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“Namoramos meses por telefone, ele na França, eu aqui, era supercaro”

Luciene conheceu seu marido Yves, um francês, durante uma viagem para a Tunísia. Eles se encontraram pela primeira vez em um oásis no deserto do Saara

Por Luciene de Oliveira Derrien, 49 anos, em depoimento a Fernanda Campos Almeida
31 jul 2020, 06h00

Em 1999, um ano depois de o Brasil ser derrotado pela França na Copa do Mundo, conheci meu marido francês, Yves Derrien, em um oásis no Deserto do Saara. Ele reconheceu meu sotaque brasileiro e veio tirar sarro, perguntando em francês como se falava ‘3 a 0’ em português. Essa foi a abordagem da pessoa com quem, no futuro, eu me casaria. Romântica para caramba, né? Na hora não entendi nada, mas, como achei ele bonitão, fingi achar graça. O embaixador da Tunísia havia me convidado para conhecer o país por dez dias e divulgá-lo como destino de viagem. O guia me sugeriu passar a noite naquele oásis. O local estava cheio de gringos. Um colega foi buscar uma garrafa de vinho antes de descer comigo para nadar no lago e demorou para voltar. Quando fui atrás dele, o encontrei cantando com Yves e outros franceses. Yves e eu fomos conversar em inglês na areia do deserto quando ele me beijou. No fim do dia me despedi despretensiosamente e entreguei meu cartão antes de ele voltar para a Bretanha, no norte da França.

Quando voltei para São Paulo, ele me ligou no escritório. a partir disso, a gente se falava todos os dias. Foi um namoro supercaro porque naquela época não existia chamada de vídeo. Minha conta de telefone dava 1 000 reais. Até que um dia ele me convidou para ir à França. Fui morrendo de medo. E se não tivesse mais química? No desembarque do aeroporto, ele estava me esperando com uma rosa vermelha. Foi maravilhoso! Conheci a casa dele na Bretanha e passamos cinco dias em Paris. Na volta, apaixonada, chorava copiosamente a ponto de chamar a atenção dos outros passageiros e de a aeromoça perguntar se eu tinha fobia de voar. Achei que nunca mais iria vê-lo. Para meu azar, ainda passava o romance Um Lugar Chamado Notting Hill na TV do avião.

Casamento em 2003: Yves largou a vida na França para ficar com Luciene no Brasil. Eles se casaram em uma cerimônia bilíngue após um ano morando juntos (Arquivo pessoal/Veja SP)

Introspectivo, mas extremamente inteligente, Yves é uma enciclopédia ambulante. É difícil não ter uma respos- ta dele sobre qualquer questão de história, ciências ou matemática. Ele é um cara honesto, além de muito atraente, com cabelos antes loiros (agora já grisa- lhos) e olhos azuis. Esperei cinco meses para vê-lo novamente, no meu aniversário no Brasil. Por mais de dois anos, um visitava o outro a cada quatro meses. Quando conheci os amigos dele na França, eles esperavam encontrar uma mulher negra de olhos escuros. Eu, branca e loira, que fujo a esse estereótipo europeu sobre as brasileiras, deixei eles decepcionados. Achavam que eu ia chegar dançando samba de biquíni em um inverno de 8 graus.

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Durante essa época, eu estudei francês e ele, português. Mas chegou a um ponto que namorar a distância não dava mais. Expliquei que tinha minha própria empresa de assessoria e na França não ia rolar, mas ele, como engenheiro, poderia trabalhar na área em qualquer lugar. E não é que ele veio para cá com a cara e a coragem? Foi uma mudança radical. Largou o trabalho e devolveu o apartamento. Fui ajudá-lo e viajei até lá quase sem bagagem para trazer tudo o que ele precisava. Yves não tinha amigos nem família no Brasil. Deixou tudo para viver uma vida comigo. Ele não falava muito a nossa língua, e eu ensinei um monte de palavrão. Não para que ele só imitasse, mas para que pudesse se defender sozinho.

A família completa: Yves e Luciene com os filhos Yann (9) e Lucas (5) (Leo Martins/Veja SP)

Alugamos um apê na Vila Mariana e um dia ele me levou a um restaurante, ajoelhou-se e pediu minha mão em casamento. Um ano depois morando juntos, nós nos casamos em uma cerimônia bilíngue. A cerimônia católica foi planejada para que a família dele pudesse comparecer. Reservamos hotel e van, e a lua de mel acabou sendo uma viagem coletiva. Ele tem vontade de voltar, mas prefiro viver em São Paulo. Ele é intenso e, quando diz ‘eu fico onde você ficar’, sinto o peso da responsabilidade. A vida dele gira em torno de mim e das crianças, Yann, de 9 anos, e Lucas, de 5. Temos altos e baixos como todo casal, mas completamos 21 anos juntos e temos uma família linda, com dois garotinhos maravilhosos.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 05 de agosto de 2020, edição nº 2698.  

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