Canções de Paulo Vanzolini falam sobre São Paulo
Compositor é um dos principais representantes do samba paulistano
Um dos principais representantes do samba paulistano, Paulo Vanzolini relata o cotidiano de São Paulo em grande parte de suas composições. Confira as canções que falam da cidade:
+ Artistas lamentam morte do sambista Paulo Vanzolini
+ Autor do clássico “Ronda”, Paulo Vanzolini morre aos 89 anos
Ronda
De noite eu rondo a cidade a te procurar sem encontrar
No meio de olhares espio em todos os bares
Você não está
Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho alegria me dá
Nele você está
Ah, se eu tivesse quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, esta busca é inútil
Eu não desistia
Porém, com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres, rolando um dadinho, jogando bilhar
E neste dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João
Samba do Suicídio
Que eu andei mal não é segredo
Duro como um rochedo e jogando sem sorte
Poeta de morte no esporte e no amor sempre mau sucedido
Um dia abatido pegando jornal pra me servir de colchão
Ao estendê-lo no chão, li uma notícia que confirmou a minha opinião
Estava dura e nana 18 suicídios naquela semana
Com a notícia assim lida, encontrei a saída do problema e da vida
Sem perda de um minuto, subi no viaduto e atirei-me no espaço
Meu D’us mas que fracasso
Eu estava tão consumido, que um ventinho distraído, que estava a soprar, foi me levando pelo ar
Pra me largar num fio, no alto de santana
Voltei a pé para a cidade, o que levou uma semana
Voltei ao problema, por outro sistema e tomei formicida
E tive a maior surpresa de minha vida
Descobrindo assim que o que andavam servindo aqui no botequim
Não era tatuzinho, chá de briga
Era tatu mesmo
O fazedor de orse de formiga
Me deu um frio na barriga d um calor no duodeno
Aí fiz a pele do galego, que é pra largar mão de veneno
Penso então que o que mais me convém é ficar embaixo do trem
Que assim é certo eu entrar bem, sem pensar mais
Eu corri para o Brás e joguei a carcaça embaixo de maria fumaça de 28 vagões
E nestas condições o resultado foi fatal
Vejam a notícia no jornal
Pavoroso descarrilhamento na central deu tanto morto e estrupiado, que eu fiquei meio chateado
Procuro então um padre confessor, que me aconselhou
Moço não seja tolo e meta um tiro no miolo
Mas bom senhor pois não deu senhor
Eu tenho corpo fechado
Na tenda paz zulu
Duro em colchete embala
E a durindana assim resvala em meu peito nu
Por esse lado eu não dou chance pra urubu
Nem vou morar lá no caju
Praça Clóvis
Na praça Clóvis
Minha carteira foi batida
Tinha vinte e cinco cruzeiros
E o teu retrato vinte e cinco
Eu, francamente, achei barato
Pra me livrarem do meu atraso de vida
Eu já devia ter rasgado e não podia
Esse retrato cujo olhar me maltratava e perseguia
Um dia veio o lanceiro
Naquele aperto da praça vinte e cinco
Francamente foi de graça
Na praça Clóvis (…)
Longe de Casa
Longe de casa eu choro e não quero nada
Pois fora do chão ninguém quer e não pode nada
Sinto falta de São Paulo
De escutar na madrugada
Uns bordões de violões
E uma flauta a chorar prata
Dor de amor não me magoa
A saudade da garoa é que me mata
E eu saio pra rua
Assobiando comprido
Um samba comovido
Que Silvio Caldas cantasse
E me iludo que a garoa
Vem molhar a minha face
Mas é pranto e choro tanto
Quem me dera que hoje mesmo
Eu voltasse pro chão que eu adoro
Pois longe de casa eu choro e não quero nada.