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Maior navio a fazer um cruzeiro no país chega para temporada 2012/2013

O MSC tem 333,3 metros de comprimento, dezoito andares e capacidade para receber 4.363 pessoas. Entre seus luxos, escadas forradas por cristais Swarovski 

Por Adriana Setti
Atualizado em 14 Maio 2024, 14h44 - Publicado em 1 nov 2012, 18h22
MSC Fantasia - CAPA Ed. 45 - A equipe de mordomos com Thierry à frente
MSC Fantasia - CAPA Ed. 45 - A equipe de mordomos com Thierry à frente (Renata Giorgi/)
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De fraque e luvas brancas, Thierry, de 41 anos, modera sempre o volume de sua voz grave e sorri com parcimônia, franzindo as extremidades de seus olhos puxados. Nascido em Madagascar (e batizado sem sobrenome), na África, ele representa uma categoria profissional em via de extinção: a dos mordomos. Formado pela International Butler Academy, escola holandesa que tem em sua carteira de clientes hotéis como o suntuoso Burj Al Arab, em Dubai, ele é o responsável pela equipe de vinte mordomos do MSC Yacht Club, a primeira classe do navio MSC Fantasia, a grande novidade para a próxima temporada de cruzeiros no Brasil. Entre 28 de novembro e 5 de março, os sapatos lustrados de Thierry deverão subir e descer incansavelmente os dezesseis degraus que, cravejados de 800 cristais Swarovski em tom âmbar, separam a recepção do MSC Yacht Club de suas 71 cabines. “Minha função é antecipar os desejos dos passageiros”, afirmou ele durante uma viagem recente entre Espanha e Itália acompanhada pela reportagem de VEJA SÃO PAULO. Quando o transatlântico circular entre os portos de Santos, Ilhéus, Ilhabela, Ilha Grande, Búzios, Rio de Janeiro e Salvador nas próximas semanas, caberá a esse profissional cuidar dos caprichos dos hóspedes, 24 horas por dia. Desarrumar as malas, entregar pizza de madrugada ou agendar uma massagem no spa? É só estalar os dedos. “Oferecer um serviço de alto nível é nossa estratégia para resgatar o glamour de outros tempos”, diz Rodrigo Ferreira Freire, um dos diretores do transatlântico.

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Com 1.637 cabines e capacidade para receber 4.363 hóspedes, o MSC Fantasia será o maior navio de passageiros de todos os tempos a circular pelo nosso litoral em uma temporada completa. Com 333,3 metros de comprimento, 66,8 metros de altura e dezoito andares, o barco demorou três anos para ser construído e, inaugurado em 2008, custou US$ 648 milhões. Para empurrarem suas 138.000 toneladas a uma velocidade máxima de 42 quilômetros por hora, são necessárias duas hélices de propulsão que pesam 17,4 toneladas e medem 6 metros de diâmetro cada uma. Na passagem desse colosso pelo Brasil na temporada 2012/2013, as viagens custam a partir de R$ 788,00* por pessoa nas acomodações mais simples (todas as refeições inclusas, menos bebidas) e podem chegar a R$ 10.520,00* nas cabines top, com 53 metros quadrados e comodidades como menu de travesseiros, banheira e closet. O preço dá direito a serviço de mordomo 24 horas, jantares no melhor restaurante do navio (com vinhos para harmonizar) e acesso a piscina exclusiva. Serão dezoito saídas em toda a temporada, e algumas já estão completamente lotadas. Há desde percursos com duração de três noites (saindo do Porto de Santos e passando por Angra dos Reis e Ilhabela) até trajetos de oito noites (incluindo Búzios, Salvador e Rio de Janeiro).

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A vinda do gigante é reflexo do bom momento vivido pela indústria de cruzeiros no Brasil. Desde quando as primeiras grandes companhias do setor começaram a trazer suas maiores embarcações para cá, a partir de 2000, o país vem evoluindo rápido na área e hoje ocupa a quinta colocação no ranking dos mercados mais importantes do mundo. Segundo a Associação Internacional das Operadoras de Cruzeiros (da sigla em inglês Clia), só perdemos hoje para os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha e a Itália. No último verão, cerca de 800.000 passageiros foram transportados por dezessete transatlânticos ao longo de sete meses, um recorde histórico. A partir do fim deste mês, os quinze navios que singrarão as águas brasileiras na temporada 2012/2013 já começarão a aportar em nossa costa — onze deles terão como base o Porto de Santos, que deve receber 413.000 cruzeiristas em um total de 192 viagens que serão realizadas em cinco meses. Sozinho, o Fantasia será o responsável pelo embarque de quase 78.500 pessoas, em caso de lotação máxima. “Decidimos prestigiar o público nacional com o que temos de melhor em termos de modernidade, tecnologia e sofisticação”, diz Adrian Ursilli, diretor comercial e de marketing da MSC Cruzeiros, empresa italiana que é a proprietária do Fantasia.

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No átrio principal, a sofisticação à qual ele se refere é materializada em um par de escadas adornadas com cristais Swarovski (com cada degrau avaliado em US$ 6.500,00), que faz jogo com um piano transparente e um festival de peças douradas e reluzentes. O conjunto é a comissão de frente do navio, que desconcerta os hóspedes já no embarque. Diante do bombardeio brilhante dos quinze tipos de mármore utilizados na decoração, os demais ambientes podem até parecer recatados. “As principais características desse navio são a elegância e a sobriedade”, afirma a juíza aposentada catarinense Teresinha Salete Adamshuk, de 62 anos, com a autoridade de quem tem 28 cruzeiros com as maiores armadoras do planeta no currículo, incluindo quatro travessias oceânicas. Em outubro, ela passeou no Fantasia num trajeto entre Espanha, França e Tunísia.

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Nas cabines, tapete liso, cabeceira, sofá e colcha discretamente estampada fazem coro em tons de bordô. Móveis de madeira escura, espelhos de linhas retas e dois quadros abstratos se encarregam de aquecer o ambiente. Dentro do Yacht Club, os banheiros ganham piso de mármore azul e o armário é substituído por um closet. Na temporada prestes a começar, o navio será o recordista em cabines com varanda no Brasil: 75% de suas acomodações têm espaço externo, enquanto 18% delas são internas (os restantes 7% possuem janela). A diferença de preço de uma para outra — cerca de US$ 150,00 por pessoa para um roteiro de três noites — se converte em mordomias como ter um camarote particular debruçado sobre a imensidão azul, onde o dia pode começar com um café da manhã servido com o barulho do mar.

Porta afora, há 27.000 metros quadrados a ser explorados. O espaço inclui um teatro para 1.603 pessoas, cinco restaurantes, a réplica de uma tradicional piazza italiana (com direito a céu “estrelado”), cassino de 1.000 metros quadrados, academia e discoteca, além de bares e lojas duty-free onde é possível comprar relógios, perfumes, roupas, chocolates e eletrônicos. A ala infanto-juvenil ainda tem simulador de Fórmula 1, cinema 4D, tobogã e minidiscoteca. Na área externa, doze banheiras de hidromassagem e quatro piscinas completam o arsenal de lazer — uma destas vem equipada com teto de vidro retrátil e é ornamentada com mosaicos feitos por artesãos da região de Sorrento, na Costa Amalfitana; outra tem adereços que remetem ao Parc Güell, de Barcelona.

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MSC Fantasia - CAPA Ed. 45 - A passageira catarinense Teresinha Adamshuk
MSC Fantasia – CAPA Ed. 45 – A passageira catarinense Teresinha Adamshuk ()

Com acesso direto ao spa balinês de 1.615 metros quadrados, recheado com produtos da marca japonesa Shu Uemura, a ala Yacht Club soma uma piscina ao conjunto, cercada de espreguiçadeiras bonitas e mais espaçadas. O local, restrito aos hóspedes da primeira classe, também abriga um restaurante cujo menu ostenta a assinatura do chef italiano Mauro Uliassi, premiado com duas estrelas no Guia Michelin pela casa que carrega seu sobrenome em Senigallia, na região de Ancona. Especializado em cozinha mediterrânea com toques franceses, o L’Étoile tem um ambiente à meia-luz e atmosfera tranquila. Ainda que as receitas levem ingredientes mais nobres, como camarão e foie gras, e que os vinhos (incluídos) harmonizem com os pratos, o conjunto da obra gastronômica não é muito superior ao dos outros dois restaurantes à la carte do navio, onde se come corretamente, com direito a desfile de garçons ao som de Volare na hora da sobremesa (que, detalhe, vem enfeitada com fogos de artifício).

 

MSC Fantasia - CAPA Ed. 45 - Um dos quartos externos com varanda: tons fortes na decoração
MSC Fantasia – CAPA Ed. 45 – Um dos quartos externos com varanda: tons fortes na decoração ()
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Esse setor de alimentação, aliás, passou a ser o centro das preocupações das companhias e dos setores de vigilância sanitária de vários países depois do surgimento de alguns casos de intoxicação alimentar. Num dos episódios mais famosos ocorridos na costa brasileira, em 2009, cerca de 400 passageiros passaram mal a bordo do navio MSC Sinfonia. Mas o que de início se suspeitou ser intoxicação alimentar acabou sendo diagnosticado como norovírus pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo um relatório recente do órgão, problemas do tipo estão diminuindo significativamente. Enquanto a temporada 2009/2010 registrou 4 441 casos de contaminação a bordo, no verão seguinte os números caíram para 792 (uma redução de 82%). O Fantasia está entre as embarcações que adotam cuidados rigorosos. Há em terra um braço brasileiro da empresa responsável apenas pela pesquisa, seleção e compra dos mantimentos, que precisam obedecer aos mais rígidos certificados de qualidade. A bordo, entre 25% e 30% dos tripulantes cuidam apenas do setor de alimentos e bebidas (no caso do Fantasia, cerca de 400 funcionários). “Além do uso de bactericidas e desinfetantes específicos, limpeza diária das câmaras refrigeradas e cuidados de higiene pessoal dos funcionários, há estações separadas para cada grupo de produtos, dos crus aos vegetais e carnes”, explica o diretor Adrian Ursilli. “Nossa maior preocupação é oferecer a máxima segurança.”

 

MSC Fantasia - CAPA Ed. 45 - O Manhattan Bar: visual moderninho
MSC Fantasia – CAPA Ed. 45 – O Manhattan Bar: visual moderninho ()

Mesmo operando com sua capacidade máxima, tendo milhares de hóspedes e tripulantes a bordo, a sensação no interior do navio é que há espaço de sobra. Fora dos horários de pico dos elevadores centrais (no começo do dia, quando muitos passageiros saem em excursão, por exemplo) e da hora do almoço no restaurante principal, não há grandes congestionamentos. Enquanto roda pelo mundo, o MSC Fantasia é uma verdadeira torre de Babel: dos números do bingo às apresentações dos espetáculos no teatro, tudo costuma ser dito em cinco idiomas. Nas viagens pelo nosso litoral, os passageiros não precisarão passar por essa experiência poliglota. Como se espera que 95% dos hóspedes sejam brasileiros, o português reinará soberano. Além do idioma e dos elementares arroz e feijão no bufê, outras questões deverão adaptar-se ao gosto dos fregueses. “No Brasil, o público aproveita a noite até muito tarde e de manhã o barco costuma estar às moscas”, conta o italiano Antonio Castellano, diretor responsável pelo sistema de hotelaria a bordo e prestes a encarar sua sexta temporada na América do Sul. “Isso faz com que tenhamos de modificar todo o nosso cronograma de limpeza nas cabines e os horários da equipe.” Segundo ele, a faixa etária nos cruzeiros nacionais costuma ser mais jovem do que as viagens em outras regiões do mundo.

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Os navios que passam por aqui chegam a registrar um consumo 50% superior nas lojas em relação ao que se gasta em cruzeiros por outros países. Para dar conta do recado, o Fantasia será reforçado com um novo estabelecimento de bolsas de grife, que oferecerá marcas como Armani Jeans, Moschino e Lacoste. No afã de satisfazer o espírito boêmio da turma, haverá DJ na área das piscinas e um dos espetáculos em cartaz, de música clássica, será substituído por algo mais dançante, ainda a ser divulgado. Coroando o processo de ajustes culturais, a apresentadora Xuxa tomará o lugar da atriz Sophia Loren no papel de madrinha da embarcação.

*Preços em reais convertidos dos originais em dólares com o câmbio de 30/10/2012

 

  • NA BASE DO JEITINHO E DO IMPROVISO

O PORTO DE SANTOS É UM DOS PIORES E MAIS CAROS EMBARCADOUROS DO MUNDO PARA A OPERAÇÃO DE NAVIOS DE CRUZEIRO


MSC Fantasia - CAPA Ed. 45 - Porto de Santos: caro e desorganizado
MSC Fantasia – CAPA Ed. 45 – Porto de Santos: caro e desorganizado ()

Antes de embarcarem nos modernos cruzeiros, os turistas pagam o pedágio de passar pelo calvário do Porto de Santos. No local, antigos armazéns e frigoríficos recauchutados foram transformados em terminal de passageiros na última década. Detalhe: apenas um único navio consegue atracar exatamente em frente a ele. Os demais se encaixam, como podem, entre os cargueiros. As pessoas, acomodadas em ônibus, disputam espaço com caminhões de carga e guindastes para chegar aos transatlânticos (em 2010, bateu-se o recorde de 1h20 de deslocamento em um percurso de meros 2 quilômetros). Até o ano passado, quando um trem de carga chegava ao porto, todo o acesso era interrompido subitamente. O mais impressionante é que, a despeito das condições precárias, Santos é um dos portos mais caros do planeta. “Enquanto o custo de operação é de pouco mais de US$ 5 000,00 em Barcelona, por exemplo, um porto impecável, aqui ele é de US$ 35 000,00 para um navio do mesmo porte”, diz Márcia Leite, coordenadora do grupo de infraestrutura da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar). “Outro exemplo: as taxas de embarque na Europa giram em torno de US$ 15,00. Aqui, custam US$ 80,00.” Resta, no entanto, uma esperança. Enquanto abre ruas e perimetrais para tentar remediar o problema a passos lentos, o porto deu início às obras recém-aprovadas de alinhamento do cais, que, quando concluídas (em 26 meses e ao custo de R$ 267 milhões), permitirão que seis navios atraquem em frente ao terminal.

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