Mostra traz telas de Ranchinho refeitas por Rodrigo Andrade
Em, "Jogo dos Sete Erros", ex-integrante do grupo Casa 7 imita 10 obras do artista naïf
Do fim do século XIX para cá, não foram poucos os grandes criadores que mantiveram uma relação próxima com a chamada arte popular. Paul Gauguin, por exemplo, morou por vários anos no Taiti, a fim de conviver com os nativos e pintar em um “estado primitivo e selvagem”, em suas próprias palavras. O caso mais famoso é o de Pablo Picasso, influenciado pelas máscaras africanas para realizar a obra-prima As Senhoritas de Avignon. De uma maneira ainda mais direta, esse diálogo pode ser visto na ótima mostra Jogo dos Sete Erros, em cartaz na Galeria Estação. Nela, o naïf paulista Ranchinho (1923-2003), nascido em Oscar Bressane, tem seus quadros retrabalhados pelo paulistano Rodrigo Andrade, ex-integrante do grupo Casa 7, revelado na década de 80.
Filho de boias-frias, Ranchinho, portador de deficiência mental, não conseguia permanecer em nenhum emprego. Aprendeu a desenhar e, depois de alguns anos, chegou a atrair a atenção de colecionadores pelas surpreendentes noções de composição e perspectiva. Na exposição, dez trabalhos de cada um são colocados lado a lado. O artista contemporâneo afirma ter feito imitações e não releituras — de fato, apreciadas de longe, as obras parecem idênticas, diferentemente das delirantes recriações de Picasso para As Meninas, de Velázquez.
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Ao se aproximar, contudo, o espectador pode observar as grossas camadas de tinta características das recentes telas negras de Andrade, exibidas na Bienal de 2010. Nessas áreas nas quais a matéria fica muito espessa, notam-se conversas nada disfarçadas com a abstração.