Museu do Futebol fecha para reforma completa e só reabrirá em 2024
Será a maior revisão estrutural e de conteúdo desde que ele foi criado, em 2008; novidades incluem mais áreas interativas e maior participação feminina
Após receber mais de 4 milhões de visitantes durante os quinze anos em que está aberto ao público, o Museu do Futebol fechará as portas no dia 7 de novembro próximo e só reabrirá em abril de 2024. Durante esses seis meses, o museu passará por uma reformulação total, que vai da iluminação, passando pela acessibilidade até todo o conteúdo do acervo espalhado pelos 6 000 metros quadrados de área expositiva. Apenas uma mostra temporária sobre futebol de brinquedo ficará ativa no espaço. “Tivemos grandes mudanças no cenário de futebol, sobretudo a relação do torcedor com o esporte”, afirma Marília Bonas, diretora técnica do museu. Ela afirma que a reformulação dará mais espaço ao futebol feminino, à inclusão — trazendo outras modalidades da prática do esporte, como futebol de 5 e goalball, paraolímpicos —, e abordará questões muito debatidas atualmente, como xenofobia e racismo. “Além disso, tivemos as novas Copas, a crescente internacionalização do futebol e a retratação de fatos históricos como o impacto da pandemia.”
Serão investidos 15 milhões de reais, sendo 11 milhões da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e o restante a ser captado junto a patrocinadores via Lei Rouanet. “Estamos falando de um museu que conta a história do esporte de um jeito único e sempre inovador, que inclui diversos públicos e que também é a imagem das torcidas brasileiras. Quando tudo estiver pronto, o público vai se emocionar”, diz a secretária Marilia Marton.
As quinze salas existentes serão reformuladas e passarão a ser dezessete. As mudanças estruturais da parte interna incluem modernização da iluminação, novos projetos luminotécnico e de acessibilidade. Em todo o museu serão criadas mais legendas em libras, inglês e espanhol, os pisos táteis serão reformulados e ampliados.
O conteúdo das salas será totalmente revisto. Algumas serão suprimidas, outras ganharão novos nomes e algumas serão criadas. “Criamos novas instalações pontuais que de verão, sim, dar ao visitante que retorna ao museu a sensação de grande novidade, de frescor, mas o espírito da expografia original permanece: estruturas autoportantes, inspiradas nos móveis urbanos, que é a marca do museu”, afirma a cenógrafa Daniela Thomas, que participou do projeto original há quinze anos e voltou para colaborar com o time responsável pela reformulação.
As novidades (veja algumas na imagem abaixo) serão percebidas logo na entrada do museu, na área de memorabilia (objetos que suscitam memórias e lembranças) denominada Sala Grande. Serão expostas mais flâmulas e objetos nos biombos, como pins, cartões-postais, brinquedos, selos, figurinhas, de diferentes partes do país. Ao subir as escadas, antes de entrar nas outras áreas expositivas, o vídeo de boas-vindas de Pelé será atualizado, com mais momentos dos golaços do rei do futebol. Entrando no primeiro pavimento do complexo, a Sala dos Anjos Barrocos, que traz grandes imagens dos maiores jogadores e jogadoras brasileiros, terá reformulação no conteúdo. Ao lado, a Sala dos Gols vai mudar totalmente e inclusive receber um outro nome, passando a se chamar Dança do Futebol. A estrutura atual, com dez cabines interativas em que o visitante escolhe o que quer assistir, será substituída por uma espécie de enorme biombo tecnológico com telas de altíssima definição onde o visitante poderá escolher entre centenas de imagens.
Uma das atrações mais visitadas do museu, a Sala das Copas do Mundo, ganhará novas imagens, sobretudo do futebol feminino (veja algumas abaixo), muitas delas colaborações feitas por registros pessoais de jogadoras, já que nem mesmo a Fifa possuía essas imagens em seu acervo, mesmo tendo organizado a primeira Copa do Mundo Feminina de Futebol, em 1991. Na lateral da mesma sala, onde hoje existem quatro grandes vidros escuros, serão instalados quatro blocos de telas (imagem acima) para retratar a época em que o futebol foi proibido para mulheres, veto que começou no ano de 1941, na ditadura do Estado Novo por Getúlio Vargas, e perdurou até o fim da ditadura militar, em 1985. As imagens, 80% delas inéditas, mostrarão como as mulheres driblaram essa proibição. Algumas se apresentavam fantasiadas em circos e outras de vedetes para participar de campanhas beneficentes, inclusive em jogos no estádio do Pacaembu — local onde está o Museu do Futebol.
Outra sala muito requisitada pelos visitantes, a das Origens (que traz quadros com fotografias históricas desde o fim do século XIX até meados dos anos 1930), também receberá imagens inéditas sobre a presença da mulher no futebol, de times de diversas partes do país.
A reformulação anunciada agora vem sendo planejada desde o ano passado. Além de Marília, os jornalistas Marcelo Duarte e Leonel Kaz integram a coordenação da curadoria, que conta ainda com participação de Bernardo Buarque de Hollanda, Dilma Mendes, Tadeu Jungle e Perifacon. A direção artística e o projeto expográfico são de Daniela Thomas e Felipe Tassara; comunicação visual de Jair de Souza e consultoria de acessibilidade de Marina Baffini, além de participação da equipe que já trabalha no museu.
Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864.