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“O samba é inseparável da seleção”, diz Xande, líder do Revelação

Cantor e compositor explica sucesso da música <em>Tá Escrito, </em>que foi adotada pelos jogadores brasileiros na Copa do Mundo, e fala sobre sua saída da banda

Por Luan Flavio Freires
Atualizado em 5 dez 2016, 14h20 - Publicado em 1 jul 2014, 16h09

Ele diz que foi pego de surpresa. De repente, o celular de Xande de Pilares, 44 anos, líder do grupo de pagode Revelação, começou a receber seguidas mensagens com enigmáticos “parabéns”. “Mas não é o meu aniversário”, pensou o cantor. Foi questão de tempo para descobrir que Tá Escrito, música que compôs com Gilson Bernini e Carlinhos Madureira em 2008, havia sido adotada como tema de incentivo pelos jogadores da seleção brasileira durante a Copa do Mundo.

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“Às vezes a felicidade demora a chegar, aí é que a gente não pode deixar de sonhar”. São essas as palavras que estimulam Neymar, Dante, Daniel Alves e os outros atletas na luta pelo hexa, como já fizeram questão de reconhecer em  várias entrevistas. O fã de Zeca Pagodinho, cuja versão de Deixa a Vida Me Levar embalou os jogadores da “Família Scolari” na conquista do pentacampeonato em 2002, não podia ficar mais feliz.

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É o ponto final perfeito para uma trajetória de mais de duas décadas ao lado do grupo que o fez famoso. De saída, ele evita dizer as razões que o fizeram optar pela carreira-solo e desconversa quando perguntado se o motivo é a participação cada vez mais frequente no programa Esquenta!, apresentado por Regina Casé aos domingos na TV Globo. O cantor falou a VEJASAOPAULO.COM sobre samba, futebol e os planos para a vida pós-Revelação.

Tá Escrito é uma canção de motivação. O que você estava pensando quando a compôs?

Essa faixa também foi escrita pelo Gilson Bernini e pelo Carlos Madureira. O Bernini passava por um momento muito complicado, pois tinha perdido o filho mais velho em um acidente de automóvel. Como música é igual roupa, ela acabou servindo para muita gente.

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Foi uma surpresa pra você descobrir que a seleção a escolheu ?

Com certeza. Muitos se mobilizam para compor uma música de incentivo ao time brasileiro, mas a gente não tinha pretensão nenhuma. Ela assumiu esse posto por causa da mensagem positiva.

Você é amigo de muita gente na seleção? Já fez pagode com eles?

Tenho bons laços de amizade com Neymar, Hulk, Julio César, Ramires, Felipão, [o preparador físico] Paulo Paixão… Sempre que nos encontramos tem pagode e a maioria deles já foi aos shows.

 

Não é a primeira vez que essa música é citada por jogadores como um incentivo. O Alessandro, quando jogava no Botafogo, fez isso, e o Sheik, na época do Corinthians, também. Por que existe essa identificação dos jogadores com a letra?

Porque os jogadores e os sambistas, de modo geral, vêm sempre da dificuldade. O que essa música retrata é que quando você possui um objetivo e um caminho a trilhar, você precisa ter a consciência de que sempre existe um preço a se pagar. Eu acho que todos eles sentem a mesma coisa que eu quando escrevi essa música.

O Daniel Alves disse que o samba é inseparável da seleção brasileira, que os dois caminham sempre juntos. Por que acha que isso ocorre?

Vou fazer uma viagem aos anos 70, quando levaram o Simonal para encontrar os jogadores brasileiros. O Pelé disse uma coisa: “todo cantor queria ser jogador e todo jogador queria ser cantor”. Toda pelada cabe em samba e vice-versa. Podem tentar, mas samba e bola nunca vão se separar.

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Viu o jogo contra o Chile?

Assisti e sofri. Senti aquela bola na trave como se ela tivesse acertado a minha cabeça.

O time brasileiro ainda não convenceu e continua sendo muito criticado. Você acha que a hora da seleção vai chegar mesmo assim?

Vai chegar. Eu sou um cara muito supersticioso. Todo mundo reclamava do time de 1994 e a gente foi campeão. Em 2002, a mesma coisa. Eu gosto do Brasil quando ele começa a competição com dificuldades.

Você está saindo do Revelação depois de duas décadas. Até quando vão os seus compromissos com o grupo?

Ainda temos mais algumas datas até agosto, coisas que já estavam marcadas e eu acho importante honrar. Em respeito aos fãs, faço questão de cumprir.

Por que você está saindo do Revelação?

Por conta dos meus projetos. É mesmo uma vaidade de cantor. Às vezes, o artista quer cantar uma ópera, um forró, sei lá! Você tem que estar feliz para todo mundo também estar. Eu sou uma pessoa muito sincera. Vim de um lugar onde ser verdadeiro é melhor do que ter dinheiro no bolso. O dinheiro acaba, já a verdade, só se você deixar.

O que você disse para eles?

Que eu queria voltar a sair de casa do jeito de antes: feliz. Isso não estava mais acontecendo. Outra coisa é que às vezes você quer atingir um objetivo, só que está agarrado a uma coisa que não permite que isso aconteça.

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Qual é o seu objetivo hoje?

É continuar cantando samba. Zerei tudo para poder começar de novo.

A sua saída tem alguma relação com a participação no programa Esquenta!?

Não tem nada a ver. Eu quero gravar um disco de samba, cantar Pixinguinha, Aracy de Almeida, Zeca Pagodinho, Benito di Paula. Hoje eu tenho mais liberdade para ousar.

Você sai do Revelação amigo de todo mundo?

Eu não tenho inimigos. Ficar chateado com a minha saída é normal, mas eu acredito que não fiz inimizades ali. Se tiver feito, vou ficar surpreso.

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