Nasi, do Ira!, faz revelações sobre sua carreira em documentário
'Você Não Sabe Quem Eu Sou' reconta a trajetória repleta de polêmicas do artista
Nasi continua com a língua afiada e, por vezes, é indomável. Mas, com 56 anos, trocou o uísque pelo vinho, as baladas pela vida a dois (está casado com a publicitária Tininha Xavier desde 2015) e os agitos da noite paulistana por jantares com amigos em sua casa, em um pequeno condomínio de dezesseis residências no bairro do Butantã. A mudança mais radical, contudo, ocorreu no fim de 2009, quando Nasi conheceu Baba King, o sacerdote nigeriano que o iniciou na tradição iorubá.
Sua transformação, a ascensão, a queda e a “ressurreição” do Ira! (e alguns segredinhos extras) estão no longa-metragem Você Não Sabe Quem Eu Sou, atração do festival de documentários musicais In-Edit Brasil. Dirigido pelos jornalistas Alexandre Petillo, Rodrigo Cardoso e Rogério Corrêa, o filme terá três exibições: na segunda (11), às 21 horas, no CineSesc (com pocket show de Nasi após a sessão); na sexta (15), às 15 horas, no CCSP; e no sábado (16), às 15 horas, no Olido.
Nascido da amizade de Nasi (ou Marcos Valadão Ridolfi) com Egdard Scandurra, o Ira! gravou o primeiro LP em 1985, com Ricardo Gaspa e André Jung (o único que se recusou a gravar depoimento). “Ele foi bem seco e disse que não sentia nenhuma vontade de falar algo sobre o Nasi”, diz Petillo. O grupo estava com uma agenda de 150 shows anuais, sobretudo depois do sucesso do Acústico MTV, em 2004, e Nasi começou a perceber sinais de esgotamento na banda. Três anos depois, Nasi decidiu pôr um ponto-final no Ira!.
A ruptura chegou à Justiça. O próprio irmão (e empresário) do vocalista, Airton Valadão, o Júnior, pediu a intervenção do cantor. Nasi, que havia se livrado da cocaína em 1997 e da maconha em 2007, teve até de provar sua sanidade em um laudo psiquiátrico. O fim do Ira! deixou de escanteio um livro sobre o grupo escrito na mesma época por Petillo. Anos depois, Nasi retomou o contato com o biógrafo, e assim nasceu A Ira de Nasi, em parceria com Mauro Beting, publicado pela Belas Letras, em 2012.
Da literatura para o cinema, o documentário começou a tomar forma. “Gravamos sete shows inteiros e, só com o Nasi, temos dez horas de gravação”, revela Petillo, que enxugou o registro para cerca de noventa minutos. Dos relacionamentos com as Marisas (Orth e Monte) aos videoclipes dirigidos pelo ator (e fã) Selton Mello, o filme enfoca várias faces de Nasi. “No início das gravações, Nasi tinha um senso de justiça extremado e era explosivo. Ele foi ficando calmo e desenvolvendo a tolerância”, analisa o diretor.
Embora a religião tenha transformado o vocalista numa pessoa mais serena, ele é discreto publicamente sobre o assunto: “Sou artisticamente laico. Não quero pregar nem converter ninguém”. Frequentador do templo de King, em Mongaguá, Nasi viaja a cada dois anos à Nigéria, onde, no Estado de Ògún, está a matriz do terreiro de Oduduwa. Lá, faz retiro de duas semanas mergulhado em iniciações ao culto dos orixás. O próprio Nasi resume o novo Nasi: “Eu não virei santo. Só fiquei menos ruim”.
Medalhões da mesma geração
Cazuza. “Encontrei-o quando estava definhando por causa da doença. Ele me deu um abraço apertado, e o senti frágil. A aids chocava e digo que escapei por pouco — não por causa de droga injetável, mas eu era totalmente promíscuo.”
Paulo Ricardo. “Eu fundei, afundei o Ira!, e o destino me deu uma nova chance. Espero que o Paulo Ricardo, que virou um cantor romântico, também consiga recriar o legado de pop rock do RPM.”
Renato Russo. “Muito querido e doce. Uma vez, em Brasília, vi o outro lado do Renato, totalmente doido, parecia o diabo-da-tasmânia.”
Titãs. “É uma banda que, de tão criativa, não coube em si mesma, tanto que gerou as carreiras-solo mais incríveis.”