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Lucas Paraizo e Luisa Lima: a dupla de sucesso por trás de ‘Os Outros’

O roteirista e a diretora lançam a segunda temporada da série, que promete enredo cheio de suspense, agora em um condomínio de luxo

Por Alice Granato
19 jul 2024, 06h00
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As mentes por trás de Os Outros: Lucas Paraizo e Luisa Lima, sintonia criativa e artística (Camilla Maia/Veja SP)
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Ele escreve, ela dirige. O trabalho a quatro mãos na série Os Outros volta ao ar agora em agosto com a segunda temporada. Premiada pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) como a melhor série de ficção de 2023, original Globoplay, a obra teve um retorno fantástico de público, crítica e audiência.

O roteirista Lucas Paraizo, 44, e a diretora Luisa Lima, 46, são só entusiasmo ao falar do trabalho — o de maior projeção da trajetória profissional dos dois. E olha que ambos vêm de destaques muito grandes, como Sob Pressão (série escrita por Lucas e dirigida por Andrucha Waddington) e Onde Está Meu Coração (dirigida por Luisa e escrita por George Moura e Sergio Goldenberg). Eles se conheceram nos corredores das casas de amigos em comum. E já tinham trabalhado juntos em O Rebu (2014) e Justiça (2016) sem, contudo, ter tanta proximidade, pois não era um trabalho diretamente em conjunto como este. “A gente já se admirava”, destaca Luisa. “Eu encontrava o Lucas e dizia: ‘Olha, dirigi uma cena que você escreveu’”, conta.

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(Camilla Maia/Veja SP)

Até que em 2019, pré-pandemia, Lucas teve o famoso “Green Light” do roteiro de Os Outros, e pensou em Luisa para dirigir. “Eu tinha acabado de sair da reunião de aprovação da série e estava na rua no Jardim Botânico e a vi passar, abri a janela do táxi e gritei na hora: preciso falar com você.” Os próximos capítulos a gente acompanhou no streaming e na TV com o sucesso arrebatador do trabalho da dupla.

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(Camilla Maia/Veja SP)

Nascidos no Rio e formados em jornalismo, com mais de duas décadas de trajetória, os librianos tiveram uma grande integração no trabalho. “É importante a gente achar nossos pares”, destaca a diretora. Lucas gosta do silêncio de sua casa para ler e escrever, e Luisa adora estar em meio ao set. “Somos diferentes nesse lugar”, afirma o roteirista. Ele diz ficar espantado quando visita o set de gravação. “Eu sempre penso como essa zona vai dar certo? Para mim não tem explicação. Olho para o relógio e penso que não será possível. Mas a Luisa transmite confiança. Ela resolve”, afirma.

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(Camilla Maia/Veja SP)

Do outro lado, a diretora revela que sempre gostou do coletivo, desde a escola, quando adorava os trabalhos em grupo. E se surpreende com a escrita do colega e sua força criativa. “O Zé (José Luiz Villamarim, diretor de gênero de dramaturgia da Rede Globo) costuma dizer que o Lucas sofre de incontinência criativa”, revela, divertindo-se. “Eu não tinha nem começado a filmar a primeira temporada e ele me mandou o piloto da segunda, li em quinze minutos. Fiquei alucinada. Tinha o DNA da primeira, mas já em uma nova ambientação.” O roteirista acrescenta. “Luisa não senta no set, está sempre alerta.” Para a diretora, o set é um lugar de atenção permanente. Sentar significaria, em sua visão, perder um pouco do rigor. “Em vários momentos tem de chegar perto do ator, comentar algo com o fotógrafo, falar com o continuísta, olhar o plano de novo de outro jeito. É um trabalho muito físico também. Tem de estar acesa”, acredita.

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Elenco em cena na segunda temporada (Estavam Avellar/Divulgação)

Os dois têm se firmado como grandes talentos de sua geração. Além do prêmio da APCA, Os Outros também foi a série do ano no Domingão com Huck, da TV Globo. Formado em cinema em Cuba (2002-2004; na Escuela de Cinema de Cuba), Lucas tem uma série de filmes e séries premiados no currículo, entre eles Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor, e Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa. Luisa tem na bagagem produções como O Rebu, Justiça, Nada Será como Antes e Onde Nascem os Fortes, e seu primeiro trabalho solo foi Onde Está Meu Coração.

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Na direção de atores, concilia doçura com firmeza. “Eu acredito em respeito. Só sei trabalhar com amizade e, de preferência, com amor, paixão, pessoas que me mobilizem, isso tem a ver com provocação, mas também com reconhecimento, com companheirismo”, diz.

“Venho de uma família muito humanista. Não é porque estou numa situação de liderança que eu possa destratar os outros, ser grosseira. Sou bastante exigente comigo mesma e com quem está perto de mim construindo alguma coisa em comum. Existe firmeza, sim. Posso repetir muitas vezes uma cena. Pedir para o ator ter coragem de fazer aquilo, de explodir mais. Se eu enxerguei que a cena pode ser melhor, não faço concessões. Mas também dou muito abraço. Não tenho problema em demonstrar afeto. Gosto que as pessoas demonstrem também. Com quem não demonstra, eu não tenho muita liga.”

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Luís Lobianco, recém-chegado ao thriller como Seu Durval (Estevam Avellar/Divulgação)
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Eduardo Sterblitch, que brilha nas duas temporadas (Estevam Avellar/Divulgação)

Luisa conta que para tirar emoções dos atores muitas vezes embarca junto no transe. Ela destaca uma cena emblemática da primeira temporada, em que o ator Milhem Cortaz pega uma barra de ferro e quebra a portaria do prédio. “No ensaio ele ficava em um estado explosivo, terrível. E eu começava a falar com ele do mesmo modo. Lembro que fiquei possuída junto. Se eu não entrar nesse transe, não consigo fazer a cena. Eu gosto muito de dirigir ator. De estabelecer essa relação de intimidade, de confiança, de troca mútua”, destaca.

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Luisa Lima e Leticia Colin em ação: parceria em Onde Está Meu Coração (2021), do Globoplay, também como diretora e atriz protagonista (Fabio Rocha/Divulgação)

A atriz Leticia Colin, que já havia trabalhado intensamente com Luisa em Onde Está Meu Coração, será um dos destaques da nova temporada e ressalta a capacidade da diretora de extrair sentimentos dela. “Eu chego a lugares que eu não me reconheço e me surpreendem. Me sinto muito viva, é um ofício de investigação da experiência humana, da vida, da dramaturgia”, afirma. Leticia viverá uma religiosa na série, que na sua opinião é um thriller.

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Leticia Colin e Sergio Guizé, casal novo na trama (Estevam Avellar/Divulgação)

“A temporada está incendiária. Muito intensa, muito vibrante, provocadora e desesperadora. Nos vira do avesso”, avisa. “É uma experiência de ser levada para entrar em uma jornada de transição bela e violenta dos personagens, extremamente humana e enigmática. Fiquei mistificada pela segunda temporada. Ela teve em mim um efeito de feitiço, e espero que as pessoas sintam isso também, e tenho certeza que a direção da Luisa e as reviravoltas que o Lucas escreveu vão fazer esse feitiço acontecer.”

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Para Adriana Esteves, que brilhou na primeira temporada e promete o mesmo para a segunda, Luisa e Lucas são dois criadores que se completam. “Fazem uma excelente dupla, com sintonia ímpar. Pensam nossa arte audiovisual e dramatúrgica de formas muito parecidas e complementares. São correlatos. Trabalhar com eles juntos me faz muito bem. Me sinto correlata a eles também.”

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Gravação de ‘Onde Está Meu Coração’ (Fabio Rocha/Divulgação)

Mas por que Os Outros faz tanto sucesso? A série trata de intolerância. “Os outros somos todos nós. A série afeta, provoca uma relação passional com o público. As pessoas se identificam, reagem, se incomodam… É uma parceria feliz de um roteiro inspirado e uma direção corajosa”, afirma José Luiz Villamarim.

Luisa destaca a “lógica do condomínio, impulsionada a partir dos anos 70”, de que o perigo está do lado de fora. A ideia da intolerância, de que todo mundo acha que tem razão, em um mundo colorido e perfeito na aparência, mas corroído por dentro, permeia a série, que tem como fortes referências os filmes Relatos Selvagens e Parasita. “Usamos um microcosmos para falar de Brasil. É político e entretenimento ao mesmo tempo, sem ser didático nem chato, mas, sim, um tiro de canhão”, define Lucas.

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Segundo eles, apesar da popularidade, muita gente acha difícil de ver, pela violência. O filho de Luisa, Joaquim, de 12 anos, fala para ela “mamãe, você vai fazer daquele jeito que não mostra”, ela conta. Ele se refere ao uso de violência não explícita, que só fica a indicação do que vai acontecer. “Queremos mostrar a violência sem banalizar”, afirma. “Quem escreve essas coisas terríveis?”, brinca Lucas.

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(Moana Marques e Miolo Filmes/Divulgação)
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Equipe reunida: em cerimônia de premiação da APCA, que consagrou Os Outros como a melhor série de ficção em 2023, e em entrevista ao podcast da série, conduzido por Gabriela Prioli, no mesmo ano (Divulgação/Divulgação)

“Estamos mostrando o inferno da existência humana, mas também a capacidade infinita de regeneração. Dentro dos conflitos plantamos os gestos”, diz a diretora. “É um grito nosso também, para afirmar o amor, o respeito e a empatia.” Lucas complementa. “Queremos parar com essa polarização. Você não me interessa, mas vive na mesma sociedade. Tem pessoas com quem discordamos, mas temos afeto. Não somos uma coisa só. Nenhum personagem você consegue condenar totalmente. Em algum lugar tem uma razão. Tem complexidade e ambivalência”, diz. Os dois contaram ter perdido o sono durante o processo todo da série. Mas acreditam ter feito tudo que podiam e sentem essa “inteireza”. “Realizamos”, dizem juntos. Spoiler: a terceira temporada já está sendo escrita e se passará no campo, em meio à natureza.

*Colaboraram Mattheus Goto e Laura Pereira Lima

Publicado em VEJA São Paulo de 19 de julho de 2024, edição nº 2902

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