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“A vida me deu as ferramentas para tudo”, diz Mauricio de Sousa

Reconhecido pela Cátedra Unesco de Leitura, o cartunista faz uma retrospectiva de seu trabalho e uma análise da importância dos quadrinhos no momento atual

Por Mattheus Goto
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h20 - Publicado em 11 nov 2022, 06h00
Mauricio de Sousa posa sorrindo no estúdio da Turma da Mônica, pousando as mãos sobre boneco da Mônica
Mauricio de Sousa: “Tudo o que eu passei me ajudou a fazer histórias e criar personagens” (Claudio Belli/Divulgação)
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Aos recém-comemorados 87 anos, Mauricio de Sousa continua na ativa. Com mais de seis décadas desde o primeiro quadrinho da Turma da Mônica, o cartunista marcou e marca gerações de brasileiros na primeira fase da vida. Seu trabalho na Mauricio de Sousa Produções (MSP) não parou no tempo. Pelo contrário, mudou e tomou proporções maiores, buscando se reinventar.

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Não à toa, o desenhista foi homenageado em outubro pela Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, em reconhecimento à sua atuação no estímulo à leitura e à alfabetização de milhões de crianças — que se mostra mais necessária do que nunca, com os baixos índices na pandemia. Em paralelo, o membro da Academia Paulista de Letras acompanha a produção de um novo filme sobre o personagem Chico Bento e outro sobre sua vida.

Em que momento você percebeu a importância das suas obras para as crianças de todo o Brasil?

Foi aos poucos. No início, eu publicava quadrinhos para adultos, mas os pais deixavam os filhos ler. Com o tempo, comecei a fazer para as crianças e fui recebendo o retorno de leitores agradecendo e reconhecendo meu trabalho. Isso me incentivou a continuar trabalhando com esse público.

Por que os quadrinhos desempenham um papel tão importante na formação de uma criança?

As crianças precisam brincar. Os quadrinhos são úteis para isso. Quando a criança fica muito tempo dentro de casa, eles servem como um momento de divertimento. Histórias em quadrinhos sempre tiveram uma linguagem despojada, unem visual com textos coloquiais. Começaram lá nas cavernas, na Pré-História, e chegam hoje aos tempos modernos no formato que conhecemos.

O número de crianças de 6 e 7 anos no Brasil que não sabem ler nem escrever cresceu 66,3% durante a pandemia, de 2019 para 2021, segundo dados da Pnad Contínua. Que desafios isso trouxe à MSP?

Penso que os quadrinhos puderam ajudar bastante nesse cenário. Mesmo quando a criança não sabe ler, ela inventa uma história para si mesma. Nosso alfabeto não é só composto por letras, mas por figuras também. Esse momento fez com que nós dedicássemos ainda mais cuidado e graça às nossas produções visuais. Assim, eu e minha grande equipe, pois sem ela não teria obtido tudo isso, conseguimos manter nossa relação com a criançada que necessitou e necessita dessa linguagem. Na pandemia, até o Cascão entrou em ação e lavou as mãos para sugerir os cuidados de saúde.

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Como os quadrinhos são uma ferramenta para a educação e a inclusão?

Nos quadrinhos, os personagens atuam como amigos das crianças. Aproveitamos essa amizade para transmitir noções de empatia e inclusão. Lançamos neste ano a personagem Sueli, surda, e o Bernardo, com nanismo. Foi tudo muito bem estudado para não passar a informação errada. Na história da Sueli, ela ensina a linguagem de Libras às crianças, para que as que têm surdez possam se comunicar com as que não têm. O Bernardo também explica sobre sua condição e as dificuldades pelas quais passa.

O que espera alcançar com a criação de personagens do tipo a longo prazo?

O público tem uma relação muito forte com a Turma. Várias pessoas que conheço me falam sobre a grande identificação que sentem com os personagens. Isso me faz esperar que essa amizade entre o personagem e o leitor continue acontecendo e crescendo, como nos últimos anos. Me enche de alegria ver amizades novas se formando e aproximando crianças com conteúdos interessantes e úteis.

“Nos quadrinhos, os personagens atuam como amigos das crianças. Aproveitamos essa amizade para transmitir noções de empatia e inclusão”

A quais projetos vocês têm se dedicado?

Agora queremos fazer mais filmes. Eles funcionaram muito bem, tiveram um público maravilhoso. Além dos quadrinhos e dos desenhos animados, penso que o cinema é um dos pontos-chave de prova do sucesso a partir de agora. O próximo grande projeto é o filme solo do Chico Bento (com estreia prevista para 2023), acho que vai agradar bastante à família. Também tenho me dedicado às histórias do Horácio, conhecido como meu alter ego, pois fiquei cinquenta anos desenhando-o e ele reage às situações como eu reagiria.

O que podemos esperar do longa sobre a sua vida?

Estamos no meio da produção do filme, que deve estrear no segundo semestre do ano que vem. Meu filho Mauro, meu orgulho, me representa na juventude. Posso dizer que será um filme lindo, ao qual eu mesmo vou querer assistir várias vezes, que mostra a batalha de alguém que conseguiu conquistar muita coisa. Acho que as pessoas vão se interessar.

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Quando criança, imaginava que chegaria aonde chegou hoje?

O pequeno Mauricio já falava para os pais que queria fazer desenho antes mesmo de saber ler. Meu pai desenhava e me ajudou bastante a usar lápis, pincel, cores. Nasci numa casa cheia de livros e meus pais me incentivaram, além dos amigos e professores sensacionais que tive. Eles me pediam ilustrações como lições de casa. Tinha de entender muito bem o assunto da tarefa para desenhar sobre ele. Tirava notas muito boas, principalmente em português. Essa brincadeira gostosa de desenhar me ajudou. Comecei a ler cada vez mais, a escrever cada vez mais. Quando jovem, lia um livro por dia. Às vezes terminava um livro de madrugada, para o desespero da minha mãe. Quando comecei a desenhar profissionalmente, comprava meus próprios gibis e os jornais com as minhas tirinhas na banca. Era o deslumbre, o meu sonho se realizando.

Como São Paulo desempenhou um papel na sua vida e em suas obras?

Tive a sorte de ter crescido em uma cidade média, Mogi das Cruzes, e em uma família que me levantou em todos os momentos. Pude contar com professores, amigos e o jornalismo. Quando fui repórter policial, recebi muita ajuda de outros jornalistas da redação. Foi uma escola. Meu pai atuava em rádio e me auxiliava. Lembro que eu ia até a Praça Patriarca trabalhar com ele. Fui locutor, fiz muita coisa, além dos pequenos empregos quando jovem. Tudo o que eu passei me ajudou a fazer histórias e criar personagens. A vida me deu as ferramentas para tudo.

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