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Ismael Ivo, diretor do Balé da Cidade, enche Municipal com pegada pop

Primeiro negro a dirigir o corpo estável, e criado na Vila Ema, ele tem uma extensa carreira internacional

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 16h01 - Publicado em 13 jul 2018, 06h00

Há pouco mais de um ano e meio na direção do Balé da Cidade, o coreógrafo Ismael Ivo investe em referências pop para as produções da companhia municipal de dança. Na atual temporada, que vai até este domingo (15), exibe quatro montagens, duas delas inspiradas na obra do cantor David Bowie. No programa anterior, apresentado em março, a peça Um Jeito de Corpo incluía músicas de Caetano Veloso na trilha sonora.

Deu certo: foram nove sessões quase lotadas, com 11 000 espectadores no total. Em seu espetáculo de estreia no grupo, Risco, no início de 2017, o diretor abordou a arte de rua. Enquanto o então prefeito João Doria declarava guerra aos grafites, ele os saudava. Também envolve a obra sua meta de aproximar os trabalhos de discussões relacionadas aos paulistanos. “Acredito em um ‘balé-cidade’, conectado com o que acontece a seu redor”, afirma Ivo.

Com extensa carreira internacional, o paulistano nascido na Zona Leste tem mostrado bons resultados em sua gestão. Quando ele chegou, a instituição passava por mudanças burocráticas, como a contratação dos bailarinos pelo regime da CLT (antes, havia contratos temporários). Assim como todo o Teatro Municipal, o Balé da Cidade sofria ainda com o rombo deixado pela gestão Haddad. Neste ano, com as celebrações das cinco décadas da companhia, a previsão do orçamento apenas para as temporadas do corpo subiu significativamente: saltou de 1,1 milhão para 2,7 milhões de reais.

Ivo instaurou aulas de meditação e ioga e acompanhou a mudança do elenco da Bela Vista, em abril, para a nova sede, um anexo da Praça das Artes, no centro, ainda sem data de inauguração oficial.

Pioneiro ao se tornar o primeiro negro a ocupar a liderança do grupo, pôs o tema do racismo em pauta em discussões com a trupe e em apresentações no Mês da Consciência Negra de 2017. “No balé clássico, sabemos que não haverá um príncipe negro na peça. Por isso, precisamos aqui explorar outros papéis”, diz.

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A peça Risco: enquanto Doria punia os grafites pela cidade, Ivo os exaltava no palco (Arthur Costa/Veja SP)

Criado na Vila Ema pela mãe, a empregada doméstica Leni, falecida no ano passado, Ivo acredita que ela lhe proporcionou a base para encarar os desafios. “Ela me dizia que eu devia ser muito educado, mas, quando sentisse que era a minha vez, não deveria pedir licença, mas ocupar o meu lugar”, lembra.

O diretor descobriu na dança um espaço de expressão e subsistência na época de adolescente. Conseguiu bolsas de estudos em escolas como a de Ruth Rachou, fera da dança moderna. Foi integrante do Teatro de Dança Galpão e, junto de Klauss Vianna, ficou por um ano no grupo experimental do Teatro Municipal. Em 1983, ao apresentar um solo na Bahia, caiu nas graças de Alvin Ailey, nome importante da dança moderna e paladino das questões raciais.

Mudou-se para o exterior e criou em Viena, em 1984, o ImPulsTanz, referência de tendências da dança contemporânea. Trabalhou com Pina Bausch, gigante que influenciou artistas com suas performances quase teatrais. Foi diretor da Bienal de Veneza e o primeiro negro e estrangeiro a dirigir o Teatro Nacional Alemão, em Weimar. Em sua lista de contatos, figuram personalidades do naipe do coreógrafo americano William Forsythe e da performer sérvia Marina Abramovic.

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Um Jeito de Corpo: música de Caetano Veloso (Rodrigo Fonseca/Veja SP)

“Sua arte foi validada em vários lugares do mundo e, ao vir para cá, ele coloca o balé em uma rede muito potente. Torna-se um mediador”, explica Cássia Navas, professora do Instituto de Artes da Unicamp. “Ele mantém a tradição de trazer criações de nomes internacionais consolidados, mas abre chances para o novo.”

Após o convite de Doria e do secretário municipal da Cultura, André Sturm, Ivo se mudou de Berlim para um apartamento próximo ao teatro. Solteiro, costuma acordar às 7 da manhã para fazer alongamento e ioga e assistir a telejornais, nos quais se diz viciado. Sempre elegante do alto de seu 1,80 metro, não dispensa blazers descolados e bem cortados para ir ao trabalho, a pé. “É nesses momentos que consigo pensar nos projetos e nas coreografias.”

Para a próxima temporada, prepara A Sagração da Primavera, que estreia em setembro, com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal. Também faz planos ousados para abalar o Mês da Consciência Negra, em novembro. “Quero convidar Michelle Obama ou a Oprah para discutir o racismo aqui”, sonha.

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