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Leda Catunda: “No meu tempo, os latinos eram muito excluídos”

Em cartaz com sua maior retrospectiva fora do Brasil, paulistana fala do momento profissional, da Geração 80 e de sua visão da atualidade

Por Ana Mércia Brandão
17 out 2025, 08h00
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Leda em seu ateliê: ao fundo, obras em produção (Leo Martins/Veja SP)
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Leda Catunda, 64, acaba de voltar de oito dias nos Emirados Árabes Unidos, onde inaugurou sua maior retrospectiva fora do Brasil. I Like to Like What Others Are Liking (Gosto de gostar do que os outros estão gostando, em livre tradução) ocupa dois andares da Sharjah Art Foundation, uma referência no campo da arte contemporânea, reunindo mais de sessenta obras realizadas desde os anos 1980.

O convite veio pessoalmente da curadora Hoor Al- Qasimi, presidente e diretora da fundação e da Bienal de Sharjah — em 2026, assinará a curadoria da 25ª Bienal de Sydney. Entre as obras históricas em exibição está Barriga (1993), apresentada em duas edições da Bienal de São Paulo, e hoje parte da coleção permanente do Masp. Outras obras vieram de locais como Coreia do Sul e EUA.

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Leda: “Os artistas nascem dos lugares alternativos” (Leo Martins/Veja SP)

A artista, símbolo da Geração 80, é conhecida pela apropriação de imagens em suas obras e por transformar elementos têxteis em tela, borrando os limites entre pintura e escultura. Ela recebeu a Vejinha na segunda (13) em seu ateliê de dois pisos no Morumbi, onde trabalha em uma nova série de obras, utilizando plástico. No dia seguinte, partiu para montar sua primeira individual em Paris. Favorita, que abre no dia 20, na Galeria Emanuela Campoli, reunirá trabalhos recentes. Confira a entrevista.

“Você tem que confiar no seu taco, porque não tem como garantir qual será a recepção da sua obra na sociedade”

Como está se sentindo com a mostra?

É uma coisa que você não espera, ir para Oriente Médio. Quando a Hoor falou que queria fazer uma retrospectiva, não acreditei. Tipo, aqui no Brasil eu estou moscando, então? Ela veio no ateliê e tirou foto de tudo, levou todos os livros e fez uma primeira seleção de 100 obras. Algumas estavam muito longe e tinha pouco tempo, eu achava que não ia dar certo. Ainda mandei um e-mail para ela: “Olha, você não quer que a gente quebre seu galho e aí você pega só obras aqui de São Paulo e do Rio?”. “Não, Leda.” Resultado: pegou uma de Detroit, uma de Cleveland, outras de Miami, Londres, Seul, até do interior do Rio Grande do Sul.

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O que essa exposição representa?

No Masp, eu conheço todo mundo, do porteiro ao Adriano Pedrosa (curador). Mas em Sharjah, pessoas que eu não conhecia vinham me cumprimentar. Isso é uma coisa que não tinha antes. No meu tempo, você tinha que ser americano ou europeu. Os latinos eram muito excluídos. Não tinha esse espaço, muito menos para povos originários e pessoas pretas. É uma expansão do horizonte. Voltei de lá com uma visão muito nova, também pela experiência de ter visto obras de tempos tão diferentes, misturadas e funcionando em diálogo.

Tivemos muitas exposições sobre a Geração 80 neste ano e em 2024. Por que é importante falar sobre esse movimento?

O primeiro ano do fim da ditadura foi 1984. E gerou uma fantasia nas pessoas de que éramos superlivres e que íamos fazer as coisas mais malucas. Esse clima era incrivelmente positivo. Era quase que um compromisso: agora que tem espaço, o que é que você vai fazer? Foi muito estimulante para minha geração. Esse é o grande marco da Geração 80, além de outra coisa que acho superimportante: ter se espalhado no território nacional.

A que atribui ter se mantido relevante na arte brasileira nesses quarenta anos?

Claro que tem um esforço, eu procurei um lugar que fosse um pouco diferenciado. Os curadores, quando veem um trabalho meio esquisito, que tem um rabo que cai até o chão, falam: “É da Leda”. Mas também é sorte de as pessoas terem gostado, de eu ter encontrado identificação e novos olhares sobre a minha obra. Ninguém gostou da Barriga quando ela estava na Bienal em 93. Aí a Sofia Borges (artista e curadora) a colocou na Bienal de 2018 e todo mundo achou diferentão e o telefone tocou. O Masp quis ter a obra e agora ela está em Sharjah. Ela ganhou relevância. Mas você tem que confiar no seu taco, porque não há como garantir qual será a recepção da obra na sociedade.

A arte brasileira precisa de uma nova Geração 80?

Diria que não, porque não é interessante repetir, mas sempre precisa de mais espaço. Hoje, estamos no melhor estágio em que já estivemos, com o Masp totalmente arrumado, mais o prédio novo, mais a Pinacoteca funcionando em três prédios… nunca foi tão bom e nunca empregou tanta gente. Mas, para pessoas mais novas, que estão se formando nas faculdades, falta espaço. Espaços públicos. Galeria não, toda semana nasce uma, com artistas de todos os tipos, para todos os públicos. Na última SP-Arte, isso era claro, não eram só as mesmas.

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Você considera positivo esse fortalecimento das galerias?

Considero. Para ter tanta galeria, você tem que ter bastante gente interessada, porque elas estão pagando água, luz e IPTU. Esse é um movimento mundial, de uma valorização para além do que está no museu. O que permite ter sucessos comerciais e alternativos. Eu tenho uma filha que mora perto da Praça da República e cada vez que vou lá vejo espaços expositivos novos, em coberturas, em porões. É bacana. São desses lugares que nascem as ideias e os artistas.

Como é seu diálogo com a nova geração de artistas?

Ela traz a contribuição do agora. Minha filha mais nova me mostrou k-pop na pandemia e também games, joguei Zelda inteiro e Bloodborne. São novas realidades para as quais você não deve se fechar. E essas realidades já entraram na arte. No último Panorama (da Arte Brasileira), no MAC, tinha dois artistas trabalhando com visual de game; não é pouca coisa e é superinteressante, com resultados inesperados.

Você sempre começa trabalhos novos pensando no material?

Varia, às vezes tem a ver com o assunto. Por exemplo, na pandemia, fiquei aqui prisioneira e falei: vou entupir as obras de pano e fazer um trabalho tão horroroso que nunca ninguém vai gostar. E compraram. Não existe mais feio ou bonito. Existe uma coisa contextualizada.

Quais são seus planos para o futuro?

Tenho um projeto aqui para São Paulo em 2027, a princípio com obras feitas com plástico, que é no que estou trabalhando agora, na Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel. E vou fazer em Nova York também, na Bortolami, uma galeria bem legal. Fico pensando: “Ah, putz, o que é que vou mostrar para os americanos?”.

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Publicado em VEJA São Paulo de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966.

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