás com Inimigos da HP”, aposta. “A noite como um todo está se voltando para a música nacional.”
Michel Saad, da Disco, diverge sobre a continuidade na moda sertaneja e planeja uma mudança na programação do clube. “O sertanejo está decaindo e o eletrônico vai voltar ao cenário mais forte do que nunca. Já vimos que a galera está cansada”, assume. “Vão ser pelo menos dois DJs internacionais por mês, começando pelo Felix da Housecat, que já toca em janeiro por aqui.”