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Museus paulistas se preparam para possíveis ataques após casos na Europa

Mesmo sem casos recentes no país, instituições devem aumentar a proteção e os cuidados com a integridade dos quadros

Por Mattheus Goto
Atualizado em 28 out 2022, 18h03 - Publicado em 28 out 2022, 06h00

No dia 23, uma dupla de ativistas do grupo alemão Letzte Generation (ou “Última Geração”) jogou uma caudalosa porção de purê de batatas sobre um quadro de Claude Monet, da série Les Meules (1890), em um museu de Potsdam. O alegado motivo era a defesa da causa ambiental. “Estamos vivendo uma catástrofe climática e a única coisa que vocês temem é sopa de tomate ou purê de batatas em uma pintura”, disse um dos integrantes após o ato, em alusão a um outro protesto semelhante.

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Nove dias antes, duas ativistas do Just Stop Oil (“Apenas Pare o Petróleo”) arremessaram sopa de tomate em Girassóis (1888), de Vincent Van Gogh, avaliado em 512 milhões de reais, na National Gallery, na Inglaterra.

Nem mesmo a Mona Lisa (1503), de Leonardo Da Vinci, escapou da atual onda de manifestações. Em 29 de maio, a famosa Gioconda levou uma torta na cara no Museu do Louvre, na França. Os três ataques atingiram apenas películas de vidro protetoras e as pinturas passam bem. Os ativistas foram detidos e são investigados por danos a artefatos culturais.

Ativistas posam em frente ao quadro do Monet, sujo de purê
Grupo alemão Letzte Generation jogou purê de batata em um quadro do Monet (Letzte Generation/Reprodução)

O Brasil, ao menos por ora, não entrou na moda dos ataques. Um dos últimos casos locais de que se tem notícia aconteceu em junho de 1991, quando a desenhista Magda Mayumi Shinohara, aos 28 anos, atirou um tubo de tinta guache em A Banhista Enxugando a Perna Direita (1910), de Pierre-Auguste Renoir, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Ela afirmava ter recebido uma mensagem divina para “divulgar o fim do mundo”, que estaria próximo. O quadro precisou passar por uma limpeza com algodão e água destilada, mas não foi gravemente danificado.

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A preocupação com a integridade das obras de arte no país, de qualquer maneira, tem crescido. “Após os casos de incêndios (como no Museu Nacional e na Cinemateca), surgiu uma tensão ligada a fatores de risco acidentais, como fogo e inundação”, diz Sofia Hennen, curadora adjunta de conservação do Masp. No Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), a prevenção dos danos mecânicos passou a ser vista como um dos principais desafios no campo da conservação, segundo a coordenadora de acervo Patrícia Pinto Lima.

Quadro A BanhistaEnxugando aPerna Direita
A Banhista Enxugando a Perna Direita (1910), de Pierre-Auguste Renoir, foi atacada no Masp em 1991 (João Musa/Divulgação)

Para os especialistas, o que protegeria, de fato, uma pintura diante de um ataque é a película de vidro ou acrílico museológico, como existe na Europa (e que também filtra raios UV, elimina 99% dos reflexos e protege contra a poluição). Por aqui, a adoção do artefato não é universal. Algumas galerias preferem não usar barreiras entre tela e visitante, por confiar no seguro contratado na exposição. A decisão costuma respeitar o desejo do curador da mostra.

Com os ataques recentes, fontes ouvidas pela Vejinha acreditam que as películas de proteção devem ganhar impulso em São Paulo. O obstáculo é o alto custo do material, que é importado (uma peça de 16 x 20 cm pode custar mais de 300 dólares, sem a taxa de entrega). O Masp, com orçamento de 36 milhões de reais em 2020 (o último divulgado), está à frente das outras instituições, mas ainda distante do nível europeu. “Tentamos colocar vidro ou acrílico museológico ao máximo, mas não conseguimos em algumas obras por ser um material caro”, diz Sofia.

O governo impõe uma série de medidas de segurança e conservação para os acervos, definidas com o apoio do Sistema Brasileiro de Museus e do Instituto Brasileiro de Museus. O conjunto de normas está compilado no manual “Segurança em Museus”, de 2011, com mais de 160 páginas de especificações sobre como deve ser feito o trabalho. As normas incluem vigias treinados para atitudes suspeitas e sensores de alerta nas obras.

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A Lei dos Crimes Ambientais prevê reclusão de um a três anos e multa para quem destruir ou deteriorar bens protegidos, como arquivos, registros e obras de arte. Um projeto de lei (8349/2017) proposto pelo então senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) sugere agravar as penas de crimes de pichação e conspurcação de monumentos ou bens tombados. A proposta aguarda a escolha de um relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) do Congresso.

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Publicado em VEJA São Paulo de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813

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