As mil e uma peripécias de Marcos Caruso
O ator faz sucesso com peça na cidade, participa de humorístico no Rio, filma em Minas Gerais, decora texto de novela e jura que não se cansa
O ator paulistano Marcos Caruso, de 66 anos, acredita ter apertado a mão de cerca de 10 000 pessoas na porta do Teatro Faap desde a primeira semana de abril. É assim que começa o monólogo O Escândalo Philippe Dussaert, escrito pelo francês Jacques Mougenot, que pode ser visto na cidade até julho em sessões de quinta a domingo.
O espetáculo, lançado no Rio de Janeiro em setembro de 2016, passou também por outras sete cidades brasileiras e seis portuguesas, totalizando 100 000 espectadores, em sua maioria devidamente cumprimentados. “Custei a acreditar que esse texto teria no Brasil aceitação semelhante à alcançada em Paris. Afinal, os franceses vivem em um museu a céu aberto e são acostumados com o universo das artes”, afirma, ainda surpreso diante do êxito.
Em cena, Caruso diverte a plateia ao narrar a história de um artista plástico celebrizado depois de uma exposição montada numa galeria que, em suas paredes brancas, não exibia absolutamente nada. “Eu quis falar sobre essa loucura dos nossos tempos, em que o nada vira alguma coisa e passa a valer uma fortuna”, declara o intérprete, que faturou até agora nada menos que seis prêmios pela performance.
O Escândalo Philippe Dussaert coroa o apogeu incomum na carreira de um veterano. Caruso subiu ao palco pela primeira vez 45 anos atrás, ganhou projeção em comédias populares, como Porca Miséria e Sua Excelência, o Candidato, e viu a carteira cheia de dinheiro ao escrever o arrasa-quarteirão Trair e Coçar… É Só Começar. A peça, que se mantém em cartaz na cidade, no Teatro Fernando Torres, arranca gargalhadas há mais de trinta anos com piadas em torno das trapalhadas de uma empregada doméstica.
As participações bissextas do ator na televisão se tornaram frequentes depois da novela Coração de Estudante, a primeira na Rede Globo, em 2002. Tramas marcantes, entre elas Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida e Avenida Brasil, selaram uma virada em sua trajetória. O seu nome aparece entre os mais disputados pelos autores e diretores na hora da escalação de um elenco, tanto para dramas como para comédias. “Eu sou uma pessoa fácil, não recuso trabalho e trato de igual para igual toda a equipe. Então, devem ser essas as minhas qualidades”, afirma o artista, que já decora os primeiros capítulos de O Sétimo Guardião, folhetim de Aguinaldo Silva programado para o horário das 9 a partir de novembro.
Caruso não sossega e ainda grava a quarta temporada do humorístico Escolinha do Professor Raimundo, prevista para ir ao ar em setembro no Canal Viva, na pele do impagável Seu Peru. Também filmou até três semanas atrás boa parte de sua atuação no longa-metragem Arigó nas cidades mineiras de Rio Novo, Congonhas e Tiradentes. “Depois que comecei a fazer terapia, vi que sou assim, ansioso, incapaz de ficar parado ou escolher o caminho mais fácil, e entendi que, para mim, isso é bom”, declara.
A busca por uma psicóloga foi sugestão de uma de suas ex-mulheres, a bailarina Dani Calicchio, logo após a separação, há dez anos. “Eu sempre ouvi os conselhos que elas me deram”, brinca o ator, referindo- se inclusive à atriz Jussara Freire, mãe de seus dois filhos, Mari e Caetano, e à sonoplasta Aline Meyer.
Agora um solteiro “quase” convicto, o ator se divide entre seu apartamento em Higienópolis e outro mantido no Leblon, no Rio de Janeiro, onde ele fica mais perto da Rede Globo. Mari e Caetano, por razões profissionais, trocaram São Paulo pela capital fluminense, e as múltiplas atividades de Caruso por lá facilitam a convivência com os três netos. “Ainda arrumo tempo para praticar esportes no Clube Pinheiros e mantenho meus exames médicos em dia. Afinal, na minha idade isso é fundamental”, ironiza, mostrando o envelope do hospital. “Sei que é clichê, mas quero morrer em um set de gravação ou no palco, de preferência no palco, e, para continuar trabalhando até lá, é preciso que eu esteja bem e que não me sinta cansado.”