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“Em casa, sou ‘Marisa, a que responde aos haters’”, diz Marisa Orth

No ar em Zorra e em duas reprises da Globo, a atriz fala sobre redes sociais, a renovação do humor e as controvérsias de Regina Duarte e Marcius Melhem

Por Pedro Carvalho
6 nov 2020, 06h00

Como é a vida sem plateia?

É ruim. Mas é temporária. Isso vai passar. Agora, imagino para um ator jovem, com 25 anos… Esse deve estar batendo a cabeça na parede. Quanto a mim, já tive bastante palco. Mas também estou começando a me aborrecer. Fica chato.

Você voltou a gravar com o Zorra. É difícil fazer humor com tanta notícia triste?

Fazer humor é sempre difícil. É ainda mais arriscado por ser um “humor jornalístico”. Também senti na pele o politicamente correto. É um momento onde os caminhos do humor se estreitam. Mas essa parte eu vejo com bons olhos. Nunca gostei de humor em cima de preconceito, apesar de ser acusada de antifeminista por causa da Magda (personagem de Sai de Baixo). O que é uma observação tacanha. A Magda e o Caco Antibes são justamente uma crítica a um tipo de casal que existe muito por aí.

Seria possível fazer o Sai de Baixo hoje da mesma forma que era feito na década de 90?

Provavelmente não. Não era só o machismo, a gente esbarrava na questão dos nordestinos, com o Ribamar… Talvez a gente tivesse de dar uma remodelada, fazer umas aparas. Mas o cerne seria absolutamente o.k., porque o Brasil infelizmente não mudou. Ainda existe muita gente que vive de mamata, como o Caco.

O que acha dessa necessidade de aparas no humor?

O humor não vai morrer. O humor vai sempre incomodar. Se não incomodar, não é humor. O humor é maldito. Sempre vai beirar uma perseguição, sempre vai zoar alguém — inclusive o militantismo excessivo. Não estou dizendo que o movimento dos negros ou das mulheres é mi-mi-mi, claro que não é. Mas tem gente que, nesse afã… Acho que todo radical é engraçado. O radical é careta, merece um “prestenção”. Nesse ponto, acho o humor extremamente saudável. E o humor é a camada da dramaturgia brasileira que mais se sacudiu de dez anos para cá, com o Porta dos Fundos, novos humoristas, mais inteligência, mais autocrítica, mais democracia, mais gente falando a real.

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Acha que o atual governo prejudica o meio artístico?

Sim. São ataques grandes. Sou uma pessoa democrática: uma vez que o novo governo se estabeleceu, eu parei para ouvi-lo. Mas nunca imaginei que a classe artística seria tão atacada. Chamar as pessoas de ladrões? Vejo senhores e senhoras do meu meio aos montes processando gente por terem sido ofendidos. E tem os cortes de verba, a difamação, a censura — tudo isso é fato.

Chegou a falar com Regina Duarte sobre esse assunto?

Não conversei. Tenho grande carinho por ela. Era a estrela da primeira novela que fiz (Rainha da Sucata). Foi um sonho realizado. Ela foi muito acolhedora, muito generosa. Agora, eu nunca entendi (o apoio da atriz ao governo)… Acho que ela foi tomada de boas intenções. Não estava preparada, não conhecia a política. Talvez “envaidecida” seria a crítica maior que eu faria sobre isso. Mas acho que ela é vítima, sem dúvida.

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Você apoiou a campanha #EuQueroVeteranosNaTV após a Globo terminar os contratos de Tarcísio Meira e Glória Menezes. A atitude da emissora pegou mal entre os artistas?

Não. Eu estava muito tocada com o adeus do Flávio Migliaccio. É duro o final da vida de um ator. Há uma hipervalorização da juventude, não só na TV. Você vai perdendo um elenco que é um patrimônio. Teve a questão da saída do Tarcísio e da Glória. Mas eu também compreendo a Globo. Fiz a campanha mais para cutucar o público do que a Globo. Tudo mudou com o streaming. O jornalismo mudou, a hotelaria mudou, o táxi mudou. A TV não vai mudar?

“Provavelmente não (seria possível fazer o mesmo Sai de Baixo em 2020). Tinha questões com machismo, nordestinos. Haveria aparas”

O que mudou em sua visão de mundo aos 57 anos?

Tenho mais tempo para julgar as coisas. Acho que domino melhor o meu trabalho. Que canto melhor. E sofro um pouco menos com críticas ruins. E acredito menos em bajulação.

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Você sofre muito com comentários agressivos nas redes sociais?

Sofro. Meu filho fica puto: “Para de responder aos haters!”. Eu, aqui em casa, sou “Marisa, a que responde aos haters”. Virou um aposto. Outro dia fiquei respondendo a um robô (risos). Mas é uma loucura, no começo passei muito mal. Hoje, aprendi que falar bem ou mal faz pouca diferença, no sentido de ter sucesso. Se quer fazer sucesso, é isso.

Como vê o assédio na TV, como no caso de Marcius Melhem (acusado por ex-colegas na Globo)?

Não vou saber responder. Entrei só nesse ano no Zorra. Eu sou nova no grupo (as queixas são de fatos anteriores). Vi pessoas falando “estamos com você”, não entendi… Gravei uma semana lá (no Rio) e vim para casa. Então, não sei. Falava com os colegas, uns tristes, uns não queriam falar, uns a favor, uns contra. Mas vejo com muita tristeza. Das vítimas, dele… Era meu amigo. Que história triste. Gosto muito do trabalho do Marcius, é um dos caras que mudaram o panorama do humor no Brasil. Torço para que passe logo e que a justiça seja feita, claro.

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Se pudesse sair normalmente outra vez por São Paulo, qual o primeiro lugar a que gostaria de ir?

Queria ir a um bar. Vou sempre aqui no Astor, no SubAstor, aqui do lado de casa (no Alto de Pinheiros). Ou uma muvuca. Um samba, uma quadra, a Pérola Negra, o Carnaval. Eu gosto de bar, restaurante. Estou com muita saudade disso. Sou uma pessoa que usa de verdade São Paulo. Mas meu cartão de crédito gastou menos.

Torce para alguém nas eleições para a prefeitura?

Não declaro meu voto. É uma atitude minha da vida inteira. Acho que tem bons candidatos. Espero que eles não rachem. Tem um monte deles que são bem-intencionados. Espero que não dividam o eleitorado para não ganhar aquele que eu não quero que ganhe. Meu medo é isso.

Quem não quer que ganhe?

Não me coloco politicamente, mesmo. Nunca fiz campanha, já bati o telefone na cara rapidamente antes que me dissessem o valor, para eu não titubear. Minha cara eu uso pra iludir as pessoas, no melhor sentido da palavra (como artista). Não vou usar minha cara para dizer, no mundo real, que alguém vai melhorar a saúde ou a educação.

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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de novembro de 2020, edição nº 2712

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