Madrid fora do óbvio: um roteiro completo para os amantes de arte
Capital espanhola reúne galerias, museus e feiras de arte
O valor artístico e cultural de Madri é algo reconhecido e comprovado por quem tem o privilégio de flanar pela capital da Espanha, deixando-se levar pelos pontos turísticos obrigatórios — como a Porta de Alcalá, na Praça da Independência — ou enveredando pelas ruas do centro, sem destino certo.
Mas, para os amantes da arte, que já fizeram e refizeram o circuito do Paseo del Arte — região que, em pouco mais de 1 quilômetro, reúne os museus do Prado, Thyssen-Bornemisza e Reina Sofía —, há outras excelentes opções de passeio. Esse é o caso do CentroCentro, antiga sede dos correios da Espanha, que fica ali perto, no Palácio das Cibeles. Ou da Real Academia de Belas Artes de San Fernando, com o seu imperdível Novo Gabinete Goya. E, ainda, da Galeria das Coleções Reais, parte do complexo do Palácio Real, que nem de longe acumula filas de turistas aficionados por história (e que não resistem a uma selfie com um quadro famoso).
Visitar galerias ou show roons de design também alimenta a alma e diverte o olhar de quem gosta da atmosfera artística. Por último, quem quiser um contato mais próximo com obras e artistas contemporâneos, pode se programar para a feira de arte ARCOmadrid, que apresentará a sua 45ª edição de 4 a 8 de março de 2026, no centro de exposições Ifema. O evento é uma das principais plataformas de divulgação do mercado da criação contemporânea internacional e sua próxima edição terá como tema uma reflexão sobre o futuro do modelo das feiras de arte.
CentroCentro
Parte do Paseo del Arte — que reúne os célebres museus do Prado, Thyssen-Bornemisza e Reina Sofía —, o CentroCentro está localizado no Palácio de Cibeles, na praça de mesmo nome, no bairro de Salamanca. Hoje sede da prefeitura de Madri e centro cultural, o espaço não costuma receber o mesmo prestígio que os outros prédios famosos dos arredores.
Construído em 1909 para sediar a empresa de correios da Espanha, o lugar merece a visita por vários motivos, a começar pela arquitetura, que lembra a de uma catedral, projetada por Antonio Palacios e Joaquín Otamendi. Com cerca de 8 000 metros quadrados de área para exibições (distribuída por quatro andares), costuma receber projetos de arte contemporânea e de cultura urbana — além de oferecer espaço para leitura e estudo.
Mas se nada disso convencer, a visita já vale pelo Mirador Madrid, localizado no terraço do prédio (a 70 metros de altura), de onde se tem uma belíssima vista do centro da cidade. Ou pela Galeria de Cristal (foto), espaço multifuncional com 2 800 metros quadrados, coberto por uma abóbada envidraçada.
CentroCentro. Plaza Cibeles, 1. @centrocentrocibeles.
Rosewood Villa Magna
Flor y Nata
Patisserie (Divulgação/Divulgação)
Um hotel para quem aprecia arte, design e alta gastronomia. Assim é o Rosewood Villa Magna, aberto em outubro de 2021 após uma reforma no antigo hotel que funcionava no mesmo local, no bairro de Salamanca. Sob a bandeira ultraluxuosa da rede Rosewood Hotels & Resorts, o lugar foi reformulado para ser um símbolo de arquitetura e paisagismo, além de acervo de arte contemporânea.
Originalmente, a área era ocupada pelo Palácio de Anglada, um edifício de estilo eclético do final do século XIX, que foi derrubado em meados de 1960 para dar lugar ao extinto Hotel Villa Magna. A autoria do projeto do Rosewood é do arquiteto espanhol Ramón de Arana e o paisagismo, de Gregorio Marañón.
Mas é por dentro que o lugar mostra sofisticação, com um design de interiores criado pelo escritório australiano Bar Studio. São 154 quartos decorados com um estilo que mistura o life style madrilenho a traços contemporâneos. Em seus diferentes ambientes, o hotel reúne uma extensa coleção de arte, selecionada pelo escritório inglês ArtLink.
Para o lobby, por exemplo, a artista Jacky Puzey criou um quadro feito de tecido que “funde o sentido de grandeza e drama da pintura e da moda da corte espanhola”, nas palavras dos diretores. Luxo puro.
Na parte gastronômica, destacam-se a confeitaria Flor y Nata, do chef pâtissier Emanuel Alvés — aberta 24 horas em um ambiente aconchegante, com uma grande lareira —, e o Amós, do premiado chef Jesús Sánchez. O restaurante é uma homenagem à terra, aos seus produtos, à tradição e ao sabor, inspirado na gastronomia da Cantábria, região na costa norte da Espanha.
Rosewood Villa Magna. Paseo de la Castellana, 22. Diárias a partir de R$ 8 400. @rosewoodvillamagna.
Gabinete Goya
Entusiastas da obra do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828) não podem deixar de visitar a Real Academia de Belas Artes de San Fernando, que abriga o Museu de Calcografia Nacional e o Novo Gabinete Goya — espaço de exposição permanente com 228 placas de cobre utilizadas pelo artista espanhol para a gravação de seus desenhos.
Expostas pela primeira vez em seu aspecto original, essas matrizes foram restauradas para readquirirem o tom e o brilho do cobre, transformando-se de ferramentas de trabalho em obras de arte. “Possuímos o maior acervo de matrizes e estampas da arte gráfica da Espanha”, explica Javier Blas Benito, subdelegado do Museu de Calcografia.
Inaugurada em 1752 por Fernando VI, a Real Academia também abriga obras-primas da arte espanhola, italiana e flamenga. No museu encontram-se, atualmente, mais de 1 400 pinturas, 1 300 esculturas e 15 000 desenhos, além de uma coleção de artes decorativas, incluindo tapeçarias, prataria, cerâmica, relógios, móveis e medalhas.
Gabinete Goya. Real Academia de Bellas Artes San Fernando. Calle Alcalá, 13. rabasf.com.
Coleções Reais
Com a visitação bem menos disputada que nos museus mais famosos de Madri, a Galeria das Coleções Reais, parte do complexo do Palácio Real de Madri, oferece um belo percurso pela história da monarquia espanhola e do gosto artístico de cada um dos seus protagonistas, desde a Idade Média até a época de Juan Carlos I.
Com o início de sua construção interrompido pela Guerra Civil, em 1936, a galeria foi finalmente concluída em 2015. E, de cara, ganhou prêmios de arquitetura, como o concedido pelo Colégio Oficial de Arquitetos de Madri (COAM), em 2016. São seis pisos e mais de 4 000 metros quadrados de exposições, em sua maioria permanentes. Entre elas estão as coleções de tapeçarias e da Real Armaria, que dialogam com obras de El Bosco, Ticiano, El Greco, Ribera, Velázquez e Caravaggio, entre outros.
Galeria das Coleções Reais. Calle de Bailén, 8. @galeriacoleccionesreales.
Opera Gallery
Uma ótima sugestão para quem já desbravou o Paseo del Arte, a unidade madrilenha da Opera Gallery promove diferentes exposições com artistas da arte moderna e contemporânea ao longo do ano. Tudo isso em um discreto endereço no bairro de Salamanca, sem sinal de agitação turística.
Dirigida por Belén Herrera Ottino, a galeria exibe, até 18 de outubro, a mostra “Obels — Rubat: Um Diálogo”. ela reúne as pinturas abstratas do artista francês Julien Rubat e as esculturas em aço do artista holandês Pieter Obels, que parecem desafiar a gravidade. A exposição faz parte do Apertura Madrid Gallery Weekend e propõe um encontro entre duas linguagens visuais distintas — uma baseada em papel e pigmento, e a outra, em aço Corten industrial — que convergem em uma reflexão compartilhada sobre movimento e transformação.
Fundada em Singapura em 1994, a Opera Gallery tem dezesseis unidades ao redor do mundo.
Opera Gallery Madrid. Calle de Serrano, 56. @operagallery.
L.A. Studio
Outra ideia para fugir do turismo massivo em torno dos museus tradicionais, o L.A. Studio é um misto de galeria de arte e estúdio de design de interiores. Aberto em 1999, dedica-se a descobrir peças únicas, atuais e vintage, incluindo criações originais de designers do século XX da Holanda, da Alemanha e dos EUA, mas, principalmente, da França e da Itália. Quase nada tem desenho tradicional ou previsível.
Na seleção de objetos e móveis, que abastecem projetos de decoração e também podem ser alugados para produções culturais, destacam-se peças contemporâneas que caminham entre a arte e o design, sempre com originalidade. Entre os autores estão Paul Smith, Marc Newson, Vittorio Nobili, Charles e Ray Eames e Frank Gehry. Parte dos objetos e dos móveis — com cores fortes e formas surpreendentes — é produzida pelo próprio estúdio, que tem filiais em Ibiza, Marbella e Maiorca.
L.A. Studio. Calle de Castelló, 8. @lastudiointeriorismo.
Publicado em VEJA São Paulo de 3 de outubro de 2025, edição nº2964.
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