Metal na varanda: até o Monsters of Rock foi gourmetizado
Atrações secundárias, como lojinhas de roupas, praça de alimentação chique e até salão de beleza, chamam a atenção de quem passa pelo festival
Quando os portões de um festival de música eram abertos, há alguns anos, as pessoas saíam correndo direto para o gargalo do palco, se espremiam na primeira fila na tentativa de ficar o mais próximo de seu ídolo, e não arredavam pé de lá por nada. Afinal de contas, íamos a um festival para ver bandas tocando, certo?
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Hoje em dia, no entanto, a coisa não funciona bem assim. Antes de chegar ao palco você é magnetizado por um punhado de atrações secundárias, que, para alguns, se tornam primárias, como lojinhas de roupas, praça de alimentação pensada como espaço de convivência, área de karaokê para a galera soltar a voz, estúdio de selfies profissionais, minilivrarias e até salão de beleza.
Rock in Rio se especializou nisso, Lollapalooza vai pelo mesmo caminho (quem foi na edição deste ano sabe do que eu estou falando) e, agora, o Monsters of Rock (o festival dos metaleiros, dos caras brutos, sem frescura) também acaba de ser atingido pelo raio gourmetizador.
Neste sábado (25), primeiro dos dois dias do evento que rola na Arena Anhembi, na Zona Norte, fiquei impressionado com a quantidade de cantinhos que dispersam a atenção do principal, o palco.
No “galpão do rock”, há um tipo de feirinha, com barracas vendendo de tudo: camisetas de bandas, pulseiras, brincos, bandanas, piercings, tatuagens. Tem até barbearia! A estratégia deve ter sido a seguinte: num festival com presença masculina predominante é uma sacada instalar um lugar frequentado por homens. Ok, mas esqueceram de um detalhe: metaleiro não corta o cabelo, apara de vez em quando – e com as próprias mãos.
E não se trata de uma barbearia qualquer, é dessas moderninhas. O corte custa 45 reais (o mesmo valor é pago para fazer a barba). Ao sair do galpão, damos de frente com a “área gourmet”, que consiste em reunir trailers de comidinhas simples com a assinatura de algum chef, mesma tática usada pelos organizadores do Lolla.
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Um dos espaços mais concorridos no Monsters foi o do gastropub Cão Véio, marca que tem como um dos sócios Henrique Fogaça, cozinheiro e jurado da versão nacional do programa MasterChef. No sábado (25), havia filas desde o começo do festival, às 12h, até o fim da noite para comer um hambúrguer estrelado por 18 reais.
Mesmo fora da “área gourmet”, os preços de itens básicos são salgados e, ao longo do dia, podem te deixar com o bolso vazio: 9 reais (cerveja em lata da Budweiser) e 6 reais (água e refrigerante). Vi também muita gente reclamando dos preços cobrados pelas camisetas de banda nas lojinhas oficiais: 100 reais cada uma.
Tudo para dizer o seguinte: num festival que consegue a proeza de trazer nomes de peso do rock e do heavy metal, a exemplo de Ozzy Osbourne, Judas Priest e Kiss, desfrute com parcimônia das atrações secundárias e não se esqueça dos shows.
PS: Demorei a entender o que eram os homens sem camisa e maquiados e as mulheres vestidas como personagens do reino Targaryen (da série Game of Thrones) que circulavam no meio do público, entre uma apresentação e outra. Só desvendei o mistério quando me entregaram um adesivo/tatuagem: trata-se de uma ação promocional de lançamento do filme Mad Max – Estrada da Fúria.